2024 ficará marcado como um dos anos mais sombrios para o ambiente em Portugal, segundo o relatório da Quercus — Associação Nacional de Conservação da Natureza. Secas prolongadas, incêndios de grandes proporções e desastres naturais dominaram o cenário, evidenciando o impacto crescente das alterações climáticas e a urgência de medidas concretas para mitigar os seus efeitos.

Desde 2017, Portugal tem enfrentado períodos prolongados de seca, mas 2024 foi particularmente severo, com destaque para a região do barlavento algarvio, onde a ausência de chuvas atingiu níveis críticos. Os incêndios florestais foram outro ponto de grande preocupação. A 14 de agosto, um grande incêndio consumiu mais de 5.000 hectares na Madeira, ameaçando a emblemática floresta Laurissilva. Já em setembro, durante a chamada “semana negra”, 128 incêndios devastaram milhares de hectares nos distritos de Aveiro e Viseu, resultando em nove vítimas mortais e destruição de vastas áreas de eucaliptos e pinhais. Este ano foi, segundo a Quercus, um dos piores da última década em termos de área ardida.

No plano internacional, as inundações na região de Valência, em Espanha, deixaram um rastro de destruição com mais de 200 mortes e elevados prejuízos materiais, confirmando o aumento de fenómenos meteorológicos extremos provocados pelas mudanças climáticas. Ainda em 2024, a Islândia autorizou dois baleeiros a continuarem a caça de baleias nos próximos cinco anos, enquanto em Portugal projetos de mineração, como o alargamento da mina de Alvarrões, geraram controvérsia pela ameaça a ecossistemas sensíveis.

Embora 2024 tenha sido difícil, alguns avanços positivos trouxeram esperança ao panorama ambiental. Entre os destaques, está a aprovação da Lei do Restauro da Natureza pelo Conselho do Ambiente da União Europeia e o chumbo de projetos de barragens no Parque da Peneda-Gerês e de uma plantação de abacateiros em Alcácer do Sal. No campo jurídico, uma decisão histórica do Supremo Tribunal de Justiça português contra o Estado por incumprimento da Lei de Bases do Clima marcou um importante precedente em litigância climática.

A Quercus sublinha a importância de 2025 para concretizar mudanças significativas. A organização pede a publicação do novo Regulamento Faixas de Gestão de Combustível, essencial para a regulamentação do Sistema de Gestão Integrada dos Fogos Rurais, e a revisão do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023–2027), tornando os apoios ao investimento florestal mais acessíveis para pequenas propriedades. Melhorar a eficiência hídrica, proteger os solos e regulamentar os Novos Organismos Geneticamente Modificados (OGM) são outras das prioridades destacadas.

O apelo da Quercus reforça que medidas concretas e eficazes são indispensáveis para mitigar os impactos das alterações climáticas e proteger o ambiente. A mensagem é clara: sem ação, os desafios ambientais de 2024 podem repetir-se e agravar-se nos anos seguintes.