
Os livros da história da seleção feminina terão, para sempre, o nome de Diana Gomes, autora do golo que levou Portugal ao seu primeiro mundial da história. Mais de dois anos depois, a defesa central é uma das referências das Navegadoras e um dos pilares da candidatura de Portugal a ser feliz na Suíça. Depois de três anos no Sevilha, a defesa está a ser associada ao Benfica, mas só está focada em fazer história no Europeu. Em entrevista ao Bola na Rede, a internacional portuguesa fala nas transformações da seleção, do seu papel no grupo e da competitividade que experienciou no país da hegemónica Roja.
«Podemos fazer coisas bonitas e história por Portugal».
Diana Gomes
Bola na Rede: Diana Gomes, já tens vários anos de casa. Há algum tipo de diferença na preparação deste Europeu em comparação com os anteriores?
Diana Gomes: Sabemos que, quando há estas competições anos após anos, há sempre melhorias para podermos conquistar ainda mais coisas e fazer história por Portugal. O nosso foco é trabalhar todos os dias em cada treino, dar o nosso melhor e fazer o que o professor [Francisco Neto] pede. Só assim conseguiremos fazer história por Portugal. Enquanto grupo sentimos que estamos bem, focadas e que podemos fazer coisas bonitas.
Bola na Rede: Já traçaram objetivos para a competição?
Diana Gomes: Sim. Os nossos objetivos é ir jogo a jogo. Sabemos que é um grupo super difícil, mas temos de pensar jogo a jogo. O nosso objetivo é passar à fase seguinte e estamos a trabalhar agora para que isso seja possível.
Bola na Rede: O grupo tem a Espanha e a Bélgica, contra quem Portugal jogou recentemente e com alguns resultados volumosos. O que é que estes jogos menos positivos permitiram ao nível da aprendizagem e do crescimento?
Diana Gomes: Não era o resultado que queríamos, mas podemos tirar desses resultados aprendizagens para que no Europeu as coisas possam correr melhor e consigamos corrigir o que não fizemos tão bem.
Bola na Rede: A seleção que era do 4-4-2 losango joga agora muitas vezes com três defesas atrás. Enquanto defesa central, o que mudou no teu jogo?
Diana Gomes: São diferentes as táticas, mas cada uma delas tem o objetivo de trazer o melhor para a equipa. Como central, e jogando num 3-5-2 ou num 4-4-2, a minha função é sempre a mesma. Tenho de jogar, de fazer o que professor manda e fazer o que ele pede. Só assim é que conseguimos ir mais longe. Temos de estar todas em sintonia e fazer o trabalho que é pedido.
«Futuro? É uma coisa que estou a tratar com o meu agente. Há muita coisa em cima da mesa».
Diana Gomes

Bola na Rede: Como te definirias como defesa central?
Diana Gomes: Caracterizo-me como uma jogadora agressiva e com qualidade na saída de bola. A minha principal característica é a agressividade que tenho e nunca deixar um lance por perdido.
Bola na Rede: Na seleção jogas muitas vezes com a Carole Costa. Como é jogar ao lado de uma verdadeira voz de comando?
Diana Gomes: É sempre bom. São referências para nós e é bom estar ao lado de uma pessoa com tanta experiência e jogos pela seleção e olhar para ela e saber que estamos a aprender algo de novo. Tudo o que ela nos diz é para o nosso bem e para aprendermos algo de novo.
Bola na Rede: Já consegues ser a Carole Costa para as mais novas na seleção?
Diana Gomes: A Carole Costa não, se calhar a Diana Gomes. Sim, acho que com os anos a passar, e já vou para os 27 anos, começo a ser referente para as jogadoras mais jovens. Digo sempre que quando era mais nova tinha jogadoras referentes e, nesse papel, temos de dar o exemplo e mostrar às mais novas que podem concretizar os sonhos que têm desde pequeninas. É possível.
Bola na Rede: Uma dupla com a Carole Costa pode ser replicada fora do contexto da seleção, no Benfica?
Diana Gomes: Para já ainda não sei responder a essa pergunta. É uma coisa que estou a tratar com o meu agente. Há muita coisa em cima da mesa, e o que for melhor para mim e para o meu futuro é onde vou estar.
«A competitividade está um passo à frente da Liga Portuguesa e só tenho coisas positivas a dizer do Sevilha e de Espanha».
Diana Gomes

Bola na Rede: O Sevilha já oficializou a tua saída. Qual o balanço que fazes dos anos em Espanha numa das melhores ligas do mundo?
Diana Gomes: Foi uma experiência incrível. Tomei a decisão de ir jogar para o Sevilha e para Espanha e não me arrependo de nada nem da decisão que tomei. Cresci muito como atleta e, principalmente, como pessoa. Aprendi a dar valor à vida de maneira diferente. Como jogadora cresci imenso. A competitividade está um passo à frente da Liga Portuguesa e só tenho coisas positivas a dizer do Sevilha e de Espanha.
Bola na Rede: Permite chegar a um melhor nível à seleção?
Diana Gomes: Sim, sem dúvida alguma. Quando vinha à seleção notava que o facto de estar a competir contra grandes equipas e de estar no clube em que estava era uma grande ajuda para chegar à seleção e não notar diferença em termos de qualidade e de ritmo. Pelo contrário, até ajudava.
Bola na Rede: É esse o passo que faltava dar na jogadora portuguesa e na seleção?
Diana Gomes: Sim. Mesmo em Portugal a liga está a crescer e isso vê-se. Há mais jogadoras que arriscam ir para uma Liga Espanhola ou uma Liga Inglesa, que são as mais competitivas. É sempre bom para a jogadora portuguesa estar nessas ligas e ajuda a seleção.
Bola na Rede: Temos várias jogadoras a deixar Portugal para ir para o futebol espanhol, inclusive várias da seleção. Como era o ambiente quando jogavam umas contra as outras?
Diana Gomes: É sempre bom jogarmos umas contra as outras e no final do jogo sabermos que são da nossa casa, são portuguesas. Mesmo não sendo jogadoras, ver pessoas portuguesas lá fora, no caso em Espanha, é como estar em casa de novo. É uma alegria defrontar jogadoras portuguesas de outros clubes. No final do jogo há sempre um riso e um abraço de família.
Bola na Rede: Também na Suíça, onde há muitos emigrantes, será possível sentir esse sentimento de família. Que mensagem deixas a todos os portugueses que estarão por terras helvéticas?
Diana Gomes: Para nos virem apoiar e acreditarem em nós. Vamos dar muitos sorrisos aos portugueses.