Filipe Vargas é um ator com um percurso diferente da maioria dos seus colegas e é a prova de que nunca é tarde para alguém mudar de vida e arriscar fazer o que mais deseja.

Como escreveu José Saramago na epígrafe do livro “A Viagem do Elefante”: “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.”

José Fonseca Fernandes

Filipe nasceu nas Caldas da Rainha, tirou o Curso de Comunicação Empresarial no ISCEM e, durante dez anos, foi criativo de publicidade em várias agências.

Mas, aos 30 anos, achou que já tinha dado para esse peditório - o da publicidade - e decidiu mudar de rumo e reinventar-se.

José Fonseca Fernandes

Nessa busca, experimentou fazer voluntariado em Moçambique e até ponderou trabalhar em hotelaria numa viagem que fez a Goa, na Índia.

Depois mudou-se para Madrid onde viveu 4 anos, estudou representação num curso do Estúdio Juan Carlos Corazza, em Madrid e, no fim, acabou por ser escolhido num casting em Portugal e fazer parte do elenco da popular série “Conta-me como Foi”, na RTP.

José Fonseca Fernandes

Desde aí, Filipe nunca mais parou - e apesar de ter começado relativamente tarde nas lides da representação, aos 35 anos - tem feito muitos e bons trabalhos na televisão, no teatro e no cinema.

Atualmente Filipe parece estar em tudo em todo o lado ao mesmo tempo, e nos mais variados géneros e projetos.

Da comédia mais ligeira, na sitcom “Vai Direto”, na TVI, ao hilário filme “Diamantino”, de Gabriel Abrantes, aos mais variados papeis de ‘Mister nice guy” ou pai de família até a dramas históricos… como quando foi um bispo perverso na série de época “Madre Paula”, para a RTP, realizada por Tiago Alvarez Marques e Rita Nunes.

José Fonseca Fernandes

No grande ecrã, Filipe trabalhou com muitos outros realizadores como Manoel de Oliveira, Raul Ruiz, Valéria Sarmiento, João Botelho, Bruno de Almeida, Bille August, Stan Douglas, Joaquim Leitão, João Nicolau, entre outros.

Filipe conta aqui que está num ano em que, do ponto de vista profissional, tudo o que lhe tem aparecido são coisas que nunca fez ou que nunca foram feitas.

Como é o caso da nova série televisiva “Cara a Cara”, realizada por Fernando Vendrell, em que faz de psiquiatra numa história que reflete a ascensão da extrema direita, e que poderá ser vista na RTP2, ou como a sua recente experiência a fazer locuções para o programa “Extremamente Desagradável”, da Renascença.

José Fonseca Fernandes

Curioso é saber que Filipe cresceu num meio conservador, é um homem de esquerda, e tem vários amigos de direita com quem conversa sobre o estado das coisas. E isso é tão importante nesta nova realidade das trincheiras.

Importa dizer que há dez anos que Filipe Vargas é pai da sua cadela Lola. E, com ela, passou a ter um projecto com a SOS ANIMAL chamado Lola & Companhia.

Ao que parece Filipe e Lola vão aos lares para que as pessoas mais velhas que estão em residências possam ter contacto com animais.

José Fonseca Fernandes

Filipe conta que a ideia surgiu quando a sua mãe, no final de vida, teve de ir para uma residência e reparou que nessas casas de repouso não havia contacto com animais de companhia, que podem ajudar a mitigar solidões.

Há dias, a propósito da morte do escritor peruano Mário Vargas Llosa, Filipe escreveu nas redes sociais que chegou a conhecê-lo na época em que viveu em Madrid, num dia em que fazia jogging na companhia de uma amiga.

E a propósito do romance “La ciudad y los perros” (A cidade e os cães), Filipe transcreveu uma passagem conhecida de vargas Llosa que descreve de facto muito bem a natureza humana em geral, e o seu lado mais violento em particular, cada vez mais notória e visível na época que vivemos.

E que diz assim: “As raposas do deserto de Sechura uivam como demónios quando chega a noite. Sabe por quê? Para quebrar o silêncio que os aterroriza.”

Filipe acrescentou a esta citação, o comentário “Quando ouço nas notícias e nos debates tantos gritos carregados de ódio e intolerância, lembro-me sempre desta frase. No fundo, é só gente assustada, desconfortável com a sua fragilidade.

Como reflete Filipe Vargas o resultado destas últimas eleições e os votos cada vez mais extremados à direita no país, na Europa e no mundo. No fundo, é só gente assustada, desconfortável com a sua fragilidade? O ator responde a esta questão logo no início do episódio.

O que acha Filipe da narrativa cada vez mais repetida de que foram longe demais aqueles que defendiam uma cultura de maior inclusão, de empatia, humanidade e diversidade? Os tais ‘woke’.

Ou perguntando de outra maneira: Como dialogar com aqueles que não se sentem escutados, os invisíveis, os ressentidos e combater a cultura do medo e o ódio?

Estas questões são-lhe também colocadas.

Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.

José Fonseca Fernandes