O Alentejo volta a ser confrontado com as consequências de uma resposta médica de emergência insuficiente. Na manhã desta terça-feira, 13 de agosto de 2025, o cabo da GNR Nuno Joaquim Lourenço Dias, de 47 anos, foi encontrado inanimado na garagem da sua residência, em Castelo de Vide, tendo acabado por falecer sem que a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Portalegre pudesse ser mobilizada — por estar inoperacional devido à ausência de médico na escala.

O alerta foi dado pela esposa da vítima cerca das 09h00, sendo os Bombeiros Voluntários de Castelo de Vide os primeiros a chegar ao local, pelas 09h16, após acionamento do CODU – Centro de Orientação de Doentes Urgentes. As equipas de socorro iniciaram de imediato manobras de reanimação, tendo utilizado um desfibrilhador. No entanto, a vítima entrou em paragem cardiorrespiratória irreversível e foi transportada para o Hospital de Portalegre, onde o óbito foi declarado às 09h49.

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) confirmou a inoperacionalidade da VMER, lamentando o sucedido e endereçando condolências à família. A viatura esteve parada entre as 08h00 e as 16h00, devido à falta de médico para preencher a escala, segundo informação da Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo (ULSAA). Esta situação foi previamente comunicada à Direção Executiva do SNS e ao CODU.

O dado mais alarmante revela-se no histórico recente: entre janeiro e julho de 2025, a VMER de Portalegre esteve fora de serviço cerca de 10% do tempo total, o que corresponde a mais de 500 horas de inoperacionalidade, comprometendo gravemente a resposta a emergências críticas numa das regiões mais envelhecidas e despovoadas do país.

O falecido, cabo da Guarda Nacional Republicana há 24 anos, era uma figura estimada entre os seus pares. A GNR de Portalegre expressou publicamente o seu pesar através das redes sociais, afirmando que “a Unidade ficou mais pobre com a perda do camarada Nuno Joaquim Lourenço Dias”.

Este caso, dramático e profundamente simbólico, reabre o debate sobre a cobertura médica de emergência no interior do país e sobre as consequências reais da escassez de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente em zonas de baixa densidade populacional. O silêncio de uma sirene que não pôde partir deixa, neste caso, um eco difícil de ignorar.