O grande incêndio que devastou o concelho de Arganil foi dado como extinto há uma semana. As notícias seguiram caminho, mas para quem vive nas áreas atingidas, o inferno continua presente no dia a dia.

O turismo, uma das principais fontes de rendimento da Beira Interior, enfrenta meses — e possivelmente anos — de dificuldades. Onde antes reinava a vida e a frescura da serra, hoje imperam o silêncio, o cheiro a cinza e a incerteza.

Casas e sonhos destruídos

Em Pardieiros, freguesia da Benfeita, Diamantino de Jesus recorda a noite em que enfrentou as chamas sozinho:
Estive aqui sozinho. Eu e Deus”, desabafa, olhando a paisagem negra que rodeia a sua casa.

Na Fraga da Pena, ex-libris do concelho, o acesso continua interdito. Carla Brito, empresária do setor turístico, perdeu já cinco mil euros em reservas canceladas no seu alojamento e viu o restaurante “D’aqui e D’acolá”, em Coja, perder metade da receita.
Vai-se o balão de oxigénio que tínhamos para o Inverno”, lamenta, apelando aos turistas para não deixarem de visitar a região.

Resistência e pedidos de ajuda

No Valado, Carla Gomes, proprietária do turismo rural Casas do Oiteirinho, viu o fogo chegar na véspera da festa de 15 de agosto, quando tinha lotação esgotada. Agora, só conta com reservas em setembro.
Venham na mesma visitar a Serra do Açor. Precisamos todos.

As famílias recordam que a limpeza dos terrenos nem sempre falha por negligência, mas por falta de meios e de pessoas para o fazer.

Negócios e vidas em suspenso

Na praia fluvial do Agroal, João Gonçalves perdeu parte do rendimento com a queda abrupta do turismo.
É triste. Quando não houver jovens aqui para combater, o que restará?

No Parque de Campismo da Bica, em Pomares, a gerente Rita Osório lembra que foi a população que se ajudou mutuamente:
Ficámos entregues à sorte.

Na apicultura, Rui perdeu 50 das suas 500 colmeias. “Estamos mais preparados do que em 2017, mas sentimos-nos esquecidos.

Resiliência entre as cinzas

Em Monte Frio, Ana Santos, do restaurante “Repasto do Bom Pastor”, ainda lamenta não ter conseguido dar um café aos bombeiros durante o combate às chamas por falta de água.

No Piódão, a aldeia presépio, o turismo também sofreu forte quebra. “Os passadiços estão fechados, mas Piódão não ardeu. Estamos cá”, assegura Marília Trindade, do posto de turismo.

Mas a tristeza é visível. Lucinda, 82 anos, resume:
Quem quer vir ver terra queimada? Isto era tão bonito antes…

Entre cinzas e esperança

Em Foz d’Egua, outra joia da região, ainda cheira a queimado. Mas, tal como a natureza insiste em renascer, também os habitantes prometem resistir.
“Até quando?”, perguntam.