Lançado em França no final de janeiro de 2024, o romance do historiador de arte, ensaísta, professor e diretor da Fundação Hartung-Bergman, tomou o mercado livreiro de assalto, tendo vendido os direitos para 27 línguas ainda antes de ser publicado.

O romance, que é editado em Portugal pela Presença, conta a história de Mona, uma menina de dez anos em vias de cegar, que é conduzida pelo avô em visitas semanais a museus parisienses, como o Louvre, o Orsay e o Beaubourg, durante as quais exploram uma obra de arte, totalizando 52 ao longo de um ano.

A ideia parte de um plano do avô, que quer dar a ver à neta toda a beleza do mundo antes de perder a visão para sempre, e começa a levá-la todas as quartas-feiras, depois da escola, a conhecer uma obra de arte.

Durante esses passeios pelos museus de Paris, Mona e o avô vão pensar em voz alta e experimentar todo o tipo de sensações diante de uma pintura ou de uma escultura, seja de Botticelli, Vermeer, Goya ou Courbet, fornecendo uma exploração profunda da arte e da condição humana, segundo a editora.

Cada obra serve como ponto de partida para discussões sobre temas como generosidade, dúvida, melancolia e autonomia, proporcionando a Mona uma compreensão mais profunda do mundo antes de perder totalmente a visão.

'Os olhos de Mona' foi amplamente elogiado pela crítica, que destacou a relação entre neta e avô como um exemplo de transmissão de conhecimento e amor pela arte, permitindo ao leitor redescobrir obras-primas através dos olhos de uma criança, segundo a imprensa francesa.

Segundo a publicação Babelio, a estrutura narrativa deste romance permite que o leitor acompanhe uma jornada educativa profunda, onde cada obra serve como ponto de partida para discussões sobre história, técnica e contexto artístico, usando a relação entre Mona e o seu avô como exemplo de transmissão de conhecimento sensível e eficaz, destacando a importância de ensinar a ver e apreciar a arte de maneira contemplativa.

Numa entrevista à revista Beaux Arts, Thomas Schlesser, que levou dez anos a escrever este livro, conta que tudo começou com um acontecimento pessoal que o perturbou, a que ele chamou o "não-acontecimento" de uma criança.

"Foi isso que me levou a querer inventar uma menina ideal há dez anos. A ideia de uma introdução à vida através da arte tornou-se então óbvia. Embora eu seja e continue a ser um historiador de arte, não me propus escrever uma história exaustiva da arte (...). Esta é, antes de mais, uma obra de ficção, em que a arte é contada de uma forma totalmente subjetiva, através das inclinações da personagem do avô".

O autor contou ainda que para chegar às 52 obras de arte abordadas na história, fez primeiro uma lista de cerca de cem e depois usou como critério a coerência com o caráter de Henry (o avô) e com o desenvolvimento do enredo.

"No entanto, o convite deste livro não é para ir ao Louvre ou ao Beaubourg, mas para perceber que se podem encontrar centenas de histórias em qualquer lugar, incluindo em museus de história natural e de tradições populares, e em museus de automóveis", destacou.

No fundo, como o próprio autor afirma, "Os olhos de Mona" abordam um vasto leque de temas, da filosofia à História, passando pela psicanálise e a literatura.

Isto porque a história é "uma introdução à vida através da arte, e a vida tem mais a ver com emoções, grandes questões políticas, filosofia...".

"Há um dilema moral que emerge de cada vez que uma das 52 obras de arte são abordadas, mas não é a arte que fala por si, é a arte que fala de todas as componentes da vida", explica.

O romance está dividido em três partes: Louvre, Orsay, e Centro Pompidou (Beaubourg).

Na primeira parte, entre as 19 obras abordadas, a história passa por nomes como Boticelli, Leonardo da Vinci, Rafael, Ticiano, Miguel Ângelo, Rembrandt, Vermeer, Canaletto, Jacques-Louis David, Goya ou William Turner.

Na segunda, os protagonistas viajam entre peças de arte de Courbet, Henri Fantin-Latour, Édouard Manet, Claude Monet, Degas, Cézanne, Vincent van Gogh, Claudel, Klimt ou Mondrien, de um total de 15.

A última parte, explora, num total de 18 obras de arte, nomes como Kandinsky, Duchamp, Geórgia O'Keeffe, Magritte, Frida Kahlo, Picasso, Pollock, Jean-Michel Basquiat ou Marina Abramovic.

Apesar da aclamação da crítica, 'Os olhos de Mona' suscitaram em alguns meios mais conservadores acusações de esconder "uma possível agenda ideológica", como é o caso do Boulevard Voltaire -- 'site' francês de orientação conservadora e de direita - que, num artigo, sugere que, sob a capa de um romance de iniciação à arte, o livro poderia ser interpretado como um apelo à eutanásia, além de abordar temas como o feminismo e o aborto.

O romance conta já com mais de 160.000 exemplares vendidos, está traduzido em 37 línguas e em vias de ser adaptado ao cinema.

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