
A situação era agonizante. Um Benfica em estado vegetativo estava em completa subjugação, à mercê de alguém com a mão na ficha pronto a arrancá-la da tomada impedindo uma vida decrépita de continuar.
Os encarnados foram ao Minho à procura de um último parecer para a sua mais que diagnosticada fatalidade. Moribundos chegaram a Braga de dignidade esfiapada e descrentes que de lá pudessem regressar com uma avaliação diferente que evitasse o tétrico desfecho na luta pelo título.
Ainda não se sabia como se ia encaminhar a resolução dos assuntos pendentes e Bruno Lage já estava de olhos pregados no chão mostrando a descrença nos gestos quetentou esconder com palavras. O Benfica perdeu o ódio pelo caos e abraçou-o. Não houve ânimo que quisesse manifestar-se em corpos alérgicos a qualquer xarope de ambição. Essa não depende de nada nem de ninguém. Aqui, como noutros momentos, a equipa da Luz simplesmente a rejeitou.
Para ser campeão,o Benfica tinha obrigatoriamente que esperar um deslize do Sporting contra o Vitória SC e fazer melhor do que o rival de modo a desfazer a igualdade pontual na classificação. Ou seja, tudo isto se decidia num sobredimensionado retângulo verde com espaço para quatro equipas e comprimento de mais de 360 quilómetros entre a Pedreira e Alvalade. Via rádio e telemóvel, instrumentos que nos imputam omnipresença, tudo o que se passava numa ponta chegava com facilidade à outra.
A existência ou não de telecomunicações era o menor dos problemas do Benfica. Antes de se inteirar do que se passava em Lisboa, havia que brindar as testemunhas oculares no estádio dos arsenalistas com uma prestação do nível daquilo que aspirava a ser. Missão falhada.
A equipa de Bruno Lage manteve-se pouco tempo ligada às máquinas. O discernimento não integrou a indumentária e seria difícil escolher o jogador mais assarapantado. O SC Braga entrou em campo com acutilância nos encurtamentos aos pés dos adversários, que se acanharam para evitar mordidelas, e anulou a construção das águias.
A ideia inicial de Carlos Carvalhal passava por suster o Benfica com uma defesa de quatro elementos, mas a tentação de Víctor Gómez para saltar nos movimentos de apoio de Schjelderup e, sobretudo, a envolvência que Tomás Araújo estava a conseguir ter pelo flanco direito levaram Ricardo Horta a agrupar-se junto da linha defensiva.
Por desleixo do SC Braga, Leandro Barreiro - com a sua menor multifuncionalidade, entrou no onze para substituir Fredrik Aursnes - apareceu frente a frente com Lukáš Horníček. No entanto, provou que finalizar é algo que foge ao seu âmbito. Tudo poderia ter sido diferente se esse lapso tivesse sido capitalizado. Com mais mérito do que o Benfica teve na criação do lance de perigo de que dispôs, os guerreiros castigaram a falta de acompanhamento de Schjelderup a Víctor Gómez, situação que expunha Álvaro Carreras.
Às vezes, o destino quer mandar mensagens. Como não tem Whatsapp, fá-lo através das decisões que toma sobre os terráqueos. Tomás Araújo pisou Ricardo Horta quando era o SC Braga que estava a calcar o Benfica. O local da infração ditou uma grande penalidade. Zalazar, conhecedor da mais-valia de Trubin nas defesas junto ao solo, levantou a bola tanto quanto conseguiu e concretizou.
Foi das poucas vezes que os atacantes dos minhotos conseguiram ludibriar a viga ucraniana. Roger Fernandes e, de novo, Zalazar levaram o limite da resistência do guarda-redes, mas mesmo assim o jogador do Benfica prevaleceu como em tantos outros cenários em que foi mais eficaz na resolução dos lances do que os seus defesas.
Sem a necessidade de confrontos diretos devido ao posicionamento antagónico um do outro, a batalha de pontas de lança era um dos raros aspetos em que os dois conjuntos em choque se iam nivelando. Afonso Patrão, de meros 18 anos, afirmava a sua sobredotação em associações vantajosas e altruístas, qualidades também associadas ao seu homólogo, Pavlidis.
Acontece que a autossuficiência do grego,no momento áureo da capacidade de desfazer nós cegos, tem limites e a entrada de Di María, aos 59 minutos, complementou-o. Pavlidis não tinha um caminho óbvio para o golo, mas o SC Braga deu-lhe tanto tempo para elaborar um plano em que o ex-AZ Alkmaar furou um ângulo inesperado da baliza de Lukáš Horníček.
Praticamente em simultâneo com o empate, João Moutinho viu o segundo amarelo e foi expulso. Por mais contraditório que possa parecer, foi o estímulo necessário para os comandados de Carlos Carvalhal se voltarem a reencontrar e estancarem o fogacho de domínio do Benfica. A inferioridade numérica não se notou e, caso Trubin não interviesse, os encarnados tinham saído goleados.
Os jogadores do Benfica abandonaram o relvado cabisbaixos. Di María contraiu as feições o mais que conseguiu para que não fosse norada a ocorrência do choro. A tristeza foi assunto de domínio coletivo. Não tendo sido capazes de fazer a sua parte, não há amparo para aquelas lágrimas.