O Torreense fez história no passado sábado, ao vencer pela primeira vez o Sporting no mais alto patamar do futebol feminino. Como se sentiu logo após o apito final?
- Muito feliz, como é lógico. Claro que o resultado foi histórico, mas feliz, essencialmente, pela forma como ganhámos. Mesmo em desvantagem, a equipa manteve-se fiel aos seus princípios, totalmente compacta, e, dessa forma, conseguimos dar a volta ao resultado e chegar a um triunfo muito importante, ainda para mais no estádio de um candidato ao título.
Sensivelmente um mês antes, a sua equipa também já tinha ficado ligada a este campeonato, ao ser a primeira a tirar pontos ao Benfica…
- Também foi um momento importante, sem dúvida. Tínhamos um desafio para esta época, que passava por fazermos tudo o que estivesse ao nosso alcance para conseguirmos reduzir as distâncias para as equipas que costumam dominar o futebol feminino em Portugal. Temos demonstrado que conseguimos competir com esses adversários, o que nos permite discutir os resultados e, por consequência, conquistar pontos. Algo que, felizmente, tem sido uma realidade, pelo que só posso estar satisfeito por estarmos completamente dentro dos objetivos a que nos propusemos também relativamente a essa matéria.
O Torreense está, literalmente a meio da tabela, mas a apenas quatro pontos do 3.º lugar, que dá acesso às pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. É sonho ou objetivo?
- Sonhar podemos sempre sonhar. E isso é algo a que nos desafiamos no Torreense, faz parte da nossa ambição. Nunca falámos internamente de classificações, falámos sempre de mentalidade e desempenho. O objetivo é claro e passa por nos conseguirmos bater em todos os campos e contra todos os adversários. No final da época, logo faremos o somatório das contas e veremos o que conseguimos realmente alcançar. Uma coisa é certa: o Torreense sabe o que está a fazer, o processo é completamente claro e há uma combinação perfeita do que está idealizado e do que temos vindo a fazer semana após semana, em qualquer competição em que estamos inseridos.
Vêm aí decisões também noutras provas, nomeadamente na Taça da Liga, onde vai defrontar o Benfica, e na Taça de Portugal, medindo forças com o Albergaria. Conquistar um destes dois troféus está nos seus horizontes?
- Mantemos essa temática na esfera dos sonhos. Termos chegado até aqui na Taça da Liga já é algo histórico, veremos o que acontece no que falta disputar da competição. No que concerne à Taça de Portugal, sabemos que estamos a um passo de voltar a fazer história, uma vez que o Torreense nunca esteve nos quartos de final, pelo que o nosso próximo desafio é esse mesmo, tentar superar mais uma eliminatória e levar o clube, pela primeira vez, aos quartos de final da prova rainha. Se conseguirmos, ótimo, e tudo o que vier por acréscimo será bom.
A tarefa frente às águias, amanhã, prevê-se extremamente complicada, uma vez que o Torreense traz uma desvantagem de 0-3 do jogo da primeira mão.
- Não querendo que seja uma crítica, deixe-me apenas dizer que não me parece normal que tenhamos o calendário assim. Julgo que seria de todo importante revermos o quadro competitivo e dar a devida importância a todos os troféus, ainda para mais já numa fase tão adiantada. Posto isto, e perante a desvantagem que temos, vamos tentar competir e fazer o que estiver ao nosso alcance, mesmo sabendo que estamos numa situação muito adversa na eliminatória.
Viver o presente sem pensar no futuro
Em termos individuais, e depois de já ter passado, entre outros, por Sporting e SC Braga, quais são as metas que tem para a sua carreira?
- Para lhe responder com toda a sinceridade, não sou um treinador que tenha por hábito traçar muitas metas. Mas digo-lhe isto com a maior das frontalidades. O que desejo, e de uma forma muito pragmática e linear, é trabalhar todos os dias para conseguir fazer sempre melhor e ser melhor a cada dia que passa. Claro que qualquer treinador ambiciona sempre estar nos melhores clubes, trabalhar com as melhores condições possíveis, mas a verdade é que o que tiver de acontecer, acontecerá naturalmente. Tal como, de resto, tem sido ao longo da minha carreira. O meu foco neste momento está totalmente centrado no presente.
Ser selecionador nacional, por exemplo, está nos seus planos?
- Vou voltar a ser mais o honesto possível: ser selecionador nacional é algo em que eu nunca sequer pensei. Desde logo, lá está, porque não faço previsões a médio prazo para a minha carreira. Mas também, e não menos importante, porque o cargo está muito bem entregue ao mister Francisco Neto. Talvez isso seja algo que possa vir a ser um cenário em aberto um dia, mas, se acontecer, será numa perspetiva de um futuro longínquo e nunca a curto ou médio prazo. O meu presente é bastante desafiante. Estou feliz num clube que nos dá todas as condições de trabalho, sendo que, e é bom não esquecer, o Torreense ainda está em competição em todas as provas e com objetivos bastante concretos em todas elas.
Tremendo orgulho por Bárbara Lopes
A convocatória ontem divulgada por Francisco Neto para os encontros da Liga das Nações com Inglaterra e Bélgica (dias 21 e 26 deste mês, respetivamente) contou com uma grande novidade: Bárbara Lopes.
A jovem defesa, de apenas 23 anos, pode ser a primeira jogadora da história do Torreense a vestir a camisola de Portugal, algo que enche Gonçalo Nunes de orgulho.
«Não posso deixar de expressar felicidade e orgulho por termos uma jogadora na Seleção Nacional. As individualidades só brilham quando o coletivo funciona e dou os meus parabéns a toda a equipa. Acho que a convocatória da Bárbara é totalmente justa. É uma atleta que está a fazer uma excelente época, que tem atributos de enorme qualidade e que é diferenciada e muito completa», assumiu o técnico nesta entrevista a A BOLA.