Os portugueses são conhecidos por serem conservadores nos seus investimentos e o mais recente estudo da Católica e do Doutor Finanças vem reforçar esta ideia. Segundo os dados revelados, 29% dos inquiridos admite que os depósitos a prazo são o seu ativo preferido onde investir, seguido dos certificados de aforro, com 15% das respostas. Por outro lado, 48% das pessoas não investe de todo.

Apesar de a aposta nos certificados de aforro ser mais rentável do que na maioria dos depósitos a prazo, é notável que estes últimos têm o dobro da preferência por parte dos portugueses. Questionado pelo Jornal PT50 sobre esta tendência, o ‘chief educational officer’ do Doutor Finanças, Sérgio Cardoso, acredita que a inércia é a razão para isto acontecer. “Os depósitos a prazo são oferecidos diretamente pelos bancos onde as pessoas têm as suas contas, tornando o processo mais imediato e acessível”, explica.

“Embora os certificados de aforro sejam mais rentáveis do que a maioria dos depósitos a prazo, a sua subscrição inicial exige uma deslocação aos CTT ou, recentemente, a existência de uma conta num banco específico”, justifica Sérgio Cardoso. Acrescenta ainda que os portugueses “preferem investir em produtos que conhecem e compreendem, fruto, eventualmente, da baixa literacia em investimentos”.

De facto, o estudo realizado demonstra que 42% da população portuguesa escolhe os seus investimentos tendo primeiramente em conta o nível de segurança dos mesmos, o que vai ao encontro do que foi referido anteriormente. É possível observar ainda que a forma, ou plataforma, de investimento mais utilizada pelos inquiridos é a banca tradicional. 58% das pessoas indica este meio como forma de investir, sendo que 48% investe apenas desta forma.

A inércia volta a entrar em campo aqui. “A confiança e a conveniência jogam a favor da banca tradicional”, considera Sérgio Cardoso. Apesar da predominância deste meio, as plataformas de investimento aparecem em segundo lugar e as corretoras online em terceiro, utilizadas por 23% e 14% dos inquiridos, respetivamente. A banca de investimento aparece no fim da tabela. A justificação que o ‘chief education officer’ do Doutor Finanças apresenta para isto prende-se com os bancos de investimento estarem “mais associados a clientes com carteiras mais robustas ou conhecimento técnico elevado”.

A maior popularidade das plataformas e corretoras devem-se à vontade dos investidores de “explorar alternativas”, o que leva a procurar produtos fora do portfólio do seu banco. “As plataformas de investimento e corretoras ‘online’ democratizaram o acesso aos mercados financeiros, oferecendo maior acessibilidade, autonomia e custos baixos para o investidor comum”, realça.

Em termos de idades, a banca tradicional destaca-se entre a população mais velha, enquanto as plataformas e corretoras atraem as camadas mais jovens, ainda que “essa preferência [pelas plataformas e corretoras] não apresente uma diferença marcante em relação às outras faixas etárias”, refere o estudo. Sobre esta questão, Sérgio Cardoso nota que, apesar da escassez de dados a nível nacional, “as tendências de mercado internacionais indicam que as gerações mais jovens estão mais interessadas em investir, sobretudo através de meios digitais”.

Sérgio Cardoso sublinha que os mais jovens estão “mais expostos a conteúdos financeiros ‘online’ (como vídeos, podcasts e ‘influencers’), mais dispostos a experimentar plataformas digitais e mais conscientes da importância de rentabilizar o dinheiro”. Contudo, alerta que “esta curiosidade nem sempre vem acompanhada do conhecimento necessário – e há muita desinformação ‘online’. Isto reforça a importância da educação financeira desde cedo, para garantir que esta vontade se traduz em decisões informadas e sustentáveis”.

Mais de um terço das pessoas raramente discute dinheiro em família

O tema do dinheiro e dos investimentos continua a ser sensível entre os portugueses. Os resultados deste estudo revelam que mais de uma em cada três pessoas fala esporadicamente ou não fala sobre dinheiro em família. Mais especificamente, 9% não falam de todo, 10% fala raramente e 16% admite discutir o assunto quando surge algo importante. Entre as pessoas que falam menos, sobressaem as famílias com os respondentes mais velhos. Mais especificamente, acima dos 45 anos.

Questionados sobre a maneira como abordam questões financeiras com os filhos ou se as abordam de todo, fica-se a saber que 31% dos pais de crianças até aos seis anos falam com os filhos sobre dinheiro. Esta percentagem sobe para 64% para crianças entre seis e dez anos, 73% dos dez aos 15 e 66% para jovens dos 15 aos 18.

Entre os que nunca falam sobre dinheiro com os filhos, a maior fatia pertence aos pais de crianças até aos seis anos, onde um terço refere que este não é um tema para crianças. Esta percentagem vai baixando com a idade, fixando-se em 16% entre os seis e os dez anos, 3% entre os dez e os 15 e 2% dos 15 aos 18.

Sobre a atribuição de semanadas ou mesadas aos filhos, observa-se que 77% dos pais de crianças até aos seis anos nunca dá dinheiro aos filhos. Este valor baixa para menos de metade quando se considera a faixa etária dos seis aos dez, para 30%. Contudo, mesmo nas idades mais avançadas, a maioria dos pais apenas dá dinheiro aos filhos quando eles precisam. 58% dos pais de jovens entre os dez e os 15 e 59% dos 15 aos 18 entram nesta categoria. Por outro lado, 31% e 39%, respetivamente, recebem semanada ou mesada.

Sérgio Cardoso revela que o escape ao tema financeiro é comum e uma realidade que o Doutor Finanças conhece bem, “devido ao contacto que mantemos com aqueles que nos procuram”. “A autonomia e o contacto com o dinheiro desde cedo ajudam as crianças a desenvolver competências essenciais para uma relação saudável com as finanças”, defende e acrescenta que “dar mesadas ou semanadas com um propósito educativo, envolvê-las nas decisões do dia a dia e explicar como se gere o orçamento familiar são formas eficazes de promover a literacia financeira”.

A questão do dinheiro como tabu, dentro deste inquérito, denota-se na resposta que incide sobre os créditos. Quando questionados sobre se pagam atempadamente os seus créditos – sejam eles quais forem – 42% dos inquiridos evitou responder. O ‘chief education officer’ do Doutor Finanças aponta para um estudo anterior da empresa que demonstrou que cerca de metade da população portuguesa se sentia “insatisfeita” com a sua vida financeira e experienciava stress devido à sua condição financeira. “O barómetro que divulgamos agora é mais um sinal de que há muito a fazer para que as finanças deixem de ser uma causa de sofrimento, um tema penoso de que se evita falar”, argumenta.

21% dos portugueses não faz qualquer poupança

Ainda na questão da saúde financeira das pessoas, o estudo mostra que 21% dos inquiridos não reserva dinheiro para poupança. Os mais velhos – acima dos 55 anos – destacam-se entre as pessoas que não põem dinheiro de parte. Sabe-se ainda que 24% poupa esporadicamente, sendo que 5% só o faz quando recebe o subsídio de natal ou de férias.

60% dos respondentes poupam para o caso de necessidade, sendo que 42% poupam apenas por esta razão. Apenas 13% poupa sem ter qualquer objetivo concreto. As mulheres apresentam-se como sendo mais “prudentes e eficientes” e tendem mais a reservar uma parte do seu rendimento logo no início do mês.

Sobre a proporção de rendimento poupado, a maioria, 24%, põe de lado entre 5% e 10% do mesmo. Já 20% dos inquiridos revela poupar entre 10% e 20% do seu rendimento. 12% das pessoas referem não poupar nada. Analisando os rendimentos por agregado familiar, a conclusão do estudo é que “as taxas mais elevadas de poupança estão associadas aos rendimentos superiores, indicando uma relação direta entre maior salário e capacidade de poupar”.