
Ver o Benfica fechado atrás, a tentar segurar uma vitória magra frente a uma equipa de jogadores que há um par de meses nem se conhecia não estaria no bingo dos adeptos para este início de temporada. Jogava com um a menos, é certo. Mas os tremeliques encarnados pouco se explicam com a expulsão de Dedić, que esteve no melhor e no pior do Benfica esta tarde no Ribatejo e nem sequer se está aqui a falar da expulsão.
Apesar de continuar invicto esta época e de ter sofrido frente ao Alverca o primeiro golo da temporada, a equipa de Bruno Lage continua a ser um grupo desgarrado de jogadores, gente com qualidade acima da média e por isso se explicam as vitórias. Em matéria de jogo coletivo, os encarnados são feitos de uma ou duas ligações interessantes e pouco mais. O ataque posicional continua emperrado, falta criatividade no processo e nem a presença de Vinicius Jr, investidor do Alverca, nas bancadas, parece ter deixado no ar um vislumbre de originalidade.
A jogar frente a um Alverca que é ainda uma equipa em construção, cheio de caras novas, sem problemas em entregar a bola e a jogar a vida em ataques rápidos, o Benfica voltou a sentir as mesmas dificuldades que já havia encontrado com o Estrela, na estreia para a I Liga. Bruno Lage inovou, onze base é coisa inaudita neste Benfica, entregando a frente de ataque a Ivanovic, com Pavlidis a ficar no banco. Na baliza, Samuel Soares foi titular e em boa hora para o Benfica, ajudando a equipa com uma mão cheia de defesas verdadeiramente importantes para maquilhar aquilo que lá à frente os colegas não conseguiam fazer. As características do avançado croata, de ataque à profundidade, no aproveitamento dos espaços, perdem-se perante blocos baixos, não fazem match e Ivanovic foi um soldado perdido entre camisolas azuis durante todo o encontro.
E sem um fio de jogo flutuante, os golos do Benfica nasceram de lances individuais e aproveitamento de erros. Logo aos 5’, perante um início de jogo nervoso do Alverca na sua área, Sergi Gomez aliviou na direção de Schjelderup que não se fez rogado perante tal oferta e abriu o marcador. As aparentes fragilidades do Alverca abriam a imaginação a uma goleada, mas seria mesmo só isso: imaginação.
Porque após o golo, e mesmo dominando os índices de posse de bola, o Benfica permitiu ao Alverca colocar em campo as suas mais-valias, dando espaço para ataques rápidos, atuando com moleza onde se pedia agressividade a reagir. Para Chiquinho, a primeira parte foi um dia de festa no parque, fazendo de Dedić o seu joguete. Aos 23’, é dele o cruzamento para um primeiro alerta de Marezi e minutos depois, Nuozzi recebeu um passe longo de Sabit e rematou para a primeira de várias intervenções essenciais de Samuel Soares. Em 42’, salvou de novo os encarnados, agora no chão.
Com os seus recursos limitados, o Alverca conseguia, amiúde, rondar a área do Benfica, que suava para conseguir ligar uma simples jogada de ataque. O segundo golo, numa fase de particular seca imaginativa, surgiu após jogada individual, com Dedić, como que a compensar o pobre futebol a nível defensivo que apresentou, a fazer slalom pela direita entre dois adversários para depois rematar cruzado e colocado.
O 2-0 dificilmente contava a história do jogo e Alex Amorim, ainda antes do intervalo, teve nos pés um pouco de justiça, que Samuel Soares travou de novo, como travaria mais uma malfeitoria de Chiquinho a abrir a 2.ª parte, num livre direto quase perfeito que o guarda-redes do Benfica afastou.
A partir desse momento, os encarnados ganharam alguma tranquilidade, controlando o jogo com bola, permitindo pouco ao Alverca. Schjelderup, em jogada individual, enviou ao poste aos 53’. Mas a expulsão de Dedić, aos 70’, colocaria fim ao sossego encarnado, que daí até final fechou-se em copas, numa linha de cinco a defender, demasiadamente temente face à diferença de aptidões entre os dois conjuntos. A carregar o último terço encarnado, o Alverca marcaria mesmo aos 85’, por Davy Gui, depois de um mau alívio de Otamendi. E sem Chiquinho, de longe o motor mais talentoso desta equipa, em conjunto com Alex Amorim, foi mais no coração do que com a cabeça.
O Benfica mantém-se invicto na I Liga, mas o processo parece poucochinho. Richard Ríos fez mais um jogo pobre, Enzo Barrenechea contribuiu pouco para o ataque. Ivanovic foi um corpo estranho no meio de tantas pernas e Pavlidis também esteve apagado. O nervosismo de Bruno Lage perante a expulsão de Dedić também pouco se justifica nesta altura do campeonato. O investimento foi largo, mas falta encaixar as peças.