
O nível de falta de paciência é impressionante até para os parâmetros já bem liberais da Red Bull. Ao final de duas corridas da temporada de 2025, Liam Lawson está fora da equipa principal da empresa de bebidas energéticas, trocando com Yuki Tsunoda, o japonês da Racing Bulls, que há muito esperava pela oportunidade e a terá já no próximo Grande Prémio, no seu país.
O neozelandês substituiu Daniel Ricciardo na segunda equipa da Red Bull a meio do ano e surpreendeu pelo estilo agressivo, dentro e fora do carro, o que agradou aos sempre altivos responsáveis da equipa. Com Sergio Pérez desacreditado, mesmo que com contrato renovado meses antes, Lawson avançou para um dos volantes mais complicados da grelha da Fórmula 1, mesmo sem qualquer temporada completa no currículo. Da Red Bull não se esperem decisões totalmente lógicas.
Dois dias antes do anúncio oficial, esta quinta-feira, Christian Horner, team principal da Red Bull, já tinha ateado fogo ao rasto. “Temos de ter dois carros nos pontos e mesmo para o Mundial de pilotos temos de ter outro carro na luta. É de vital importância que a equipa assegure que temos os dois pilotos o mais perto da frente que conseguirmos”, disse então, quando a especulação já berrava o adeus de Lawson à Red Bull.
Desde os testes de pré-época que Lawson mostrou grandes dificuldades a tourear o RB21. As duas primeiras corridas do ano foram desastrosas: no GP Austrália, ficou-se pelo antepenúltimo lugar na qualificação e na corrida desistiu após um despiste à chuva. Na semana seguinte, na China, foi último na qualificação tanto para a corrida sprint como para a principal. Lutar pelos pontos nunca foi opção, num ano em que a Red Bull não quererá repetir o 3.º lugar nos construtores da última temporada, em que Max Verstappen foi campeão nos pilotos.
E assim chegou mais uma decisão sísmica, vinda da cabeça de Helmut Marko, impiedoso e até cruel cérebro por trás da escuderia austríaca. Lawson durou bem menos que as nove corridas de Nyck de Vries na Alpha Tauri em 2023. Muito menos que Pierre Gasly, que em 2019 esteve 12 corridas na Red Bull antes de ser despromovido para a segunda equipa, face à diferença de desempenho para Max Verstappen.
Verstappen é aqui, uma variável importante. O neerlandês é o líder incontestado da Red Bull e não há quem se aguente muito tempo na garagem ao lado da sua. Max vai para o sexto companheiro de equipa desde 2016. Daniel Ricciardo, seu colega até 2018, foi talvez o único a competir verdadeiramente com o quatro vezes campeão mundial, saindo para a Renault por se sentir preterido face ao colega.
Gasly substituiu o australiano em 2019, depois de boas temporadas na Toro Rosso, então a nomenclatura da equipa B da Red Bull. Ao final de uma dúzia de corridas, o francês tinha 63 pontos, contra os 180 de Verstappen. Durante a pausa de verão, Alex Albon foi surpreendido com uma chamada para assumir o lugar de Gasly - teve, revelou num texto no The Players’ Tribune, 30 minutos para decidir. O tailandês durou 26 Grandes Prémios entre 2019 e toda a temporada de 2020, em que Max fez quase o dobro dos pontos (311 face aos 181 de Albon).
Para a temporada de 2021, a Red Bull aproveitou a oportunidade de negócio de contratar Sergio Pérez, uma mudança de política, apostando num piloto experiente e com provas dadas em vez de um jovem da academia. E a superioridade de Max Verstappen continuou. Em 90 corridas como colegas de equipa, o neerlandês somou 1861.5, o mexicano 932. A última temporada foi particularmente penosa para Pérez, que subiu ao pódio apenas quatro vezes e nas últimas cinco corridas apenas conseguiu 1 ponto.
Um carro para um homem só
Quando se tem na garagem um piloto com a qualidade de Max Verstappen, não há lugar para igualdade. Em 2021, Pierre Gasly escreveu no The Players’ Tribune que na Red Bull não se sentiu “apoiado” ou “tratado da mesma forma que outros”. E este “outros” já se sabe de quem se trata. “Eu trabalhava que nem um cão todos os dias, a tentar bons resultados para a equipa, mas não me davam as ferramentas que eu precisava para ter sucesso. Tentava oferecer soluções, mas a minha voz não era ouvida e precisava de semanas para ver mudanças”, disse ainda.
A história é antiga, ainda que nunca confirmada pela Red Bull. O carro é construído à volta do seu campeão, que tem um estilo de condução bem diferente dos demais. Para o segundo piloto, resta a adaptação. E ninguém tem conseguido.
Já depois de deixar a estrutura da Red Bull, Alex Albon revelou, também ao The Players’ Tribune, que a afinação do Red Bull era “construída em torno do piloto principal”, ou seja, de Max Verstappen. “E eu compreendo. Ele é possivelmente o melhor piloto de todos os tempos. Mas tem um estilo muito distinto e gosta do carro afinado de uma determinada maneira que é muito difícil para outros pilotos gerirem. É claro que podes mexer no teu carro, mas é um Red Bull e o Red Bull está feito para o estilo do Max”.
Pouco tempo depois, o tailandês, que chegou a confessar que a temporada de 2020 o tinha destruído mentalmente, refrearia as suas declarações, comparando ainda assim a relação da Red Bull com Verstappen com aquela que Michael Schumacher forjou com a Ferrari: “Ele criou esta equipa à sua volta. Tem um estilo muito próprio, que não é fácil de acompanhar”.
A debacle da passagem pela Red Bull não determinou, no entanto, as carreiras de Pierre Gasly e Alex Albon, que ao longo dos últimos anos provaram que são pilotos de qualidade. O francês venceu mesmo uma corrida com a Alpha Tauri em 2020, antes de se mudar para a Alpine, e Albon é hoje um valor consolidado na Williams.
Liam Lawson terá a oportunidade de se reconstruir na Racing Bulls. “Foi difícil ver o Liam a lutar com o RB21 nas primeiras duas corridas”, disse Christian Horner, que justificou a troca tão prematura com a maior experiência de Tsunoda, que será “benéfica para o desenvolvimento do carro”.
Quanto a Lawson, de 23 anos, a Red Bull assume a responsabilidade de “proteger e desenvolver” o piloto. “Foi um início difícil e faz sentido atuar rapidamente para que o Liam ganhe experiência num ambiente na Racing Bulls que ele conhece muito bem”.