O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno estima que o crescimento da economia portuguesa em 2025 possa melhorar, mas não se pode ignorar os acontecimentos dentro e fora do país que podem trazer ‘nuances’ e novas avaliações.

As eleições legislativas antecipadas, que mergulharam o país numa crise política, o cenário geopolítico, assim como a guerra tarifária entre os Estados Unidos, China e Europa, podem piorar as previsões.

As estimativas do Banco de Portugal no Boletim Económico de março estimam que a economia cresça 2,3% em 2025, aumentando face à última estimativa que era de 2,2%.

Questionado pelo Expresso sobre o impacto pode ter, num cenário a nível nacional, o facto de ter caído o Governo, Mário Centeno, afirma que “melhorar, não melhora”.

Os agentes económicos adoram previsibilidade e gostam de saber avaliar o futuro", para dizer que o que "mais sofre é o investimento". Ainda assim, refere que o país neste momento "beneficia" de alguma estabilidade ao nível do mercado de trabalho e mão-de-obra, assim como de uma situação financeira estável. Mas, se estes fatores "foram afetados por estas incertezas, a situação pode torna-se mais complexa".

São muitos episódios legislativos em pouco tempo. "E vão três: 2022; 2024; 2025", afirma. Para dizer que a economia portuguesa tem condições positivas. Ou seja, está a aguentar os embates.

No que toca ao facto de haver novo enquadramento político à vista e a uma recondução de mandato, o governador remete para anteriores declarações, referindo não haver nenhum comentário que possa fazer. Está a desempenhar o cargo para chegar ao próximo ano em "condições de ter um segundo mandato". “Se, vem ou não vem, é um tema da esfera política”, assinala.

Ucrânia, Médio Oriente e EUA

Na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico de março destacam-se "riscos de projeção significativos", na estimativa do crescimento na Europa e Portugal, que vão desde a invasão da Ucrânia ao conflito no Médio Oriente, "ao que se junta a nova orientação geopolítica e comercial dos Estados Unidos.". Situação que "pode significar aumentos do preço das matérias-primas, disrupções nas cadeias de abastecimento, menor crescimento do comércio mundial e flutuações cambiais marcadas". Uma incerteza que "pode levar empresas e famílias a adiar ou cancelar decisões de investimento e consumo".

Sobre esta situação de agravamento das tarifas impostas pelos EUA às importações da União Europeia, conclui que poderão ter um "impacto negativo relevante na economia portuguesa".