— Vi que, depois de ter subido ao pódio e dado as entrevistas, levou a medalha a passear até à Torre Eiffel. Sentiu essa necessidade?
— Tive cá o meu parceiro de treino do clube [Gualdim Pais] e os pais dele a ver a competição. Antes de sairmos de Tomar já havíamos combinado que, domingo, corresse como corresse a prova, iríamos passear todos juntos à Torre Eiffel. E tendo eu ganho em Paris, tive de levar a medalha para tirar fotografias. Depois, estava a ver a Torre Eiffel toda brilhante e aproveitei tirei fotos com a medalha e a torre.
«Avisei que o melhor era comprarem o bilhete de avião para domingo à noite, ao que me responderam: 'Não, não, depois não dá tempo de ver a tua final, por isso compramos para segunda-feira'. Respondi que estava bem»... «Como acabou por correr muito bem, fomos todos à Torre e depois comemos um crepe.»
— Mas sentiu, por exemplo, ao contrário de outras provas, que aquela noite tinha de ser para festejar? Não foi só vencer, era mesmo uma prova especial?
— Não, foi fazer literalmente o que tínhamos combinado antes de sairmos de Portugal. Eu e eles, que são também do clube, havíamos combinado que, no domingo à noite, esperando que fosse o mais tarde possível — diziam que iria ser tarde porque eu estaria no pódio — íamos visitar a Torre. Avisei que o melhor era comprarem o bilhete de avião para domingo à noite, ao que me responderam: 'Não, não, depois não dá tempo de ver a tua final, por isso compramos para segunda-feira'. Respondi que estava bem, iríamos todos ver a Torre Eiffel, até porque nunca tinham vindo a Paris, e depois comer um crepe de chocolate. Como acabou por correr muito bem, fomos todos à Torre e depois comemos um crepe.
«É o meu parceiro de treino. Chama-se Vicente. Há uns meses tinha falado com os pais dele e contado que gostava de lhe oferecer o bilhete do Grand Slam de Paris para ele vir ver. Só que, como só tem 14 anos»
— Quando ganhou a final [contra a israelita Inbar Laker, prata nos Jogos de Paris e campeã mundial em 2023], celebrou levantando os braços e depois fez aquele gesto com as mãos por baixo da cara. Muita gente pensou que era uma espécie de enquadramento engraçado para as fotografias, só que, afinal, era um V e tinha uma mensagem para alguém na bancada. Quer contar essa história?
— Sim, era para aquele miúdo que depois fui abraçar e que, como disse, é o meu parceiro de treino. Chama-se Vicente. Há uns meses tinha falado com os pais dele e contado que gostava de lhe oferecer o bilhete do Grand Slam de Paris para ele vir ver. Só que, como só tem 14 anos — mas o meu tamanho —, o Igor ou eles tinham de ir com ele. Organizaram-se e trataram dos bilhetes de avião, estadia e da prova e eu ofereci a entrada ao Vicente. Afinal, trata-se do meu parceiro de treino e é fanático por judo. Já treina tanto como eu. Como sabia que também desejava ver todas aquelas caras conhecidas que acompanha pelo telemóvel, ofereci-lhe o bilhete. No sábado, após as pesagens, ainda nos encontramos e prometi-lhe: ‘Se ganhar vou dedicar-te a vitória, só que se fizer um V com a mão vai parecer um dois e vão achar que estou a dizer que ganhei duas vezes, o que nunca aconteceu. Tínhamos de encontrar outra solução, chegámos a esta de fazer um V daquela maneira. ‘Vou fazer um V assim e vais saber que é para ti'. Mas, obviamente, ninguém entendeu o que era. No entanto ele percebeu, que era o que importava.
«O Vicente é como se fosse o meu irmão mais novo. É muito especial.»
— E depois o Vicente desceu as bancadas e aquele abraço entre os dois tornou-se especial?
— Sim, bastante especial. O Vicente é como se fosse o meu irmão mais novo. É muito especial.
«Desejo que não venha a ser a única do clube a andar no Circuito Mundial e estar a este nível competitivo. Quero muito que aqueles que treinam conosco atinjam também este patamar.»
— Espera, daqui a alguns anos, estar a competir em Paris e o Vicente também?
— Sinceramente, gostava muito. 2028 já é muito próximo, mas as nossas intenções é que isso aconteça. Até já lhe disse, em tom de brincadeira, que gostava de o levar como training partner aos próximos jogos [Los Angeles-2028]. Só que ainda faltam três anos e não dá para falar disso agora. De qualquer forma, é um objetivo, um sonho que temos. Desejo que não venha a ser a única do clube a andar no Circuito Mundial e estar a este nível competitivo. Quero muito que aqueles que treinam conosco atinjam também este patamar. Puxo muito o Vicente nesse sentido.
— E ele quer ser um judoca de elite como a Patrícia?
— Sim, sim... Agora, com os seus 14/15 anos diz que sim [risos].
— Pois, mais para a frente vai ser duro, não é?
— É verdade, mas ele sabe. Disse-lhe: ‘Olha Vicente, também te trouxe para veres de perto como é que é este mundo’. Ele gostou muito da experiência.
«Em termos de objetivos de resultados, estou a trabalhar para tentar conquistar uma medalha no Europeu e outra no Mundial. Para este ano é esse o principal foco.»
— E agora, que começou o Circuito Mundial 2025 em Paris, quais são os objetivos para esta temporada?
— Treinar sem lesões graves, se for possível. Até agora tem estado tudo a correr bem — vou bater na madeira para continuar assim. Mas, acima de tudo, quero continuar a ter alguma consistência nas medalhas, ou pelo menos na luta pelos pódios. Em termos de objetivos de resultados, estou a trabalhar para tentar conquistar uma medalha no Europeu e outra no Mundial. Para este ano é esse o principal foco.
«Moro no mesmo sítio, a família está toda igual, os amigos são os mesmos... Já passou aquela febre do momento das pessoas me verem na rua e andarem a tirar fotos»
— Estamos a seis meses de ter ganho a medalha de bronze nos Jogos de Paris, por isso agora permite que já veja as coisas com outra perspectiva. A sua vida mudou muito nestes últimos seis meses?
— Não, nem por isso [risos]. Moro no mesmo sítio, a família está toda igual, os amigos são os mesmos... Já passou aquela febre do momento das pessoas me verem na rua e andarem a tirar fotos, a dizer olá. Agora está tudo mais tranquilo. Voltou tudo ao normal.
«Gosto de ver que posso ser uma referência para os mais novos. Dessa parte sim, gosto. Antes, nas primeiras semanas [depois dos Jogos] foi tudo muito intenso.»
— Mas, as pessoas continuam a reconhecê-la na rua?
— Sim, mas já não é aquela loucura, é tudo mais tranquilo.
— Este período que está a viver, de um reconhecimento pelo que fez e faz, agrada-lhe? Afinal é uma judoca e não um futebolista. Ajuda a que todo esse investimento que faz na carreira e a dureza de treinos, pelo menos, bidiários, musculação e as lesões que tem passado... Gosta de ser reconhecida na rua, até porque não é uma pessoa que aprecie particularmente de dar nas vistas?
— Sim, como é agora, gosto. É um reconhecimento moderado e mais no mundo do desporto. Também porque apareci na televisão, fui a programas... E como é muito mais pelas crianças e jovens, isso agrada-me. Gosto de ver que posso ser uma referência para os mais novos. Dessa parte sim, gosto. Antes, nas primeiras semanas [depois dos Jogos] foi tudo muito intenso. Mas, depois fui-me habituando e as coisas também foram acalmando. Neste momento, lido bem com isso.
«Se este ano tivesse de escolher alguma, era ser campeã do mundo e conseguir o meu dorsal vermelho»
— Ganhou o Grand Slam de Paris. Se pudesse escolher uma prova, qual seria a próxima que gostaria de vencer?
— A próxima em que lutar... Vou a todas as competições com o objetivo e ambição de ganhar. Mas se este ano tivesse de escolher alguma, era ser campeã do mundo e conseguir o meu dorsal vermelho [apenas atribuído aos campeões em título]. Mas se puder ir a todas e vencê-las, ainda melhor.