
O projeto LIFE Iberconejo apresentou o primeiro censo ibérico do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), resultado de três anos de trabalho que envolveram entidades públicas, investigadores e voluntários ligados à conservação e ao setor cinegético. O estudo, que termina em junho de 2025, disponibiliza um mapa de densidade da espécie à escala de 2×2 quilómetros em toda a Península Ibérica, constituindo uma base de dados sem precedentes para a gestão da fauna silvestre.
Segundo os dados agora divulgados, as populações de coelho-bravo diminuíram 17,6% entre 2009 e 2022 nas regiões abrangidas pelo projeto – Andaluzia, Castela-Mancha, Extremadura e Portugal. A tendência revela-se particularmente preocupante em zonas de mato ou florestais, onde a redução atinge os 57,75%. Em contrapartida, as zonas agrícolas evidenciam uma estabilização, com um ligeiro aumento nos últimos anos.
O diretor do projeto, Ramón Pérez de Ayala, sublinhou que os dados recolhidos permitirão «tomar medidas para fomentar as suas populações onde este está a desaparecer e, ao mesmo tempo, prevenir os danos que provoca na agricultura». Já Javier Fernández López, investigador do Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC), explicou que a elaboração do modelo matemático que sustenta o censo permitiu integrar dados populacionais de diversas escalas, estatísticas cinegéticas e características dos habitats, ultrapassando as limitações da contagem direta da espécie.
O mapa elaborado destaca quatro grandes áreas espanholas – as mesetas sul e norte e os vales do Ebro e do Guadalquivir – com maior densidade da espécie, coincidentes com zonas agrícolas onde se registam conflitos com a produção agrícola. Em sentido inverso, regiões como a Serra Morena, as serras da Extremadura e grande parte de Portugal apresentam baixa densidade da espécie, apesar de serem territórios onde o coelho-bravo assume um papel ecológico relevante como presa de mais de 40 espécies.
A plataforma digital criada no âmbito do LIFE Iberconejo permitiu estandardizar metodologias e recolher dados de forma automatizada em ambos os países, através da colaboração entre o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o Ministério da Agricultura de Espanha, universidades, centros de investigação, associações de caçadores, organizações de conservação e entidades regionais.
Apesar do fim previsto do projeto em 2025, os dados obtidos vão continuar a ser monitorizados pelas administrações envolvidas. Em Espanha, a iniciativa está alinhada com a Estratégia Nacional de Gestão Cinegética, aprovada em 2022.
O LIFE Iberconejo é cofinanciado pela União Europeia e coordenado pela WWF Espanha. Conta com 17 parceiros de Portugal e Espanha, incluindo o INIAV, a Universidade do Porto/CIBIO-BIOPOLIS, a WWF Portugal, a Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça (ANPC) e o ICNF.
