
Fico sempre fascinado quando vejo alguém a pescar e tenho sempre vontade de ficar no seu lugar.
Olho para a pesca como um ritual que exige preparação. Não falo do material. Falo da atitude, de pegar nas coisas e ir embora para junto da água. Percebo quem faça da pesca uma obsessão, procurando a cana de fibra com mais elasticidade e sensibilidade, o carreto da linha com mais funcionalidades, o tipo de iscos artificiais e naturais, as boias, a chumbada e os anzóis ideais.
Não sou assim, não tenho a obsessão da técnica, nem do equipamento. O que me fascina é lançar o anzol e ficar a aguardar. Sou daqueles que pensam que o acaso da pesca é apanhar um peixe. Para mim o seu verdadeiro objectivo é adivinhar a água, observar o horizonte. Gosto de estar na margem de um rio, a sentir a corrente a passar mas tenho vontade de um dia ir ao mar.
Um dia destes vou voltar a comprar cana e demais apetrechos e faço como este homem que vislumbrei num pontão, a falar com o mar, ali sozinho, com o Bugio ao fundo sem mais nada a distraí-lo.
Vejo a pesca como uma coisa solitária, um espaço onde podemos desligar-nos do que se passa à volta e ficar a aguardar o que a água nos pode trazer. Não me importo se o peixe não picar, fico contente por estar ali, sem muito mais em que pensar.
A pesca é como um exercício de egoísmo durante o qual viramos costas ao mundo e ficamos, sem pressas, a deixar o tempo passar, ao ritmo da água que vai correndo. Esta ideia fascina-me.
Estratégias de comunicação// Manuel Falcão escreve sempre à sexta-feira, no SAPO