
As frutas alinhadas no carrinho de mão e da máquina de triturar, juntamente com a cana-de-açúcar, anunciam pelas ruas da cidade os habituais sumos tropicais, feitos na hora e sustento de centenas de famílias.
"Aqui depende de sorte, é um grande problema mesmo", começa por contar à Lusa António Djimo, de 26 anos, vendedor de sumo de cana-de-açúcar numa das avenidas da cidade de Maputo.
De gorro na cabeça, até porque o tempo do calor já passou, o dia passa-o na rua, à procura de clientes para o sumo, que vende a 100 meticais (1,40 euros), como tantos outros 'colegas' nas proximidades.
Num país que se prepara para assinalar os 50 anos de independência, proclamada em 25 de junho de 1975, pouco mais de 70% da população em idade para trabalhar tem emprego, enquanto entre os mais jovens a taxa de desemprego baixa para apenas 24,8%, segundo dados do Governo.
Apesar de ser o sustento de casa, o retorno, segundo Djimo, é que é pouco: "O negócio não tem rendimento para conseguir guardar qualquer coisa no bolso".
Ainda assim, admite que depende do negócio para fintar o desemprego.
"Todos em casa dependemos desse negócio, não estou a confiar noutro trabalho", conta ainda, enquanto mistura na sua máquina a cana-de-açúcar com maracujá, laranja e gengibre, para o primeiro cliente do dia.
Até 2029, o Governo pretende elevar a taxa de emprego para 75,4% e baixar o desemprego jovem para 22,10%, apostando ao mesmo tempo em incentivos para estimular a formalização das empresas que operam no setor informal.
O executivo quer ainda "desenvolver e implementar uma estratégia com enfoque na tributação dos rendimentos gerados na economia, incluindo medidas de combate à evasão fiscal, e a implementação de uma estrutura de incentivos para estimular a formalização da empresas que operam do setor informal", lê-se nos documentos do Orçamento do Estado para 2025, que prevê ainda financiar 3.038 pequenas iniciativas geradoras de emprego e autoemprego para 'bolseiros' do Acredita Emprega.
Um desses negócios pode ser o de António, que admite o "pouco rendimento" que agora gera: pouco mais de 1.000 meticais (14 euros) que consegue fazer por dia com os sumos.
Não muito longe dali, com a rede a prender o cabelo, Fidel Castro, 25 anos, outro vendedor de sumo de fruta e cana-de-açúcar, conta à Lusa que continua a "arriscar-se" na rua, para sustentar os dois filhos e esposa.
"Não é fácil trabalhar no meio dessas circunstâncias, mas não temos alternativas. Para tentarmos ganhar o pão temos que arriscar", refere Fidel, naquele negócio há dois anos, todos os dias, das 06:00 às 19:00.
Por dia, consegue levar para casa pouco mais de 700 meticais (9,6 euros), apesar da muita concorrência.
"Às vezes é mais vantajoso quando aparecem aqueles que já tens na manga, aqueles que já adquiriram o teu sumo. Quando fazes bom sumo, os clientes acabam adquirindo e conseguem encomendar, aí você acaba adquirindo um pouco mais de vantagem através dessa pequena experiência", diz Fidel Castro.
Um copo deste sumo, feito na hora e na rua, varia de 50 meticais (70 cêntimos) a 100 meticais (1,40 euros), segundo os preços praticados também por Jonas Vasco Machava, 29 anos, que monta a banca todos os dias na avenida 10 de Novembro, na baixa de Maputo.
Conta à Lusa que entrou no negócio com ajuda do irmão, assim que ficou desempregado, há oito meses: "A situação está complicada, há escassez de clientes, de dinheiro. Na verdade, não é escassez de cliente, mas sim de dinheiro, que não têm".
Pai de dois filhos, queixa-se das dificuldades para sustentar a sua família somente com este negócio.
São 13:00 e ainda nenhum cliente apareceu a pedir sumo: "Tem sido, na verdade, muito difícil. É um desafio, um desafio enorme".
Abre a sua banca improvisada pelas 07:00, mas o dia, e a procura dos clientes, do executivo ao informal, também depende do estado do tempo, e complica agora que os dias de temperaturas acima de 30 graus já lá vão.
"Tomam suco por causa de calor e há outros que tomam por gostar, por saber o valor do próprio suco", explica.
Também a falta de opções de trabalho para sustentar a família levou Belém Joaquim, 29 anos, outro vendedor de sumo de cana-de-açúcar, a atividade, desde 2024, como "forma de sobrevivência".
"Não há moedas e o resultado é sair à rua e fazer esse tipo de negócio", conta à Lusa, garantido que com a venda do sumo, sobretudo a turistas, consegue sustentar os seus dois filhos.
*** Paulo Julião (texto), Fernando Cumaio (vídeo) e Luísa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***
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