
200 jogos. Pedaços de memórias de cada um deles, milhares de cortes e de desarmes, seis golos e um número incontável de histórias. Quando entrar em campo contra o Benfica, esta sexta-feira, Rúben Fernandes vai cumprir duas centenas de partidas ao serviço do Gil Vicente.
O feito assinalável, aos 38 anos, obriga-nos a recuar à chegada do central a Barcelos há seis anos quando o clube foi reintegrado na Liga. Tiago Lenho, então diretor desportivo dos gilistas, contou como foi o processo da contratação do central.
«O Rúben era um dos jogadores que estava referenciado pelo Gil Vicente, visto que estava em final de contrato com o Portimonense. Depois chegou o mister Vítor Oliveira que pediu que o contratássemos. Acabou por ajudar bastante. Foi fácil chegar a um entendimento com o Rúben, porque ele gostava e respeitava muito o Vítor Oliveira», começa por dizer a A BOLA.
O defesa deixa Portimão, de onde é natural, muda-se para o Minho e assume-se prontamente como um dos líderes da equipa.
«O Rúben trazia experiência de Liga e liderança. Tínhamos a informação de que era um líder pelo exemplo. Mesmo tendo 32 anos, ele apresentava uma enorme regularidade e o registo de jogos falava por si. Como o Gil precisava de construir uma equipa praticamente nova, eram precisas referências e jogadores que conhecessem a Liga. O Rúben encaixou na perfeição», recorda Tiago Lenho, que recentemente cessou funções como diretor geral do Gil Vicente.
«Ele lidera mais pelo exemplo. Todos os dias é o primeiro a chegar ao estádio para tomar o pequeno-almoço. É assim o dia a dia dele. Não é um dia ou outro, é sempre. Cuida muito de si e é por esse motivo que se mantém a jogar a este nível com a idade que tem. Os colegas olham-no como um exemplo e a sua voz acaba por ser muito respeitada e ouvida», acrescenta.
Volvidos seis anos, Rúben Fernandes, algarvio de gema, é uma das figuras mais importantes da história recente do clube centenário. Deu o sim ao casamento perfeito, no fundo.
«O Rúben casou na perfeição com os valores e princípios do Gil Vicente. O Gil é um clube correto, que tem uma postura simples, que lida com as coisas de forma natural e que não gosta de ruído ou espalhafato e tenta ter uma postura íntegra. A humildade e forma de estar do Rúben casa bem com o clube», defende.
Tiago Lenho refere que é essa comunhão de valores que mantém o experiente central - futebolista em atividade com mais jogos na Liga (316) - em Barcelos.
«Sim, acho que foi isso que o levou a ficar todos estes anos. Quando chegou, ele assinou por um ano com outro de opção e acabou por renovar todos os anos. Quase todas as épocas, sobretudo nas últimas duas ou três, dizem sempre que será a última dele. A verdade é que o Rúben joga sempre mais um ano. Quando um jogador é regular, faz praticamente todos os jogos, mostra rendimento e importância no seio do grupo, fica difícil terminar a carreira», conclui.
«O filho do Rúben andou dois ou três anos chamar-me presidente»
No final da conversa, Tiago Lenho decide partilhar uma história caricata acerca do dia em que Rúben Fernandes, acompanhado pela família, oficializou a mudança do Portimonense para o Gil Vicente.
«Quando estávamos a tratar dos contratos, o filho dele ficou a achar que eu era o presidente do Gil. Andou dois ou três anos a chamar-me presidente (risos). Ele era pequenino, agora cresceu e entende melhor as coisas», partilha, entre risos.