Na madrugada de domingo, o mundo NBA parou. Uma troca absolutamente surpreendente e inesperada que leva o esloveno Luka Doncic (uma das maiores estrelas da competição) para um dos emblemas mais laureados e de maior prestígio na competição: os Los Angeles Lakers.
Jogadores, jornalistas, repórteres, adeptos (todo o núcleo envolvente na liga) ficaram incrédulos e estupefactos quando ouviram os primeiros rumores desta troca que levaria Doncic para os Lakers e Anthony Davis para os Dallas Mavericks.
Esta troca levou mesmo o próprio Shams Charina (um dos repórteres mais influentes a cobrir a liga), a ter que fazer um “tweet” a confirmar esta notícia bombástica. “É 1000% real”, disse ele. E apesar da sua credibilidade na liga, ainda houve pessoas a considerar que era uma notícia sensacionalista de Shams Charania e jamais se viria a tornar uma realidade.
A equipa californiana recebe um jogador que apresenta umas estatísticas tanto indiscutíveis como impressionantes: uma média de 28.6 pontos, quase 8.7 ressaltos e 8.3 assistências por temporada. Um jogador intemporal e daqueles por que vale a pena comprar o bilhete. Estes números só estão ao alcance dos predestinados, e Luka é um dos elegidos para jogar basquetebol.
Um dos melhores bases dos últimos 20 anos na NBA, e que protagoniza esta troca que causou um autêntico terramoto na liga e que mudará para sempre o paradigma deste período de trocas de jogadores, que muitas vezes define o rumo da própria competição.
No caso de Doncic, é muito mais que uma simples troca. É um descarte absolutamente incompreensível do seu melhor jogador por parte dos Dallas Mavericks, escorraçar um atleta que devolveu a equipa aos seus momentos de maior brilhantismo e a voltar a ganhar dimensão e relevância desportiva desde que Luka chegou à NBA na temporada de 2018/2019.
Um jogador que aos 15 anos (!), já era titular no Real Madrid (uma das melhores equipa da Europa, onde ganhou tudo o que havia para ganhar) e que causou um impacto imediato com a sua chegada à NBA.
O seu QI basquetebolístico é algo que o distingue dos demais. Pode não ser o mais rápido, mas é certamente dos mais rápidos de pensamento, vê espaços onde praticamente mais ninguém os vês, executa jogadas que parecem impossíveis e delicia todos aqueles que gostam de ver basquetebol.
Luka é puro espetáculo e é desses jogadores que a liga precisa, visto que brevemente iremos ter que nos ir despedindo das atuais grandes figuras da NBA: Kevin Durant, Stephen Curry e o novo colega de equipa do talentosíssimo base esloveno: LeBron James (o maior ídolo de Luka), que aos 40 anos tem finalmente a oportunidade de jogar na sua equipa com uma verdadeira super estrela.
Claro que Kyrie Irving, Dwayne Wade, Chris Bosh, Anthony Davis (entre outros), são grandíssimos jogadores, mas Luka Doncic é na minha modesta opinião, ainda melhor do que todos os outros que mencionei anteriormente, e LeBron sempre foi bastante elogioso quando se referiu a Doncic. Não tenho dúvidas que estará feliz com a chegada de um jogador tão talentoso.
LeBron tem 40 anos mas ainda recentemente deu um show no Madison Square Garden frente aos New York Knicks e esta chegada de Luka pode ter sido o combustível que ele necessitava para continuar a jogar por mais 3 anos, e prolongar a sua carreira.
LeBron joga por títulos neste momento, mas também o faz pelo seu grande amor e compromisso com a sua profissão e com o basquetebol, algo e alguém de que Doncic pode aprender bastante.
Acredito que apesar de ambos gostarem de ter a bola nas suas mãos e ser o elemento decisor na maioria das jogadas ofensivas nos momentos mais importantes de um jogo, vão criar uma dupla infernal para as defesas adversárias e vamo-nos divertir bastante com estes dois “monstros” da modalidade por todos os pavilhões da NBA.
Doncic tem apenas 25 anos, ainda tem uma enorme margem de progressão e é indubitavelmente um dos melhores jogadores do mundo. Algumas lesões em momentos cruciais da temporada e rendimentos absurdos do gigante grego Giannis Antetokounmpo, do sérvio Nikola Jokic, e do camaronês naturalizado americano Joel Embiid, são os únicos impeditivos para que Luka ainda não tenha ganho um MVP, algo que seguramente acabará por ganhar, dado a sua infinidade de recursos e rendimento desportivo.
Esta troca dá-se essencialmente pelo fato dos Dallas Mavericks considerarem que estão mais perto de ganhar sem um dos melhores jogadores do mundo (!), o que gerou uma grande revolta na cidade de Dallas e deixou incrédulos todos os adeptos do emblema texano.
“As defesas ganham campeonatos. Acredito que estamos mais perto de ganhar com a chegada dum dos melhores defensores da Liga. Estamos feitos para ganhar agora e no futuro.”
Foi com este desdém que Nico Harrison (o diretor-geral dos Dallas Mavericks) falou sobre a decisão de trocar o super talentoso Luka Doncic ( que foi um dos grandes responsáveis por levar Dallas à final da NBA no ano passado) por Anthony Davis.
A premissa de que a equipa está feita para ganhar agora e no futuro cai totalmente por terra, quando deposita a liderança da mesma em dois jogadores com mais de 30 anos, ambos propensos a lesões e cuja carreira sempre foi pautada por uma grande irregularidade exibicional.
Talvez Doncic não tenha o melhor comportamento fora dos jogos, não cuide do seu corpo devidamente, apresentando por vezes uma condição que não é a melhor para jogar, mas a verdade é apenas uma e é indesmentível. “Luka é melhor gordo do que 99,9% de todos os bases da NBA”. Frase dita recentemente pelo mítico poste Shaquille O’Neal e com a qual eu concordo plenamente.
Não foi pela sua condição física que Luka deixou de produzir ao mais alto nível. O seu rendimento é absolutamente indiscutível e um dos jogadores de maior regularidade exibicional, quer na fase regular, quer nos play-off.
Na sua terceira época (2021-2022) na NBA, carregou a equipa de Dallas a uma final na conferência Oeste, só sendo travado por aqueles que viriam a ser os campeões: os Golden State Warriors, de Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green, entre outros. Nesses play-off e ainda sem Irving, Doncic apresentou números assombrosos com médias de 31 pontos, 10 ressaltos e 6 assistências por jogo.
Sim, as equipas necessitam de defender. Talvez as defesas ganhem campeonatos, mas os melhores Golden State Warriors não se destacaram nem são lembrados pela sua consistência defensiva, os melhores Los Angeles Lakers também não e os Boston Celtics não ganharam no ano passado aos Dallas Mavericks apenas por causa do fato de Doncic não defender, ou ter um compromisso defensivo quase nulo.
É bastante redutora essa análise e dificilmente terá um grande impacto desportivo. De que vale uma equipa defender bem, se depois não produzir jogo ofensivo? De que vale conseguir conter o ímpeto ofensivo das melhores equipas, se nos momentos decisivos dos jogos e da temporada, não tiver aqueles jogadores que assumem e façam a diferença?
Luka Doncic está a ser usado como um bode expiatório pelo fato da sua equipa não ter ganho contra uma das equipas mais completas da última década na NBA nos Boston Celtics (equipa do português Neemias Queta). Mesmo com um maior compromisso defensivo do esloveno (que já se apresentou fisicamente extenuado, com mais de 90 jogos nas pernas), isso seria insuficiente para que os Dallas Mavericks pudessem disputar o título contra a equipa de Boston.
O alemão Dirk Nowitzki (uma das maiores referências dos Dallas Mavericks) ficou incrédulo quando soube da notícia, acredito que o treinador Jason Kidd também, que perde de longe um dos jogadores mais entusiasmantes da NBA.
Anthony Davis é um grandíssimo jogador, provavelmente os Mavericks vão-se tornar uma equipa muito equilibrada e melhor defensivamente, mas confiar o jogo ofensivo da equipa a Davis como igualmente a um jogador muito talentoso mas bastante irregular do ponto de vista exibicional como Kyrie Irving (que tal como Davis, já tem mais de 30 anos), parece-me uma decisão ridícula e sem nenhum tipo de sentido.
Qualidade ofensiva, imprevisibilidade, liderança, personalidade, talento infinito. É disso que os Dallas Mavericks prescindem com a saída de Doncic. Será a entrada de Davis suficiente para disputar o título contra os máximos favoritos Celtics, Bucks, Cavs ou Thunder? Duvido ,mas cá estaremos para ver.
Não está em causa o potencial de Anthony Davis (que embora sendo um enorme jogador, tem muita propensão a lesões), mas tratar assim o Luka, é desprezível a todos os níveis. Claro está que esta troca (como mencionado anteriormente), muda radicalmente o cenário da NBA.
Agora, todos os jogadores sabem realmente que são um número, e que mesmo que apresentem um rendimento desportivo acima da média, estão sujeitos a serem trocados. “Ninguém está a salvo nesta liga”, foram estas as sábias palavras de Kevin Durant, quando chamado a comentar sobre esta ida de Doncic para os Lakers.
E é a mais pura das verdades, até porque com esta troca, a equipa dos Dallas Mavericks retiram a possibilidade de Doncic assinar uma extensão máxima de contrato (que ele a ganhou em campo com as suas exibições, diga-se de passagem) que faria o esloveno ganhar 345 milhões de dólares nos próximos 5 anos e que fará com que Doncic perca mais de 100 milhões de dólares no novo contrato com os Lakers.
Esta decisão gerou uma quantidade infinita de funerais fictícios, caixotes de lixo queimados, uma forte contestação de todos os adeptos dos Dallas Mavericks em frente ao pavilhão da sua equipa, e acredito que não irá ficar por aqui. A cada derrota da equipa, vão-se lembrar de Luka, a cada momento decisivo da temporada, em que não surja um jogador capaz de desbloquear os jogos mais importantes, vão-se lembrar de Luka.
Deixam toda uma cidade (que já não é um dos maiores mercados da NBA), praticamente órfã de uma referência e de uma estrela planetária. Teremos que esperar para ver as consequências que irão advir daqui. Há inclusive adeptos que rasgaram o seu bilhete anual e que não irão ver mais nenhum jogo da equipa nesta temporada como forma de protesto.
Maior parte dos adeptos da NBA vivem o jogo com muita paixão, e Luka Doncic era o ídolo da generalidade dos adeptos da equipa texana. Uma tristeza tamanha que invade o sentimento de quase todos, e que não augura nada de bom para os próximos tempos.
Quanto a Luka, sabe que está numa das equipas mais históricas da NBA (onde pontificaram nomes como Wilt Chamberlain, Kareem Abdul-Jabar, Magic Johnson, Shaquille O’neal e Kobe Bryant), e que tem um grande desafio pela frente.
Sabe também que necessita de se adaptar o mais depressa possível, e neste momento jogará com ainda maior intensidade e compromisso (não é que não o tenha feito sempre anteriormente), mas acredito que os seus índices motivacionais vão estar no auge, para provar a Nico Harrison e a todos os restantes responsáveis por esta decisão, que cometeram a maior estupidez desportiva de todos os tempos.
O base esloveno sabe que a carreira de LeBron está a chegar ao fim, e certamente irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para dar mais um anel (prémio que todos os jogadores recebem quando ganham o título na NBA) a um dos melhores jogadores de todos os tempos.
Foi um Luka Doncic surpreendido e magoado (chegou a dizer que pensou que era uma piada de Dia das Mentiras quando lhe ligaram a comunicar a troca), mas igualmente feliz e motivado, que se apresentou perante os jornalistas na conferência de imprensa da sua apresentação.
“Vou trabalhar na melhor equipa do mundo e estou muito motivado para esta nova jornada”, disse Doncic. Sentiu-se a sua enorme vontade de fazer acontecer, e não deixou de ter uma palavra para o malogrado Kobe Bryant (que em 2019 se aproximou dele e lhe falou em esloveno, num momento absolutamente ternurento entre os dois) que faleceu tragicamente num acidente de helicóptero junto da sua filha Gianna, que curiosamente estava ao lado de Kobe nesse momento.
Só esse pequeno gesto e lembrança, dizendo que queria muito que o Kobe e a sua filha Gianna estivessem ali com ele, fez com que já tenha ganho o amor e a admiração de todos os adeptos da equipa californiana.
Que a NBA comece a tremer, porque Luka e LeBron já estão a aquecer os motores para construírem uma química capaz de causar miséria e semear o pânico a todas as equipas. Estou totalmente convencido de que esta dupla será um enorme sucesso, e que veremos Doncic no seu esplendor durante o resto da temporada.
Os Lakers garantem um futuro brilhante com a sua contratação, sabem que poderão ficar mais tranquilos quando LeBron terminar a carreira, e o base esloveno sabe também que está mais próximo de ganhar os tão ansiados títulos individuais, estando num dos mercados de maior visibilidade no mundo NBA.
Los Angeles ganhou uma nova estrela. Que comece o espetáculo!