Os anos passam, mas chegamos ao verão e há uma coisa que, infelizmente, nunca muda: os milhares de hectares ardidos por todo o país. A questão é que não é apenas terreno alheio que é destruído, mas também vidas, famílias, casas, comunidades, negócios, e muito mais.

É uma situação insustentável! Não é concebível que, num país europeu desenvolvido como o nosso, todos os anos assistamos ao mesmo cenário, que por sinal em vez de melhorado se tem agravado.

E o presente ano de 2025 é o exemplo disso.

Os números falam por si. Segundo dados provisórios do ICNF, este ano já arderam mais de 220 mil hectares de território nacional, totalizando mais de 6500 ocorrências. Estamos a falar de uma área ardida 28 vezes superior à registada em 2024 até 15 de agosto, fazendo de 2025 já o segundo pior ano desde Pedrógão Grande. E a tendência é de agravamento, visto que em 2017, até 31 de agosto, tinham ardido cerca de 236 mil hectares. E o ano ainda não terminou.

Este é de facto um problema nacional, que já nos chegou ao distrito inclusive, como foi o caso do incêndio, que há 3 anos, se iniciou em Palmela e se propagou, afetando uma área de 415 hectares, sendo que 69% destes foram dentro do Parque Natural da Arrábida.

Ficou provado o quão vulneráveis estão as nossas reservas naturais e o nosso património a este risco.

Já percebemos que a situação é alarmante, e com ela há sempre quem se queira aproveitar para fazer demagogia e populismo, e por isso vêm dizer que basta aumentar as penas aos incendiários e metê-los a reflorestar que o assunto se resolve.

Não desconsiderando estas propostas, que assumo serem necessárias, o tema é bastante mais complexo e urge de uma resposta conjunta que aborde não só os criminosos florestais, mas também toda uma reconfiguração do setor florestal e do modelo de incentivos atual.

Em vez de nos resumirmos a combater os incêndios em cima da hora, temos de apostar na prevenção.

Já sabemos que vamos chegar ao verão e este vai ser um problema que nos vai bater à porta, porque não adotarmos uma visão de prevenção e minimizarmos as consequências do fogo antes mesmo dele chegar?

Tanto preventivamente, como à posteriori há várias formas de combate. Mas há um facto que não podemos negar e que pode ser encarado tanto antes com depois, que é o de que uma das principais causas dos grandes incêndios em Portugal é o fogo posto.

No ano passado, 84% da área ardida no país teve como causa o incendiarismo. E porque é que eu acho que podemos combater o incendiarismo tanto antes como depois? Porque para além de podermos punir os criminosos por cometerem o crime depois, podemos desincentivá-los de o fazerem antes.

É claro que uma punição mais dura desincentiva o crime, mas o problema é bastante mais profundo. Há vários interesses económicos por trás dos incêndios, nem todos os incendiários são simplesmente piromaníacos. Há de facto quem ganhe com o país a arder.

Este é um modelo que se tem de inverter. Os incentivos a manter uma floresta limpa, bem gerida e verde têm de ser maiores do que os de a ver a arder. Esta resposta tem, por isso, que ser conciliada com um aumento das penas por este tipo de crimes e da garantia que as punições sejam efetivamente cumpridas.

É inconcebível que os criminosos sejam condenados, mas que não recebam penas de prisão efetivas, e que em vez disso, as penas sejam suspensas ou as punições se resumam a multas. A impunidade é de facto um convite a que os fogos se repitam.

Para além disso, precisamos de uma floresta resiliente. Visto que a maior parte da área florestal no país é privada, precisamos de estar do lado dos proprietários. No final de contas, são estes que garantem a sanidade das florestas. Quanto mais interessante, do ponto de vista económico, for manter a floresta limpa, bem gerida e sustentável, menor vai ser a probabilidade de propagação dos incêndios nas mesmas.

A valorização do mercado da floresta tem que, por isso, ser uma prioridade!

No entanto, estas mudanças necessárias são estruturais e demoram tempo, além disso, a prevenção não consegue impedir 100% dos incêndios e por isso o reforço do combate às ignições é importantíssimo. O investimento em meios aéreos e em mecanismos de coordenação para garantir respostas rápidas aos focos de incêndio são essenciais.

Temos sobretudo que fazer diferente, de ter coragem de mudar, de ter um plano a longo prazo e sustentável para o interior e para a floresta, de um corpo de bombeiros profissional e com condições, de reverter o sistema de incentivos atual e de valorizar o proprietário que cuida da floresta e que a gere bem.

É possível conciliar a floresta de conservação, com a de produção e mantermos a segurança do território e das populações. Se queremos reverter o sufoco e o desespero que todos os anos todo o país sente quando a temperatura começa a aumentar precisamos de visão, audácia e sobretudo de agir!