
Na segunda passagem pelo comando técnico do FC Porto, Artur Jorge implementa uma mudança radical na configuração do plantel. Dispensa sete campeões da Europa, nomes mais do que consagrados, e aposta em futebolistas de clubes menores da liga portuguesa. Gente sedenta de títulos.
Estamos em 1989 e pela icónica porta do departamento de futebol das Antas desfilam nomes pouco ou nada habituados à fama. Marito (Académica), Silvino e Pingo (SC Espinho), Nascimento (Vitória SC), Kiki (SC Braga), Abílio (Leixões), Toni (SC Braga) e Caetano (Penafiel) integram o plantel, ajudam os portistas a recuperar o título nacional, mas poucos escapam ao estatuto de figurante.
Do estrangeiro chegam, na mesma altura, Zé Carlos (Flamengo), Demol (Bologna) e Edu Marangon (Torino).Caetano, protagonista deste artigo, é utilizado pelo Rei Artur em dois jogos oficiais: faz 45 minutos contra o Paredes para a Taça de Portugal e garante a medalha de campeão com 21 minutos em Guimarães, já no dealbar do campeonato.
Extremo veloz, de baixa estatura e muito mexido, Caetano vive na sombra de Jaime Magalhães e Jorge Couto, os mais utilizados nas alas. Sem surpresa, no final da época dá um passo atrás e assina pelo Tirsense, antes de arrancar para seis temporadas de grande nível e momentos históricos no Abel Alves de Figueiredo.
São 190 jogos oficiais, 31 golos e exibições de raça e qualidade. Na época 94/95, o Tirsense conquista um excelente oitavo lugar, com o treinador Eurico Gomes ao leme e um plantel cheio de nomes familiares: Paredão, Redondo, Rui Gregório, Giovanella, Evandro, Porfírio, Marcelo, Folha, Moreira de Sá e, claro, Caetano.
Duas vezes internacional A por Portugal - 62 minutos frente ao Canadá e 12 contra a Dinamarca em 1995, na Skydome Cup -, Caetano encerra a carreira ao serviço do SC Espinho no dia 15 de junho de 1997, apenas com 31 anos. Joga oito minutos e marca um golo ao Estrela da Amadora.
28 anos depois da despedida aos relvados, Agostinho Caetano volta a ser notícia. O antigo atacante é, desde julho passado, o terceiro maior acionista individual da SAD do FC Porto, apenas atrás dos irmãos António e Joaquim Oliveira. Num investimento de 350 mil euros, Caetano passa a deter as ações detidas até essa altura por Jorge Nuno Pinto da Costa - 1,57% do total da sociedade.
A notícia, avançada pelo Record, está confirmada pelo zerozero e recoloca o agora construtor civil e empresário do ramo da hotelaria e imobiliária num plano de algum destaque dentro do universo azul e branco.

Pai de um vice-campeão do mundo de sub20
Discreto e indisponível para conceder entrevistas - apesar de convidado, prefere não participar num trabalho do zerozero sobre o Tirsense -, Caetano mantém ao longo das últimas décadas uma proximidade constante e mais tarde gradual e crescente com Pinto da Costa.
Investe desde cedo em negócios ligados ao ramo da construção civil e adquire um poder financeiro que lhe permite apostar em 2007 no Penafiel Park Hotel & SPA, bem como em investimentos na habitação de luxo - o projeto Douro Residences, junto à Ponte da Arrábida, implica uma injeção inicial de 32 milhões de euros.
Caetano não abdica das férias anuais na zona de Vilamoura, onde é visto regularmente a correr na praia ao lado do filho Rui. Rui Caetano é, de resto, outro nome ligado ao FC Porto. Produto da formação azul e branca, o também pequeno atacante sagra-se vice-campeão do mundo de sub20 em 2011.
Em 2021, de forma surpreendente, opta por abandonar o futebol jogado e passa a ser o seguidor do pai nos inúmeros negócios familiares. Em entrevista ao zerozero, realizada em julho de 2024, Rui Caetano explica os motivos dessa mudança de vida e na aposta no mundo empresarial.
«Desde os 22/23 anos que comecei a abrir ginásios, health clubs. Neste momento tenho a marca IDEALKORPUS, que conta com quase dez espaços que se traduzem em ginásios, boxes de crossfit, estúdios de pilates, clínicas de medicina estética, clubes de padel. Ou seja, temos variadíssimas superfícies no distrito do Porto. Para além disso, inseri-me no ramo mais importante da família, o da construção e promoção imobiliária.»
O papel de benemérito na covid19
No livro Azul até ao Fim, o nome de Agostinho Caetano não é esquecido por Pinto da Costa. O dirigente, falecido em fevereiro passado, refere-se em tom elogioso ao seu antigo jogador e inclui-o nos nomes que pretende ver no seu funeral. Desejo cumprido.
Na última década, particularmente em períodos de aflição financeira, Caetano surge sempre como um dos amigos prontos a auxiliar as depauperadas contas do FC Porto. Esse auxílio, superior a dois milhões de euros em empréstimos, é particularmente relevante no início da pandemia da covid19. Mas não só aos dragões.
Em março de 2020, a família Caetano é notícia por ceder gratuitamente o seu hotel em Penafiel a profissionais de saúde do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. A ajuda é decisiva nos dias de maior angústia para as gentes da região do Vale do Sousa.
Um ano antes, curiosamente, o nome surge nos media por outras razões. Essas bem piores. Caetano pai começa por esses dias a ser julgado em dois crimes de alegada burla qualificada no valor de 400 mil euros, por decisão de um juiz de instrução de Marco Canaveses.
O processo é, entretanto, encerrado e resolvido a favor do novo terceiro maior acionista individual do FC Porto.