O Celeiro da Cultura, em Borba, abriu as portas no passado fim de semana à exposição «Vinho, Cultura e Tradição: exposição arqueológica, documental e etnográfica dos Vinhos de Borba», que estará patente ao público a partir de agosto. Integrada no programa Cidade do Vinho 2025, a mostra reúne peças arqueológicas, documentação histórica, fotografias, garrafas e utensílios, retratando a evolução da produção e comercialização de vinho no concelho ao longo de vários séculos.

Com orientação científica do Centro de Estudos CECHAP, a iniciativa pretende valorizar o património vinícola de Borba, salientando o papel desta atividade no desenvolvimento económico do Alentejo e na afirmação do território enquanto produtor de referência.

A exposição apresenta elementos que desmontam algumas ideias enraizadas sobre a história vinícola local. Carlos Filipe, do CECHAP, destacou que «esta exposição inclui arqueologia, iconografia e outros elementos que fazem parte deste grande recurso que nos acompanha desde a fundação do concelho, que é o vinho, a produção da uva e a sua transformação».

Entre as descobertas evidenciadas está o facto de o engarrafamento de vinho em Borba ter início muito antes do que se pensava. «Durante o último quartel do século XIX, já se fazia engarrafamento em quantidade. Para chegar a exposições internacionais, o vinho tinha de ser engarrafado», explicou, acrescentando que esse processo remonta a meados do século XIX, contrariando a ideia de que começou apenas na década de 1950.

A mostra inclui peças como esmagadores, prensas, bombas de transferência e outros equipamentos ligados à produção, bem como garrafas antigas, incluindo exemplares de vinho aragonês — variedade cuja produção em Borba era frequentemente colocada em causa. Também se encontram rótulos históricos, como o de «Vinho de Borba Puro», criado para evitar confusões sobre a origem do produto.

A preparação da exposição contou com a colaboração de vários munícipes que cederam peças de valor histórico. «Não havia hipótese de montar uma exposição desta sem entrar em casa de muitas pessoas. Isto é só uma pequena amostra. Há um mundo de grande valor que Borba tem guardado e que deve ser registado num inventário», afirmou Carlos Filipe, defendendo a criação de um centro interpretativo que possa reunir e preservar este espólio, recorrendo também a tecnologias digitais.

Para o presidente da Câmara Municipal de Borba, António Anselmo, esta mostra é «uma oportunidade para as pessoas perceberem a importância histórica que o vinho representa para Borba» e para reforçar a ligação entre passado, presente e futuro. O autarca sublinhou o contributo da comunidade: «Muitas pessoas de Borba, de forma privada, deram peças fabulosas com um valor brutal e isso é que vale a pena».

No contexto da Cidade do Vinho 2025, António Anselmo considera fundamental que eventos como este promovam também o desenvolvimento económico local: «O importante é que as pessoas venham às nossas terras, conheçam o nosso património e que isso traga retorno económico para todos, desde os produtores aos restaurantes e cafés».

A exposição «Vinho, Cultura e Tradição» está aberta ao público em geral, incluindo produtores, investigadores e apreciadores de vinho, e permanecerá no Celeiro da Cultura a partir de agosto, constituindo-se como um convite à descoberta da identidade vinícola de Borba.