No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Tenho 29 anos, mas lembro-me de ser pequenita, de ter uns 13 ou 14 anos, e de comprar a BLITZ”, recorda iolanda, quando questionada sobre as memórias que guarda da publicação, “e recordo-me, obviamente, de ver artistas que apareciam na revista e sonhar ver a minha cara ali, um dia. Tenho ideia de ver algo com os Amor Electro ou Donna Maria… Sempre fui muito fã da Marisa Liz. Depois, deixei de comprar porque lia tudo no telemóvel. Com o digital, deixei de ter a versão em papel e hoje vou seguindo o que fazem online, apesar de achar que corta muito as pernas ao formato físico. No sentido em que não tens uma coisa palpável para poderes recortar e colar num caderno. Lembro-me de fazer colagens com os artistas de quem gostava”.

A artista, que depois de conquistar o 10º lugar para Portugal na Eurovisão com a canção ‘Grito’ editou, em julho, o EP “Olhar P’ra Baixo”, assume a importância da BLITZ no seu percurso. “É sempre interessante para mim trabalhar com meios de comunicação e a BLITZ era, sem dúvida, um daqueles aos quais eu gostava de estar associada. Sempre trabalharam pela nossa cultura, pela nossa música, e isso é super importante”, defende iolanda, “é importante que essa ligação aconteça para que mais músicos possam ser ouvidos. Para mim, enquanto artista independente, é muito importante qualquer divulgação”.

“Sinto muita falta de haver, em Portugal, uma revista física que fale sobre música”, desabafa a artista, “claro que na era do digital é complicado, mas acho que é sempre possível. Sei que é importante poupar papel por causa do planeta, mas, ao mesmo tempo, sinto muita falta de uma revista física que fale sobre música e outros assuntos importantes da nossa indústria. O impacto da BLITZ, para mim, na altura, foi sempre aquela coisa de pensar que um dia também ia querer fazer música. Lia a ‘Rolling Stone’ também, porque o meu pai e a minha mãe sempre gostaram muito de música, e as revistas moldam bastante a forma como vemos a indústria. Aquela coisa de ver um artista ali e pensar ‘uau, que icónico’. Sempre me deu um ânimo muito grande e sinto que agora, com o digital, acaba por ser tudo muito mais volátil. Sinto falta daquele brilho extra”.

Considerando que “ainda há muito trabalho para fazer” pela visibilidade da música em Portugal, a artista acrescenta: “podemos ser muito mais exaustivos no trabalho que fazemos, tanto eu como os meios de comunicação… mas acho que isso já é um dado adquirido porque a cultura é sempre muito posta de lado. Por isso mesmo, publicações como a BLITZ são super importantes”. No futuro, iolanda gostaria de ver “muito mais conteúdo de vídeo”: “falta muito desse conteúdo em Portugal, uma coisa bem pensada, bem feita, onde os artistas possam ir tocar. Coisas como o ‘Colors’ ou late night shows. A BLITZ podia trabalhar nisso, também, quem sabe?”.