
Com 15 anos, o Manel Rosa começou a fazer stand-up comedy. Era um adolescente no meio de adultos, por vezes em bares pouco recomendados, mas já se via a fazer da comédia profissão. Seis anos depois, continua a subir aos palcos — e já não precisa das boleias dos pais!
Desistiu do curso de Estudos Gerais para se dedicar 100% ao humor. É um dos apresentadores do Curto Circuito, autor do projeto Disnarrativo, uma das caras do Worten Mock Fest e lançou recentemente o conteúdo Histórias da Noite nas redes sociais.
Esta semana esteve à conversa com o Gustavo Carvalho no Humor à Primeira Vista, onde falou da sua tentativa falhada de entrar no The Voice Kids e da experiência de gravar um anúncio com o Ricardo Araújo Pereira.
Depois de elogiar a consistência do podcast e a sua importância para quem gosta de comédia, o Manel começa por se definir como um comediante de nicho com vontade de chegar ao mainstream:
"Eu, honestamente, não foco o meu humor em nada. Ou seja, foco o meu humor naquilo que gosto e naquilo que acho que as pessoas vão gostar. Quando é stand-up vou testando, que é uma forma de conseguir chegar a esse meio-termo; nas redes sociais é parecido."
O Gustavo recua à adolescência e pergunta: "O que é que te fez, nessa idade, olhar para stand-up e pensar ‘é mesmo isto que eu quero fazer para a minha vida’?" É aí que o Manel revela, em exclusivo, a sua tentativa falhada de participar no The Voice Kids:
"Sempre fui desafinado, mas meti na cabeça que queria estar em palco, queria ir para a televisão. E isso foi uma coisa super inconsciente."
Chegou a telefonar para a produção, mas nunca avançou. Ainda hoje não sabe se foi a mãe que lhe boicotou o sonho, mas lembra-se bem de que ia cantar “Voar”, dos Xutos & Pontapés, e tinha a certeza de que ia para a equipa do Anselmo Ralph.
Apesar da paixão pela comédia, aos 15/16 anos não a assumiu como profissão: continuava na escola e via os seus conteúdos como um passatempo:
"Mesmo não tendo muitos seguidores e sendo um Instagram pessoal, pensava: se eu quero fazer isto, vou tentar replicar as pessoas que estão no sítio onde eu quero estar."
Foi na faculdade que passou a encarar tudo com mais seriedade:
"Estava nas aulas a escrever guiões e a editar vídeos com um fone escondido. E lembro-me de pensar: ‘estou a dar mais atenção a isto do que às aulas. Não estou a fazer bem nem uma coisa nem outra.’"
Inscreveu-se em Estudos Gerais, influenciado por ser o curso do Carlos Coutinho Vilhena e pela diversidade de cadeiras. Tinha 15 para fazer, completou 8 — ou 12, segundo o próprio, se os serviços académicos estivessem "do seu lado". Desistiu numa altura em que já atuava com regularidade e queria dedicar-se exclusivamente à comédia, trocando vídeos curtos por conteúdos mais pensados.
Nessas atuações, era sempre o mais novo. Isso trazia duas possibilidades: a de se sentir pressionado a provar o seu valor ou a de ser tratado com algum paternalismo pelos humoristas mais velhos. Felizmente, foi sempre bem recebido. O público também ajudava: "Davam-me um desconto" e acrescenta:
"À medida que fui crescendo e fazendo stand-up, fui sentindo o público a pôr-me mais à prova, como fazia com qualquer outro comediante. Perdi aquela camada de empatia por ser um miúdo que subia ao palco."
Ainda assim, havia uma espécie de dilema interno:"Não gostava de ser desvalorizado pela idade, mas também não gostava de ser valorizado pela idade." Hoje já está mais tranquilo quanto a isso, mas lida com outro tipo de comparação: os pares, que começaram mais ou menos na mesma altura — como o Tiago Almeida, a Luana do Bem, o Vasco Elvas e o Vítor Sá — e que começaram a “disparar nas suas áreas”:"Pensei: fogo, estou a ficar para trás" mas depois desenvolveu "um trabalho de calma, tens tempo". Hoje tem um "equilíbrio saudável e maduro" de quem está entre gerações.
Quando o Gustavo pergunta pela reação dos pais, o Manel conta que tudo começou depois de ver um espetáculo do Salvador Martinha:
"Fui falar com ele, ele disse-me quais eram as noites, receitou-me um livro de stand-up e eu fui para o Cais a Rir."
O pai foi quem o levou à primeira atuação — ficou na fila do fundo a assistir — e ainda hoje tem o vídeo da estreia guardado, que promete lançar quando lhe fizer sentido.
"Eles reagiram como se fosse um hobbie. Há quem tenha os filhos no teatro, na música ou no futebol. Os meus pais tinham o filho na stand-up."
Lembra ainda um episódio caricato em que a mãe o foi buscar mais cedo a uma atuação:
"Entra na sala, está com cento e tal pessoas a olhar e, acho que foi o Tiago, que estava a ser host, que disse: ‘É para vir buscar o Manel, que ele tem teste de Filosofia amanhã?’"
Mesmo atuando em espaços nem sempre próprios para um adolescente, o Manel garante que sempre foi responsável e que deu razões para os pais confiarem nele.
Durante a conversa, fala-se também da educação, da sua participação nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril e da dificuldade em assumir posicionamentos políticos nas redes sociais.
Em 2023 criou o Disnarrativo, um diário mensal em vídeo. Em 2024 começou a trazer convidados e, mais recentemente, com um episódio especial e o lançamento de camisolas idealizadas por si, chegou ao fim.
"Os excertos de Disnarrativo, principalmente no Instagram, foram o que me deu grande alavancagem. Porque mal ou bem, sem números, tu não consegues viver disto. Além disso, ganhei ali muita experiência de edição, idealização de cenário, realização, planos, guiões… Toda essa experiência vai deixar-me muito mais confortável para o que vier."
Mas se tudo corria bem, por que razão terminou? Por cansaço. A pressão da regularidade e a saturação do formato fizeram-no parar. "Da próxima vez que fizer algo longo para o YouTube, vai ser por temporadas", afirma.
Além disso, os cortes que publicava no Instagram e TikTok estavam a crescer mais do que os episódios completos no YouTube: "Estava a investir muito tempo naqueles 24 minutos para o YouTube, quando o que me estava a dar mais retorno eram 3 minutos mensais."
À data da gravação, ainda não tinha lançado o novo projeto de vídeos curtos, Histórias da Noite, que podes acompanhar no seu Instagram.
Sobre a possibilidade de um solo, Manel confirma que esse é um dos objetivos, mas avisa:"Quando apresentar uma coisa, quero que seja muito boa."
Sobre o Curto Circuito, diz com entusiasmo:
"Diverte-me! Quando as pessoas dizem que o CC é uma escola, é mesmo! Não só para outros formatos de televisão, que não descarto, mas também para o stand-up, para criar conteúdos, para vox-pops…"
E embora não tenha acesso a estatísticas, sente o impacto na rua. Conta que foi abordado por "um senhor de 50/60 anos, sem um dos dentes da frente, que saiu de uma tasca escura e gritou: ‘Ó Manel! Estou sempre a ver o Curto Circuito. Adoro aquela porcaria! Vocês são uns grandes malucos’".
Sobre novos projetos em televisão, fala com entusiasmo do convite para o Irritações, que ainda não tinha sido emitido na altura da gravação, mas que aceitou logo e que podes (re)ver aqui!
A conversa termina com o Worten Mock Fest — onde é um dos rostos — e o anúncio com o Ricardo Araújo Pereira:
"Estava lá tipo esponja. Estive ali não sei quantos dias a conversar com o Ricardo Araújo Pereira, que acho que é uma referência para qualquer pessoa que queira fazer comédia."
Ouve aqui o episódio completo do Humor à Primeira Vista!