Os trabalhadores da Trust in News (TiN) vão manter a greve em curso por tempo indeterminado, disse ao Expresso Clara Teixeira, delegada sindical da Visão, uma das 16 publicações detidas por este grupo de comunicação social. Reunidos em plenário esta sexta-feira, ao sexto dia de uma greve convocada como protesto pelo facto de terem parte dos salários e subsídios de refeição e de férias por pagar, 44 dos 55 trabalhadores presentes decidiram manter esta forma de luta.

Em causa está não só o facto de haver parte dos salários e os subsídios em dívida, mas também a exigência de um plano realista para a sustentabilidade da TiN e a injeção de capital pelo acionista da empresa, Luís Delgado, de forma a estabilizar as contas.

A greve teve início à meia-noite de 20 de junho, contando com uma adesão de 80% dos trabalhadores afetos à redação e de 50% do número total de trabalhadores. Neste momento, a empresa tem já menos de 90 trabalhadores, estando prevista a saída de mais seis no final do mês devido a extinção de posto de trabalho. O plano de recuperação apresentado por Luís Delgado, que foi aprovado no final de maio pela maioria dos credores da empresa, previa a saída de 20 trabalhadores, prespetivando-se então um despedimento coletivo.

Apesar dos impactos da greve na produção das publicações do grupo, estas acabaram por sair. A edição da Caras desta semana foi publicada com um dia de atraso e a Visão foi para as bancas em versão minimalista. Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas criticou na quinta-feira a forma como a TiN fez sair as publicações: A revista Visão, em formato reduzido, que chegou hoje às bancas não preenche a missão de interesse público que merece.

Podem ter saído revistas, mas todos sabemos que a situação é insustentável. Quantas mais poderão ser produzidas contra a vontade das redações? Até quando quer a gerência da Trust in News colocar revistas em banca que defraudam desta forma a expectativa de leitores habituados à qualidade dos títulos históricos nas suas mãos, prejudicando a sua reputação? Publicando traduções, recorrendo a colaboradores externos, transferindo designers gráficos de umas revistas para outras, não poderão ocultar a greve, acrescentou o sindicato.

Neste momento, a empresa deve 75% do salário de maio, assim como o subsídio de refeição e os subsídios de férias de pessoas que entraram de férias entretanto. E deveria pagar agora as remunerações de junho.

Prova de fogo na segunda-feira

Na próxima segunda-feira, 30 de junho, será a primeira prova de fogo da TiN após os credores terem aprovado – com 77% dos votos a favor – o plano de recuperação apresentado por Luís Delgado. No âmbito dessa aprovação, a Segurança Social e a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) fizeram saber que, a partir de agora, a TiN terá de comprovar no final de cada mês que pagou as prestações mensais a que está obrigada relativas à dívida em atraso dos impostos e Segurança Social. E este é o primeiro mês em que isso está em prática.

O plano de recuperação determina, por imposição da AT e da Segurança Social, que o administrador judicial, André Pais, ficará a fiscalizar, durante pelo menos dois anos, o cumprimento do plano, estando a empresa impedida de gerar mais dívida ao Estado. O acordo com os dois organismos do Estado consagra que no último dia útil de cada mês a TiN terá de emitir, pelos portais das Finanças e da Segurança Social, uma certidão de situação tributária regularizada e proceder à sua entrega ao administrador judicial, que deverá atestar e reconhecer o cumprimento integral do plano e que nenhuma nova dívida tributária foi gerada. Se as obrigações não tiverem sido cumpridas, isso funcionará como “prova de que a TiN não cumpriu o plano de insolvência aprovado e homologado, pelo que serão acionados de imedia­to os mecanismos legais com vista ao reconhecimento da sua situação de insolvência”, o que resultará na liquidação da empresa, como escreveu a Segurança Social na sua declaração de voto. A certificação por André Pais será feita na terça-feira.

Luís Delgado comprometeu-se a fazer entrar faseadamente até 1,5 milhões de euros na empresa. Já fez entrar algum dinheiro, nomeadamente para pagar impostos em atraso, mas insuficiente, como se tem visto pelo menos no que diz respeito ao pagamento dos salários e subsídios dos trabalhadores. Desde 7 de junho que passou a gerir novamente a empresa. Não tendo a TiN receitas suficientes para os pagamentos à Segurança Social e à AT, e a não ser que surja algum adiamento inesperado, Delgado terá de voltar a colocar dinheiro na empresa para a manter em atividade.

Para 14 de julho estão agendadas reuniões de conciliação com credores que contestam os montantes em dívida pela empresa, entre os quais se encontram muitos trabalhadores. Só nessa altura o processo de insolvência será encerrado, com a homologação por parte da juíza do tribunal de Sintra que tem o caso em mãos.