Em novembro do ano passado, o Atelier-Museu Júlio Pomar (AMJP) lançou um apelo a instituições públicas e privadas que possuíssem obras do artista de 1985 a 2018 para serem incluídas no terceiro volume do catálogo 'raisonné', exclusivamente dedicado à pintura, em preparação.

Contactada pela agência Lusa sobre os resultados da campanha, fonte da comunicação da entidade deu conta da receção de "quase duas dezenas de respostas de colecionadores particulares" com informações sobre a localização atual de dez pinturas enquadradas no período em estudo.

Entre as obras estão duas cuja existência ou paradeiro eram até agora desconhecidos, segundo a entidade, consideradas "fundamentais para o desenvolvimento da investigação que pretende estudar e sistematizar informações sobre a produção pictórica" de Júlio Pomar.

Uma delas intitula-se "Cochon funambule à l'épée" (1995-1996), cuja única reprodução conhecida até à data consistia na imagem publicada da exposição "Le Petit Canard", da Galerie Piltzer em Paris, França.

Outra importante localização, segundo o atelier-museu, foi a obra "Femme Toreador" (2004), "conhecida apenas através de fotografias realizadas durante o processo de trabalho do pintor guardadas nos seus arquivos pessoais".

A entidade dedicada ao estudo e divulgação da obra do artista que morreu em 2018 está a reunir toda a informação sobre as pinturas deste período, criadas em óleo, acrílico, guache, aguarela, colagem ou outro meio, sobre tela, papel ou outro suporte.

"Maioritariamente, estes contactos [de colecionadores] revelaram o paradeiro de obras que integraram importantes exposições e que foram reproduzidas em catálogos, mas das quais se tinha perdido o rasto após a sua entrada no mercado", indicou a mesma fonte do AMJP.

Noutros casos, "permitiram localizar obras que raramente foram vistas, configurando um acesso e compreensão mais completa do seu percurso, sendo a sua atual localização uma novidade para o Atelier-Museu Júlio Pomar", salientou a entidade.

Este terceiro volume do catálogo 'raisonné" de Júlio Pomar, um dos artistas de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa, pretende dar continuidade aos dois volumes anteriores, coordenados pelo crítico de arte Alexandre Pomar e publicados pela editora francesa Éditions de La Différence em 2004.

O projeto tem como responsáveis as historiadoras da arte Rita Salgueiro e Joana Baião, contando novamente com a colaboração de Alexandre Pomar, segundo o AMJP.

Ainda segundo a entidade, o apelo a instituições e colecionadores particulares "tem vindo a revelar o paradeiro de várias obras que escapam ao escopo temporal" do catálogo, mas "constituem informação válida para futuras investigações e exposições".

Nesse sentido, o AMJP está a preparar uma nova campanha de localização, focada nos anos de 1990 porque "existem algumas lacunas na localização de séries de pinturas de grande relevância no trabalho de Júlio Pomar", onde se incluem obras apresentadas na exposição "O Paraísos e Outras Histórias", patente na Culturgest em 1994.

Paralelamente a este trabalho, será iniciada, no segundo semestre do ano, uma campanha fotográfica que visa recolher imagens de obras pertencentes a colecionadores particulares e que agora serão integradas no novo volume do catálogo 'raisonné' de Júlio Pomar.

A recolha de informação sobre obras decorre até ao dia 01 de junho de 2025, tendo o Atelier-Museu disponibilizado um formulário na sua página 'online' (ateliermuseujuliopomar.pt) para que as pinturas possam ser referenciadas e incluídas no catálogo.

O Atelier-Museu - que Júlio Pomar ainda viu ser inaugurado, em 2013 -, tutelado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC/Lisboa Cultura), tem vindo a realizar exposições da obra do artista e em diálogo com outros criadores, assim como a publicar catálogos e apoiar a investigação sobre o artista.

Pintor e escultor, nascido em Lisboa, Júlio Pomar morreu aos 92 anos, deixando uma obra multifacetada - na pintura, escultura, colagem, azulejo, desenho - percorrendo mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo, o fado e viagens como foi o caso da Amazónia, no Brasil.

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