
A tomada de posse, na segunda-feira, de Pedro Proença na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) encerra um ciclo eleitoral do qual saíram 16 novos presidentes de federações olímpicas, confirmando a tendência de renovação em detrimento da continuidade.
Entre as 16 mudanças, só duas representam listas que podem ser consideradas de continuidade dos anteriores presidentes, com incumbentes derrotados, sucessões muito disputadas e outras até litigiosas, numa ‘revolução’ no ecossistema desportivo após os Jogos Olímpicos Paris2024 – as eleições nas federações desportivas seguem, por norma, uma lógica de mandatos acopladas aos ciclos olímpicos, de quatro em quatro anos.
Entre as mudanças mais significativas, que Proença, ao assumir o cargo após 12 anos de Fernando Gomes, encerra, destaque para a saída de cena de Jorge Vieira na Federação Portuguesa de Atletismo, tendo anunciado uma candidatura ao Comité Olímpico de Portugal (COP), que entretanto retirou.
Depois de liderar os destinos da modalidade nos últimos três ciclos olímpicos, com destaque para o título do triplista Pedro Pablo Pichardo em Tóquio2020, o veterano dirigente deu lugar a Domingos Castro, antigo fundista que participou em quatro Jogos Olímpicos.
Numa das eleições mais marcantes destes meses, Castro representou uma vaga de atletas olímpicos que vieram a terreiro disputar federações, acabando por vencer um sufrágio de que esteve perto de estar arredado, uma vez que foi excluído pela Mesa da Assembleia Geral, numa primeira fase.
Interpôs uma providência cautelar, que impediu a realização das eleições na data marcada, e o tribunal veio a dar-lhe razão. Reentrou no boletim de voto e reuniu a maioria das preferências dos delegados.
Derrotou Fernando Tavares, que representava a linha de continuidade, e Paulo Bernardo para assumir os destinos da modalidade, à semelhança de Miguel Arrobas, também ele olímpico, mas na natação.
Aí, o jurista e antigo deputado pelo CDS-PP venceu um vice-presidente de António José Silva, que saiu de cena ao fim de 12 anos, mantendo-se na frente da European Aquatics (LEN), no caso Rui Sardinha, para passar a chefiar os destinos da natação.
Nas mãos tem um momento particularmente vivo da modalidade, com o ‘prodígio’ Diogo Ribeiro, aos 20 anos já bicampeão mundial, e nomes como Camila Rebelo e Francisca Martins a evoluir, além de Angélica André e outros valores na natação em águas abertas e duplas na artística.
Com mudanças em 16 das 34 federações responsáveis por modalidades olímpicas, várias trouxeram caras novas ao fim de 12 anos de mandato dos líderes anteriores, como Duarte Anjo, sucessor, com lista única, de Horácio Gouveia no badminton, ou a rara mulher presidente, no caso Helena Silva, à frente dos destinos da Federação Portuguesa de Tiro com Arco.
Na Federação Portuguesa de Vela, António José Barros bateu o agora ex-presidente, Mário Quina, com um mandato claro de “fazer diferente”, enquanto no ténis de mesa Fernando Malheiro sucedeu a Pedro Miguel Moura, que 12 anos depois deixou a federação mas segue na frente do organismo europeu, com discurso conciliador para os outros dois candidatos derrotados e a união como lema.
Também derrotado após um mandato, Sérgio Dias deu lugar a Fernando Feijão na Federação de Triatlo de Portugal, enquanto Pedro Nunes Pedro arrebatou a liderança no golfe, após dois ciclos de Miguel Franco de Sousa.
Muito concorrida foi a sucessão de Delmino Pereira, após 12 anos na Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), acabando por ganhar outro antigo olímpico, Cândido Barbosa.
Américo Ferreira sucedeu a Clauso das Neves na esgrima, depois de este não se apresentar a eleições, e venceu também em lista única, num ciclo eleitoral com várias transições menos ‘simplificadas’.
Nas mudanças que implicam uma solução de continuidade, o antigo ‘vice’ de Vítor Félix, Ricardo Machado, assumiu a liderança na canoagem, após 12 anos de ‘reinado’, na mesma senda do que se havia passado antes, uma vez que Félix tinha sido vice-presidente de Mário Santos, anterior presidente, numa fase em que a modalidade ‘explodiu’ em resultados e atenção mediática.
No remo, Luís Faria ‘sobe’ à presidência da direção depois de acompanhar Luís Ahrens Teixeira no mandato anterior, em que Portugal não se fez representar em Paris2024, assim como Américo Soares, que assume a presidência no squash, que se estreará em Jogos Olímpicos em Los Angeles2028, tendo acompanhado Luís Ferreira no mandato anterior.
Por outro lado, vários foram os presidentes reeleitos, como Miguel Laranjeiro (andebol), Bruno Santos (hóquei), Sérgio Pina (judo), Luís Sénica (patinagem), João Almeida (pentatlo moderno), José Sevivas Marracho (tiro), Vítor Pitti (tiro com armas de caça) e Vicente Araújo (voleibol), para citar os casos mais relevantes.
Entre as reeleições estão dois casos litigiosos e polémicos, nomeadamente a de Bruno Rente na Federação Equestre Portuguesa, que levou o candidato derrotado, Roberto Dória Durão, a anunciar a intenção de impugnar as eleições, o mesmo sucedendo na ginástica, com protesto de Ricardo Antunes ante a continuidade de Luís Arrais, decidida por dois votos.
Entre as exceções à regra, com eleições desassociadas do ciclo olímpico, nota para o basquetebol, com mandato para Manuel Fernandes até 2026, boxe, e râguebi, este último até 2027, bem como a Federação de Desportos de Inverno de Portugal, cujas últimas eleições foram em 2022, ano de Jogos Olímpicos de inverno.
Este novo quadro de liderança nas modalidades, de resto, serve também de antecâmara às eleições ao Comité Olímpico de Portugal (COP), em 19 de março, a que concorrem o antigo líder da FPF, Fernando Gomes, e dois antigos secretários de Estado do Desporto, Alexandre Mestre e Laurentino Dias.
Cenário diferente no Comité Paralímpico, que tem apenas uma candidatura ao sufrágio de 18 de março, o atual presidente, José Lourenço, que chefia este organismo desde 2017.