
O Rugby Clube de Santarém (RCS) vive um momento inesquecível: a subida à Divisão de Honra, o escalão máximo do rugby português, coincidiu com a celebração dos 30 anos do clube. O feito é histórico para o concelho e para o distrito, e é fruto de um projeto sustentado no tempo, assente na formação e na paixão de uma comunidade que, cada vez mais, abraça o clube.
“Ganhar e ser campeão é sempre especial”, começou por afirmar Nuno Serra, presidente do RCS. “Mas torna-se ainda mais marcante porque coincide com o 30.º aniversário do clube. Foi como se tudo se tivesse alinhado: estamos prestes a iniciar obras de requalificação, o trabalho de base foi feito ao longo dos anos, e este ano conseguimos finalmente ser campeões nacionais.”
A força da formação
Grande parte dos atletas que integraram a equipa sénior nesta temporada são oriundos dos escalões de formação do próprio clube. São jogadores amadores, que conciliam a vida pessoal e profissional com o desporto por puro amor à camisola.
“Estes jogadores são quase todos da formação do RCS. Jogam aqui porque gostam, porque sentem o clube. E isso vale muito. O que foi feito ao longo dos anos foi um trabalho de consistência. Não foi de um dia para o outro”, explicou o dirigente.
Depois de duas finais perdidas em 2021 e 2022, o clube reorganizou-se, aprendeu com os erros e apontou ao objetivo com determinação. “Tínhamos ido a duas finais e não conseguimos vencer. Percebemos o que fizemos mal, trabalhámos sobre isso e chegámos a este ponto. Esta terceira foi de vez.”
Uma cidade que começa a vibrar com o rugby
O rugby pode não ter a projeção mediática do futebol, mas em Santarém os sinais de crescimento são cada vez mais evidentes. “Este ano, durante a final, vi pessoas a verem o nosso jogo no telemóvel enquanto viam a final da Taça de Portugal na televisão. Isso é muito significativo”, comentou Nuno Serra. “Demonstra que Santarém está conosco, que a população se revê no clube.”
A ligação emocional tem-se fortalecido desde 2021, quando o RCS jogou à porta fechada no Estádio Nacional devido à pandemia. “Foi aí que sentimos, pela primeira vez, o verdadeiro carinho das pessoas. Depois, no ano seguinte, centenas acompanharam-nos ao Jamor. Este ano, num piquenique antes da final, apareceram 500 pessoas vindas de todo o lado. Isso mexe conosco.”
O presidente sublinha a importância deste apoio: “Passamos na rua e as pessoas dão-nos os parabéns. Recebemos mensagens das instituições, dos outros clubes. É um carinho enorme. Nós, com poucos recursos, só podemos retribuir com trabalho e com resultados.”
Clube em crescimento… e com ambições
Com cerca de 240 atletas, o RCS está em expansão. Tem todos os escalões formativos e a recente visibilidade tem atraído ainda mais jovens. “Quanto mais o rugby é divulgado, mais miúdos aparecem. Mas é fundamental haver uma equipa sénior com quem se identifiquem. E é isso que temos conseguido.”
Nuno Serra defende que a ascensão do RCS é também uma prova de que se pode fazer alto rendimento fora dos grandes centros. “O rugby em Santarém mostra que não é preciso estar em Lisboa ou no Porto para chegar ao topo. Temos jogadores na seleção nacional. Estamos entre as 12 melhores equipas do país. Isso é um exemplo para os nossos jovens.”
O maior adversário: as finanças
Mas nem tudo são facilidades. A subida à Divisão de Honra traz exigências financeiras muito superiores. “Provavelmente éramos o clube com o menor orçamento da 1.ª Divisão”, revelou o presidente. “Agora, só em taxas de inscrição, vamos pagar cinco ou seis vezes mais. Isso obriga-nos a triplicar o orçamento.”
O clube vive sobretudo da formação e do voluntariado. “Não temos jogadores profissionais. Os custos são controlados com a ajuda dos pais e dos adeptos. Mas a realidade muda agora.”
Nuno Serra deixou também um apelo à região: “Temos de olhar para o desporto como uma forma de catapultar Santarém. Vejo cidades como Évora, Montemor ou Lousã onde o apoio aos clubes é muito maior, tanto de empresas como de autarquias. Aqui, ainda não chegámos a esse patamar.”
E reforçou: “O RCS é o único clube do distrito a competir a nível nacional. Temos potencial para ser uma referência regional, mas falta esse reconhecimento. Espero que esta subida seja um ponto de viragem.”
Um clube com identidade
Apesar dos desafios, a direção do Rugby Clube de Santarém quer manter a essência do projeto: formação, proximidade com a cidade e identidade forte. “Queremos crescer, claro. Mas sem perder aquilo que somos. O RCS é um clube de todos, feito por todos. E isso tem que continuar a ser o nosso pilar.”