No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.
O radialista Henrique Amaro viajou quatro décadas no tempo para lembrar a sua primeira memória da BLITZ: “Talvez seja a capa do nº1 com a Siouxsie [Sioux], que ainda hoje guardo. Recordo também da dificuldade em encontrar uma banca que tivesse o jornal”, conta. “O nome e o conteúdo eram motivos de estranheza para quem vendia publicações, e a reação naqueles primeiros números eram sempre algo como: ‘Hã? O que é que este puto quer?…”.
A BLITZ, continua, acabou por ajudar no seu gosto pela música. “Naquela altura, melómano era uma palavra exagerada”, diz. “Eu era um miúdo com 14 anos, que começava a ter curiosidade em saber o que estava a acontecer no país e fora dele. Ao longo dos anos, teve uma importância fundamental no acompanhamento do que já conhecia através da rádio, e na descoberta de outras músicas e outras manifestações para lá da música”.
“Demonstrou que não havia um pensamento único, que a escrita e a reflexão sobre música era algo desenvolvido de modos diferentes e, para mim, foi também importante na criação do hábito de comprar um jornal dedicado ao que me interessava. Até 1984, só muito esporadicamente comprei o ‘Musicalíssimo’ e a revista ‘Música e Som’, e o [jornal] BLITZ, à terça-feira, tornou-se obrigatório”.
Segundo Henrique Amaro, os contributos da BLITZ para a música em Portugal “são vários”. “O principal foi informar o que estava a acontecer no presente, e lançar ideias para o futuro”, nota. “Cartografou o país nas suas variadas manifestações culturais. Em paralelo à visibilidade dada a quem criava, deu espaço a quem queria escrever sobre cultura pop e as suas margens. Arrisco a dizer que foi uma nova escola para o jornalismo cultural português. Diferenciou-se do passado e ofereceu milhares de folhas em branco para um vasto conjunto de jornalistas poderem exercer a profissão, sem estarem ligados às áreas mais comuns da sociedade”.
Para o radialista, “nos dias que correm, o facto de [a BLITZ] existir é uma conquista. Como se diz na bancada do estádio que costumo frequentar: respeitem a história e joguem à bola”, remata.