De 3 a 8 de junho, Évora volta a transformar-se num grande palco ao ar livre e em sala com a realização da 17.ª edição da Bienal Internacional de Marionetas de Évora (BIME).

Serão seis dias de programação intensa, que levarão à cidade e a várias freguesias do concelho 90 espetáculos, protagonizados por 28 companhias oriundas de 10 países: Portugal, Brasil, Japão, Chile, Turquia, Chéquia, Espanha, Inglaterra, Itália e Dinamarca.

A iniciativa, organizada pelo CENDREV – Centro Dramático de Évora, acontece desde 1987 e é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como um dos mais relevantes eventos dedicados à arte da marioneta. Os espetáculos estendem-se a locais como Azaruja, Arraiolos e Reguengos de Monsaraz, reforçando a dimensão descentralizadora e comunitária da BIME.

«Évora tem características absolutamente extraordinárias para acolher um festival desta natureza. A marioneta é uma forma de teatro com enorme capacidade de comunicação e pode acontecer em qualquer lugar – na praça, no jardim, no mercado. É essa a força da Bienal», sublinha José Russo, codiretor artístico do evento e diretor do CENDREV.

A BIME mantém a aposta na diversidade de formatos e técnicas: haverá teatro de sombras, marionetas de fios, bonecos de luva e construções de grande escala, como a marioneta de três metros feita em cortiça que desfilará diariamente pelas ruas da cidade. Esta peça, concebida por um mestre carpinteiro alentejano, é manipulada por três pessoas e constitui uma das novidades da edição de 2025.

Ao lado de José Russo, Ana Meira partilha a direção artística da BIME e descreve o evento como «uma festa da cidade, dos artistas e dos bonecos». A dimensão coletiva e afetiva é, para a marionetista, um dos pilares do evento: «As crianças brincam com bonecos, mas muitas vezes são os adultos que ficam mais encantados. A marioneta tem esse poder – atravessa gerações, emociona sem pedir licença.»

Além da programação artística, a Bienal promove oficinas dirigidas às escolas e acolhe um seminário internacional em colaboração com o CHAIA – Centro de História de Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora. Os encontros vão realizar-se no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo e no Palácio do Vimioso, e contarão com a presença de marionetistas e investigadores.

A exposição “Marionetas Portuguesas dos Anos 70 e 80”, que pode ser visitada no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, é outro destaque da programação. A mostra resulta de uma parceria com o Museu da Marioneta e dá a conhecer o percurso artístico de figuras que marcaram o teatro de marionetas em Portugal.

A cidade inteira participa na Bienal. Há espetáculos em escolas, jardins, praças e outros espaços informais. «É uma maré de marionetas a ocupar Évora. Criamos oficinas nas escolas onde os alunos constroem objetos ligados ao imaginário do festival. Este ano, por exemplo, pintam maçãs que depois são penduradas nas árvores da cidade», explica Ana Meira.

O envolvimento das comunidades locais é reforçado pela presença prolongada das companhias na cidade. «A maioria dos artistas permanece cá durante toda a Bienal. Isso permite uma convivência constante entre marionetistas, entre companhias, e também com o público. Há troca de experiências, conversa, descoberta. A Bienal é um espaço de encontro», destaca José Russo.

Este ambiente favorece também colaborações futuras. Segundo os organizadores, vários projetos nascem das ligações informais estabelecidas em Évora. «A Bienal não se esgota na programação. É uma plataforma de criação e de continuidade. Vemos companhias que regressam, que querem voltar, que recomendam o festival a outras. É um circuito vivo», sublinha Ana Meira.

Com um orçamento de cerca de 170 mil euros, a BIME é financiada sobretudo pela Câmara Municipal de Évora e pelo Ministério da Cultura, com apoio adicional de bilheteira e de pequenos parceiros. Os espetáculos têm entrada livre, com exceção dos que se realizam no Teatro Garcia de Resende, cujos bilhetes estão disponíveis no local e na plataforma online.

Mais do que um festival, a BIME é, para os seus fundadores, um exercício contínuo de serviço público cultural. «Trata-se de criar hábitos, de proporcionar o acesso à cultura a quem nunca entrou num teatro. Há pessoas que acompanham a Bienal desde a infância e hoje vêm com os netos. É um gesto de continuidade, de pertença e de memória», conclui José Russo.

Com marionetas que falam sem palavras e histórias contadas por mãos experientes, Évora volta a ser, durante uma semana, o centro de um mundo onde o gesto dá vida ao inanimado – e onde cada espetáculo é uma porta aberta à imaginação.