É já o negócio do ano no setor do luxo. Apesar das incertezas mundiais, gerada pela guerra das tarifas, e pelo abrandamento do setor da moda de luxo, os negócios não param quando são motivados pela procura de crescimento. Assim, o Grupo Prada acaba de anunciar que concluiu as negociações para comprar a sua concorrente Versace por 1,25 mil milhões de euros. As conversações, que já decorriam há meses, culminam agora numa aquisição que representa um decréscimo de cerca de 600 milhões de euros face ao valor pago pela empresa Capri Holdings, em 2018, quando comprou a marca italiana. Este grupo de luxo norte americano é ainda dono da Michael Kors e da Jimy Choo. Segundo o comunicado emitido pela empresa, está previsto que que a transação seja concluída no segundo semestre de 2025, sujeita às condições habituais de fecho, incluindo as aprovações regulamentares.

Cotado na Bolsa de Nova Iorque, a Capri Holdings tinha, na altura da aquisição, o objetivo aumentar as vendas da Versace para dois mil milhões de dólares (cerca de 1,79 mil milhões de euros) anuais, volume que representava quase a duplicação das receitas à data. Pagou cerca de 1,85 mil milhões de euros pela empresa, e estimava ainda aumentar o número de lojas, passando de 200 para 300, e acelerar a sua aposta no comércio online.

As ações da Capri Holdings, grupo vendedor, caíram cerca de 65% no último ano, tendo caído 21% só no último mês. A guerra das tarifas, iniciada pelo novo governo dos Estados Unidos, não tem ajudado à recuperação do valor do grupo de luxo.

A Versace ainda muito centrada na família do falecido estilista Gianni Versace, preparava um IPO (oferta inicial de venda em bolsa) que não aconteceu por falta de condições do mercado. Porém, os planos da empresa dona da Michael Kors não correram como previsto. A Versace tem perdido faturação, e em 2024 o seu volume de negócio ficava-se pelos mil milhões de dólares (cerca de 894 milhões de euros) tendo registado uma quebra superior a 100 milhões de dólares face a 2023, ficando até abaixo das receitas de 2022.

Fundada em Milão, em 1978, a marca é um ícone da moda italiana, tendo diversificado para vários segmentos da moda, como os acessórios, o calçado, relógios, joalharia, perfumaria e até mobiliário. O CEO da Capri Holdings, John D. Idol, afirma em comunicado que a marca fez bastantes progressos nos últimos anos para se reposicionar como uma grande marca no luxo exclusivo e artesanal. “(…) A marca está agora bem posicionada para um crescimento sustentável a longo prazo. Estamos confiantes de que o Grupo Prada é a empresa perfeita para guiar a Versace para a sua próxima era de crescimento e sucesso.”

A Capri Holdings/Michael Kors vale atualmente no mercado bolsista apenas 1,73 mil milhões de dólares (cerca de 1,54 mil milhões de euros), pouco mais do que a Prada está agora a pagar pela Versace.

E acrescenta ainda que esta transação se inclui numa estratégia destinada a aumentar valor para os acionistas, reforçar o balanço e impulsionando o crescimento futuro da Michael Kors e da Jimmy Choo. Recorde-se que as ações da Capri Holdings/Michael Kors caíram cerca de 65% no último ano, tendo caído 21% só no último mês. A guerra das tarifas, iniciada pelo novo governo dos Estados Unidos não tem ajudado à recuperação do valor do grupo de luxo. A empresa vale atualmente no mercado bolsista apenas 1,73 mil milhões de dólares (cerca de 1,54 mil milhões de euros), pouco mais do que a Prada está agora a pagar pela Versace.

Investimento de 250 milhões de euros para relançar a marca

O Grupo Prada anunciou ainda que vai investir cerca de 250 milhões de euros para relançar a marca concorrente. O grupo, que também detém a Miu Miu, não quis deixar de lado a oportunidade de unir forças a uma marca italiana reconhecida globalmente como a Versace.

Patrizio Bertelli, presidente e diretor executivo do Grupo Prada, comentou a propósito: “Estamos muito satisfeitos por receber a Versace no Grupo Prada e por poder construir um novo capítulo para uma marca com a qual partilhamos um forte compromisso (…). O nosso objetivo é dar continuidade ao legado da Versace, celebrando e reinterpretando a sua estética arrojada e intemporal; ao mesmo tempo, iremos fornecer-lhe uma plataforma forte, reforçada por anos de investimentos contínuos e enraizada em relações de longa data”.

As vendas do grupo Prada cresceram cerca de 15% em 2024, alcançando os 5,4 mil milhões de euros, crescimento impulsionado sobretudo pelas vendas da marca Miu Miu, que quase duplicaram.

Também Andrea Guerra, diretor-geral do grupo, reforçou esta ideia, em comunicado, dizendo: “A aquisição da Versace marca mais um passo no percurso evolutivo do nosso grupo, acrescentando uma nova dimensão, diferente e complementar. (…) A Versace tem um enorme potencial. A viagem será longa e exigirá uma execução disciplinada e paciência. (…) Apesar das incertezas do sector, olhamos para o futuro com confiança, concentrados numa visão estratégica a longo prazo”. O objectivo principal do grupo comprador é que conseguir reduzir as perdas do último ano da marca italiana até março de 2026.

Em março passado, a Versace tinha anunciado um novo diretor criativo, Dario Vitale, que veio precisamente da Miu Miu, uma marca que tem registado um crescimento sustentado, substituindo Donatella Versace, que assumia o cargo desde 1997. Este já foi um sinal de que as negociações entre os dois gigantes do luxo estavam a chegar a bom porto.

As vendas do Grupo Prada cresceram cerca de 15% em 2024, alcançando os 5,4 mil milhões de euros, crescimento impulsionado sobretudo pelas vendas da marca Miu Miu, que quase duplicaram.