Morreu esta quinta-feira Marco Paulo, aos 79 anos. O cantor estava a lutar contra dois cancros, um no pulmão, em estado controlado, e outro no fígado, que era mais crítico. Em meados de setembro, recebeu a notícia de que a quimioterapia não estava a resultar e seria suspensa.

“Infelizmente, a minha vida não está nas minhas mãos”, confessou o cantor português, em declarações ao Correio da Manhã. Apesar de tudo, Marco Paulo tentava manter a esperança e garantia estar a fazer a sua “vida normal”.

“Claro que era melhor eu não ter nada, mas agora só me resta esperar e resistir. Estou a fazer a minha vida normal, continuo a receber as minhas visitas e a fazer o meu programa. (…) Tenho de andar animado porque tenho de seguir com a minha vida".

Durante grande parte da vida, Marco Paulo lutou contra doenças oncológicas. Foi diagnosticado pela primeira vez em 1996, com um cancro no abdómen. Em 2020, descobriu um cancro na mama, em 2022, no pulmão, e, no fim de 2023, no fígado.

“Lutador” na vida, histórico na música

Apesar das doenças, Marco Paulo continuou a entrar em casa dos portugueses com o programa Alô Marco Paulo, transmitido ao sábado de manhã na SIC.

Numa emissão “Força Marco Paulo”, em que foi homenageado pelos amigos e fãs, ao assistir a uma parte da entrevista a Daniel Oliveira no Alta Definição, o cantor não conseguiu conter as lágrimas.

Em entrevista ao programa "Júlia", disse que a sua maior vontade era "viver e continuar a fazer aquilo de que gostava".

O cantor não se caracterizava como um guerreiro, mas sim como "um lutador". Por várias vezes, disse que colocava a vida "nas mãos dos médicos e o corpo e a alma nas mãos de Nossa Senhora".

Estar em palco era um "momento sagrado" para Marco Paulo, que fez "tudo na longa carreira" que teve. Em entrevista ao Diário de Notícias, admitiu que "já não volta a fazer 50 anos de vida ou de carreira" e, por isso, tudo o que viesse seria bem-vindo.

Ao longo de mais de cinco décadas, lançou mais de 70 discos, ouvidos por quase 5 milhões de pessoas, um feito reconhecido com o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique por Marcelo Rebelo de Sousa, um Globo de Ouro e outros 140 galardões.

SIC Notícias

De Mourão para o Mundo

João Simão da Silva nasceu em Mourão, no Alto Alentejo, a 21 de janeiro de 1945, de onde saiu com apenas cinco anos. A viagem pelo mundo musical começou no Rancho Folclórico de Alenquer.

No Alta Definição, da SIC, o artista relembrou a “casa muito pequenina” onde vivia e revelou um sonho para o futuro:

"Deus quis que eu tivesse nascido em Mourão, numa casa muito pequenina, que eu espero ainda ter a oportunidade de fazer lá um museu para os meus conterrâneos e não só poderem apreciar tudo aquilo que nunca viram".

Com uma carreira de mais de 55 anos, o artista que "tinha dois amores" cantou pela primeira vez aos 11 anos, num casamento. Mais tarde, escolheu o nome "Marco Paulo" para se lançar na música.

O disco de estreia, "Não Sei", editado em 1966, foi uma versão de António José de uma canção do cantor francês Alain Barrière.

"Ninguém, Ninguém" fê-lo chegar aos tops nacionais em 1978 e conquistar o primeiro disco de ouro, um feito que se repetiu no ano seguinte. Em apenas dois anos, Marco Paulo conquistou dois discos de ouro e três de prata.

O seu maior êxito foi lançado em 1980: "Eu Tenho Dois Amores" vendeu mais de 195 mil discos.

Da música à televisão

A carreira de Marco Paulo ficou também marcada com a passagem pelo Festival da Canção, em 1967, e a apresentação de programas como "Eu Tenho Dois Amores" e "Música no Coração", na RTP, na década de 1990.

O artista escolheu o ano de 2007 para fazer uma reviravolta na carreira e lançou um disco com apenas temas originais. Em 2016 fez uma tour para celebrar os 50 anos de carreira e um ano depois editou "Ao Vivo No Campo Pequeno - Tour 50 Anos".‎

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Numa das homenagens, no espetáculo “Para Sempre, Marco”, o cantor teve um papel diferente do habitual. Na plateia e não no palco, assistiu a duas mulheres interpretarem as suas canções. “Fiquei encantado”, admitiu.

“Ao fim de 55 anos a cantar estas músicas como é que eu me vou portar? Será que eu vou aguentar até ao fim? Será que eu vou chorar? Eu sou uma pessoa muito emotiva. Fizeram tudo em surpresa. Não sei que músicas escolheram, não sei nada”, revelou o cantor à SIC. “Eu normalmente não gosto que cantem as minhas músicas, mas neste caso fiquei encantado com as pessoas a cantá-las, os arranjos”, confessa.

Marco Paulo dizia que seria "muito difícil virar as costas ao público" e "gostava muito que [tivesse sido] num concerto". Com mais de cinco milhões de discos vendidos, Marco Paulo será sempre recordado pelas suas músicas e pela sua voz inconfundível.