Carolina Correia foi uma das revelações do Torreense esta temporada e uma das obreiras da Taça de Portugal inédita para o emblema de Torres Vedras. As exibições imponentes levaram-na a agarrar o bilhete para a seleção nacional em junho e a mostrar ao mundo que, da Zona Oeste para Wembley, a distância é mais pequena do que se pode imaginar. Na antecâmara de um Europeu onde tem a ilusão – e o desejo – de marcar presença, a defesa central falou com o Bola na Rede sobre a odisseia que está a ser a travessia pelo futebol.

«É muito bom que a seleção olhe para clubes como o Torreense».

Carolina Correia

Bola na Rede: Qual o sentimento de estar na pré-convocatória de Portugal para o Europeu?

Carolina Correia: É um sentimento muito bom e de felicidade. Ambicionava já há algum tempo chegar à seleção e sinto-me muito realizada e feliz por este voto de confiança e por estar entre as 27 eleitas na pré-convocatória. Agora é desfrutar, aproveitar o momento e esperar que o meu nome apareça nas 23 convocadas. Quem sabe? Espero que assim seja. Estou muito feliz por estar aqui.

Bola na Rede: No início da temporada era algo que conseguias imaginar?

Carolina Correia: Acaba sempre por passar pela cabeça, mas prefiro não pensar muito nas coisas. Se for para acontecer, acontece e acabou por ser. Estou muito feliz. No início da época não previa acabá-la assim, mas foi a cereja no topo do bolo. Agora é aproveitar o momento.

Bola na Rede: Uma época na qual o Torreense conquista uma Taça de Portugal inédita e faz um campeonato muito consistente. Qual o balanço que fazes a nível individual e coletivo?

Carolina Correia: A nível coletivo é um balanço muito bom. O Torreense é um clube que está a crescer. O que define esta época é a nossa união. Somos uma equipa muito unida e está à vista para os olhos de todos que foi a união que fez com que a época fosse assim e ganhássemos a Taça de Portugal. É muito trabalho diariamente com a equipa técnica e o clube e os resultados estão à vista de todos. A nível individual foi uma época muito positiva. Destaquei-me a nível individual também pelo coletivo e não podia estar mais grata às minhas colegas, à equipa técnica e ao clube por acreditarem em mim.

Bola na Rede: Quando saíste do Benfica, sentias que precisavas deste espaço para jogar, errar e crescer?

Carolina Correia: Claro. Estava numa idade em que precisava de mais minutos de jogo e arrisquei. Acho que arrisquei bem. O Torreense permitiu-me crescer e estou muito grata ao Torreense. Fez-me crescer muito.

Bola na Rede: O Torreense concentra já algumas jogadoras na convocatória. É bom para a seleção nacional ter este espaço e atenção para lá dos principais clubes a nível nacional e internacional?

Carolina Correia: Claro que sim. Chegar à seleção A é difícil, mas é muito bom que a seleção olhe para clubes como o Torreense, que se estão a afirmar no futebol feminino e na Liga. É um passo muito bom que o Torreense está a ter e é o trabalho que o clube tem estado a fazer. Tanto o clube como eu estamos muito felizes por ter tantas jogadoras na seleção.

Bola na Rede: É um projeto que tem traduzido a essência do crescimento do futebol feminino em Portugal?

Carolina Correia: É um clube que está a apostar muito no futebol feminino. De um ano para o outro notou-se uma brutal diferença que se pode ver na classificação na Liga. Para o ano espero que ainda seja melhor, mas as expectativas estão muito elevadas para nós.

«Só dependemos de nós e isso é o mais importante e o que nos pode levar mais além».

Carolina Correia

Bola na Rede: Estreaste-te em Wembley pela seleção principal. Como viveste esse momento especial num dos principais estádios do mundo?

Carolina Correia: Nem sei. Foi uma explosão de sentimentos, um momento único. Não estava à espera de me estrear no meu primeiro estágio. Foi um momento único, no sítio onde foi, um estádio mítico. Não podia estar mais contente. Espero poder continuar a ajudar Portugal. Foi um dia único que ficará na minha memória para o resto da minha vida.

Bola na Rede: Portugal chega a este Europeu numa sequência mais negativa de jogos diante de algumas equipas que defrontarão na prova. É possível fazer um transfer da Liga das Nações para o Europeu?

Carolina Correia: Vamos voltar a jogar com a Bélgica e a Espanha contra quem jogámos na Liga das Nações. Tivemos jogos bons, outros menos bons, mas agora temos de olhar de uma forma diferente, para o que fizemos de melhor e para onde podemos crescer. Tenho a certeza de que vai correr bem e que vamos conseguir trazer a vitória para Portugal. Vamos ver.

Bola na Rede: Chegaste à seleção no último estágio. Como é que o grupo te acolheu e foi feita a integração?

Carolina Correia: As minhas colegas acolheram-me muito bem. Já conhecia grande parte do Benfica e das camadas jovens. Não tenho razões de queixa, sempre me ajudaram e ajudam. Também espero ajudá-las e acolhê-las da mesma forma, mesmo sendo nova no grupo. Sinto-me bem e espero que também se sintam bem comigo.

Bola na Rede: Portugal vive uma transição para um modelo de jogo mais impositivo e protagonista, ao contrário do que víamos há três ou quatro anos. Também por isso é preciso dar espaço à aprendizagem e ao crescimento dentro de campo?

Carolina Correia: Acho que, como tudo na vida, há fases menos boas e outras melhores. Passámos agora por uma fase menos boa, mas não é esta fase que define o que é Portugal e o que é a nossa equipa. Tenho a certeza de que a vamos ultrapassar. Estamos a trabalhar para entrar de forma muito boa neste jogo com a Nigéria e tenho a certeza que vamos entrar muito bem no Europeu e que esta fase já está para trás. Daqui para a frente será melhor.

Bola na Rede: Quais as expectativas que têm para o Europeu?

Carolina Correia: Temos expectativas muito boas. Estamos a trabalhar para isso. Tenho a certeza de que vamos dar tudo em campo e estamos a trabalhar diariamente para trazer o melhor para Portugal. Só dependemos de nós e isso é o mais importante e o que nos pode levar mais além.

«Estou ansiosa para ver como vão estar a Liga Feminina e o futebol feminino como um todo daqui a alguns anos».

Carolina Correia

Bola na Rede: A Suíça é um país com muitos portugueses. Sentem que podem jogar numa segunda casa, mesmo longe de Portugal?

Carolina Correia: Espero que sim. Espero que muitos portugueses nos venham apoiar. Tenho a certeza de que bastantes vão estar lá para nos apoiar. São muito importantes e fazem sempre a diferença. Espero ver estádios cheios com muitos portugueses porque vão ser uma força extra e ajudar-nos a trazer a vitória para Portugal.

Bola na Rede: A tua primeira titularidade por Portugal foi contra a Bélgica, que voltarás a defrontar. Há alguma carga sentimental especial?

Carolina Correia: Fiquei muito feliz pela confiança de me meterem a titular contra a Bélgica. Vamos voltar a defrontá-la, mas é um jogo diferente. Não me considero nervosa, mas sendo a Bélgica ou outra seleção, se for titular tenho de estar plena e confiante do nosso jogo e das minhas características para ajudar Portugal da melhor forma.

Bola na Rede: És uma das representantes da nova geração do futebol feminino português, já com mais infraestruturas e apoios. Este caminho alimenta a esperança no futuro do futebol feminino em Portugal?

Carolina Correia: O futebol feminino tem estado a crescer ao longo dos últimos anos. Espero no futuro olhar para trás e dizer “Uau, cresceu brutalmente”. Estou ansiosa para ver como vão estar a Liga Feminina e o futebol feminino como um todo daqui a alguns anos. Tenho a certeza de que vão estar muito evoluídos. É esperar para ver. Tenho a certeza que o futebol feminino vai crescer muito com a aposta dos clubes em infraestruturas e que as jogadoras vão crescer e dar muita competitividade à Liga em Portugal.

Bola na Rede: Para terminar, e voltando ao presente, é o teu primeiro estágio desta dimensão para preparar uma competição no estrangeiro. O que mudou na tua rotina e no teu dia a dia?

Carolina Correia: O chip muda, porque saio do contexto de clube e venho para a seleção, mas o papel de qualquer jogadora de futebol é adaptar-se ao sítio e contexto em que está. Mantenho-me fiel a mim mesma e aos meus princípios. Continuo a estar focada, mas tenho de mudar o chip em alguns momentos, nomeadamente no estilo de jogo. Sou a mesma porque foi isso que me levou até aqui e tenho de continuar fiel a mim mesma.