
Como vem sendo habitual, foi com uma declaração afetiva ao Algarve que o chef Rui Sequeira introduziu o último menu do Restaurante Alameda, em Faro. Na visita do Boa Cama Boa Mesa, em novembro de 2024, a experiência intitulava-se “O Amor além do tempo: uma viagem pelas lendas algarvias”, mostrando como se pode olhar para esta região sob prismas diferentes.
Rui Sequeira e a sua equipa passaram seis meses em pesquisas, mergulhados nas tradições, para escolher algumas lendas emblemáticas, definir a narrativa e os ingredientes que melhor se encaixassem nas histórias, para o encanto da região se revelar nos “detalhes, aromas, sabores e na surpresa”. “A ideia era fazer algo diferente, contar uma história que fizesse sentido e tornar a experiência especial. Traçar um caminho para tornar este restaurante consistente”, comenta o chef.
No exterior, perante a esplanada agora coberta (teto amovível) e climatizada, davam-se indícios do reforço do conforto, e à mesa também se somaram virtudes. Por via de mais um menu de degustação (€115, pairing vínico por €85) com substância, sabor, apresentação, estimulante à imaginação e em boa harmonia vínica, o Restaurante Alameda conquista um Garfo de Prata no Guia Boa Cama Boa Mesa 2025. “Com os pés assentes no Algarve de hoje”, as boas-vindas vinham da tartelete sobre uma mini-cataplana e da codorniz fumada com tomate, espuma de piripiri e crocante de batata frita, interpretando o célebre frango piripiri e empratando em loiça na forma de um ovo, entre milho e malaguetas.
O Guia Boa Cama Boa Mesa 2025, que conta com o apoio do BPI e do Recheio, vai estar disponível nas bancas, a partir de 9 de maio, por €19,90. Pode aproveitar a campanha de venda Boa Cama Boa Mesa, com desconto e oferta de portes.
Mouras encantadas e sereias
Ultrapassado o prelúdio, seguiam-se os sabores lendários. Antes de cada prato, põe-se na mesa um postal com um texto sobre uma lenda e gravuras da autoria de Daniel Nobre. Na Lenda da Moura Encantada das Muralhas, celebra-se o polvo regional com espuma de batata doce e molho de pimentos. Ao desfazer o crocante feito das suas ovas desidratadas, o comensal ajuda a quebrar a maldição de um amor impossível que mantinha uma princesa moura “presa para sempre nas muralhas da cidade”.
Segue-se a desconstrução da raia alhada, aqui com molho beurre blanc e encimada de lula laminada e “ondulante, como o mar e os cabelos de Floripes”, uma moura que seduzia os pescadores de Olhão, de madrugada, “com a promessa de amor eterno”. Estes, enfrentavam o destino sem conquistarem o seu coração. “No prato, a ousadia do mar reflete o encanto incessante de Floripes, uma sedução que perdura no paladar”, enquadra o postal. Um búzio introduz, entretanto, a Lenda da Praia da Rocha: como o coração de uma sereia oscilava entre um pescador e um serrano, uniu-se de forma perfeita o mar e a terra num xerém de mexilhão com coentros, espuma de citrinos e uma falsa areia de algas e pão. A propósito, abre-se espaço ao pão de massa-mãe, barrado com manteiga e acompanhado com azeite e muxama de atum.
Do figo à amêndoa
Realce para o duplo momento da Lenda dos Figos da Lavadeira, em que, nas ruas de Santo António do Alto, em Faro, uma humilde lavadeira se deparou com “deliciosos figos a secar ao sol” e os guardou no bolso do vestido para saborear mais tarde. Os figos revelaram-se, afinal, “moedas de ouro puro”, cortesia de mais uma moura encantada, “protetora daqueles de coração puro e trabalhador”. No prato, a sequência inicia com tamboril, os seus fígados e molho à base de figos e vinho tinto, mas o esplendor vem na segunda metade, que alude à revelação da lavadeira: serve-se uma ‘rica’ ostra cujo sabor não se perde entre o gel de figos secos, espuma e pedaços de foie gras, sementes de girassol e pó de ouro.
No Restaurante Alameda (Rua da Polícia de Segurança Pública, 10, Faro. Tel. 289824831), ainda houve tempo para os momentos doces. Primeiro a tradução da Lenda dos Aloendros e, depois, a bela alusão à Lenda das Amendoeiras, mandadas plantar no Algarve pelo rei Ibn-Almundim para que a sua amada, a princesa Gilda, se lembrasse dos saudosos campos cheios de neve da sua terra. Esta sobremesa alva e imaculada concretizou-se com molho de iogurte, chocolate branco e amêndoa, granizado de amarguinha e, a decorar, uma árvore crocante de alfarroba com açúcar branco no topo recriando a neve.