Open da Austrália: Os destaques das rondas iniciais

As rondas iniciais do Open da Austrália estão a ser pautadas pela confirmação do favoritismo de muitos dos maiores candidatos ao título, mas igualmente por grandes surpresas e pela ascensão de estrelas emergentes.

Na primeira ronda, destaque para as eliminações precoces do grego Stefanos Tsitsipas, que apesar de estar longe dos seus tempos áureos, não deixa de ser um jogador que costuma ter prestações muito boas neste torneio, tendo sido semifinalista em três ocasiões e jogado a final de 2023.

Uma exibição monumental do jovem norte-americano Alex Michelsen (parciais de 7-5, 6-3, 2-6 e 6-4), e um jogo menos conseguido do tenista helénico, condenou Tsitsipas a uma derrota que seguramente deixará marcas num tenista que é extremamente talentoso, mas que gradualmente tem saído dos grandes holofotes e o seu nome já não é sequer tido em conta como um dos jogadores que pode lutar pela conquista dos grandes torneios.

Igualmente na primeira ronda, caiu um dos dez primeiros cabeças-de-série: o búlgaro Grigor Dimitrov. Mas no caso de Dimitrov (antigo semifinalista do torneio), a sua progressão viu-se condicionada por uma lesão que o forçou a desistir do seu jogo contra o italiano Francesco Passaro, quando este já liderava o encontro com parciais de 7-5 e 2-1.

O russo Daniil Medvedev (finalista do torneio no ano passado, depois de mais uma vez ter desperdiçado uma vantagem de dois sets, tal como tinha acontecido na final de 2022), esteve perto de sofrer uma derrota humilhante contra o tailandês Kasidit Samrej (fora do top 400 do ranking).

O jogador asiático chegou a liderar por dois sets a um e teve oportunidade de quebra de serviço para se colocar em vantagem no quarto set, mas Medvedev conseguiu sair do buraco e nunca mais olhou para trás, tendo ganho com os parciais de 6-2, 4-6. 3-6, 6-2 e 6-1.

Destaque igualmente para a extraordinária vitória do brasileiro João Fonseca (grande vencedor das últimas Next Gen Finals), derrotando o russo Andrey Rublev (antigo número cinco mundial e atual jogador do top 10), com os parciais contundentes de 7-6 (1), 6-3 e 7-6 (5) em menos de duas horas e meia de partida.

O jovem brasileiro tem uma enorme margem de progressão e um futuro brilhante pela frente. Com apenas 18 anos, certamente terá sido a primeira de muitas vitórias em torneios do Grand Slam deste prodígio canarinho.

Jogador destemido, com pancadas muito fortes quer de esquerda quer de direita, já revelando uma grande força mental e maturidade tenística assinalável para alguém tão jovem e inexperiente.

Nesta edição do primeiro Grand Slam, o ténis nacional voltou a conseguir ter dois jogadores no quadro principal do torneio: Nuno Borges (com entrada direta e já bem estabelecido dentro do top 40 mundial) e Jaime Faria, depois de ultrapassar a fase de qualificação

Nuno Borges ganhou o seu encontro frente ao francês Alex Muller (que vinha de ganhar o primeiro título da sua carreira em Hong Kong), num encontro em que Borges teve que recuperar da desvantagem de um set após ter perdido o primeiro set, mas depois avançou para uma exibição muito sólida, tendo ganho com os parciais de 6-7 (2), 6-3, 6-2 e 7-5.

Praticamente à mesma hora, Jaime Faria conseguia a sua primeira vitória no quadro principal de um torneio de um Grand Slam através de uma vitória bastante convincente sobre o russo Pavel Kotov, com os parciais de 6-1,6-1 e 7-5, marcando encontro com o campeoníssimo Novak Djokovic, para muitos considerado o melhor tenista de todos os tempos e vencedor do Open da Austrália em 10 (!) ocasiões.

Djokovic não tem tido um grande início de época, tendo perdido prematuramente no torneio de Brisbane para o gigante norte-americano Reilly Opelka. Na primeira ronda, foi surpreendido pela qualidade do também norte-americano Nishesh Basavareddy (outro dos grandes nomes da anteriormente mencionada Next Gen), que enquanto aguentou fisicamente, foi de longe o melhor jogador em campo.

O jovem americano ganhou o primeiro set com o parcial de 6-4 e os adeptos presentes nas bancadas da mítica Rod Laver Arena pareciam estupefactos com o que estavam a ver e antecipando aquele que poderia ser um dos maiores descalabros desportivos de todos os tempos.

Mas Djokovic foi inteligente, fez uma gestão de energia muito efectiva, conhece muito bem o seu corpo e sabia que Basavareddy iria baixar o seu nível de jogo e rendimento à medida que o seu físico começasse a ceder. E foi exatamente isso que aconteceu. A partir de meio do segundo set, Djokovic assumiu o controlo das operações e avançou para a segunda ronda com os parciais de 4-6, 6-3, 6-4 e 6-2.

No jogo da segunda ronda, Jaime Faria acusou o nervosismo inicial de jogar contra o melhor de sempre num dos maiores estádios do mundo, tendo perdido o primeiro set por 6-1. Mas o resultado não espelhava o que se tinha visto, pois Djokovic tinha sido apenas mais cirúrgico nos pontos chave, mas não se estava a exibir a grande nível.

O tenista português percebeu isso mesmo, e aumentou a cadência do seu jogo, e fazendo uso do seu excelente serviço (chegava à segunda ronda no top 5 dos jogadores com mais ases) e da potência da sua pancada de direita, conseguiu quebrar o serviço de Djokovic, serviu para fechar o segundo set a 5-3, mas fez um jogo paupérrimo de serviço e o tenista sérvio aproveitou para devolver a quebra de serviço e recuperar no set.

Apesar desse impacto de ter desperdiçado uma oportunidade única de ganhar um set a Djokovic, Faria conseguiu estabilizar emocionalmente e levar a decisão para um tie-break. Nesse tie-break, Jaime Faria superiorizou-se de forma brilhante, jogando de forma quase perfeita e tornando-se assim o primeiro jogador português a ganhar um set a Novak Djokovic.

A Rod Laver Arena vinha abaixo com o ténis apresentado pelo até então desconhecido tenista português. Vindo da fase de qualificação e acusando o cansaço natural de quem joga contra Djokovic (que exige sempre muito dos seus adversários a nível mental e físico), Jaime Faria foi perdendo a consistência do seu jogo e acumulando erros não forçados.

O aparecimento da chuva fez com que a cobertura do estádio tivesse que ser fechada, e isso beneficiou muito o jogo de Novak Djokovic, que é um dos melhores tenistas a jogar nestas condições de jogo. O tenista sérvio acabou por confirmar o seu favoritismo, vencendo com os parciais de 6-1, 6-7 (4), 6-3 e 6-2.

Apesar da derrota, Jaime Faria tem todas as razões para sair de Melbourne bastante orgulhoso da sua prestação. Se continuar a trabalhar arduamente, tem recursos tenísticos para pode chegar ao top 50 durante este ano de 2025.

Já Nuno Borges teve uma segunda ronda absolutamente perfeita. Jogando contra o tenista da casa Jordan Thompson e tendo todo um estádio contra si devido a esse fato, literalmente “varreu” da pista o tenista australiano e conseguiu derrotá-lo facilmente com os parciais de 6-3, 6-2 e 6-4 em menos de duas horas de jogo, marcando encontro contra um dos grandes favoritos à conquista do torneio: o tenista espanhol Carlos Alcaraz, que chega a Melbourne com o objetivo de se tornar o jogador mais jovem de sempre a completar o Grand Slam (ganhando todos os quatro maiores torneios) de carreira.

Não será uma tarefa nada simples para Nuno Borges, mas o tenista nacional tem ténis para colocar em dificuldades o tenista espanhol. Alcaraz vem de ganhar tranquilamente os seus primeiros encontros no Grand Slam australiano e parte obviamente como o grande favorito, mas Borges não tem nada a perder e pode causar uma surpresa, se o tenista espanhol não jogar ao seu nível ou tiver aqueles célebres momentos de desconcentração, que muitas vezes impedem que Alcaraz seja ainda mais dominador do circuito quanto poderia ser.

Na segunda ronda do Grand Slam australiano, o maior destaque vai para a eliminação do russo Daniil Medvedev. Como anteriormente tinha sido referido, Medvedev chegava à segunda ronda depois de evitar uma das derrotas mais humilhantes da sua carreira contra o desconhecido tailandês Samrej.

Na segunda ronda viu-se vergado a uma derrota que não se pode considerar escandalosa, mas que no mínimo se deve considerar surpreendente, até pelo decurso do jogo e pelo que se viu em campo.

O norte-americano Learner Tien (finalista da última Next Gen Finals) é sem dúvida um dos tenistas de futuro mais promissor, mas não deixa de ser um tenista de 19 anos que não está minimamente habituado a jogar nestes grandes palcos num encontro à melhor de cinco sets.

Foi provavelmente até agora, o melhor jogo do torneio aquele que opôs Medvedev a Tien. O jovem norte-americano, apesar de ser um jogador muito ofensivo e com uma grande variedade de recursos tenísticos, demonstrou que além disso, tem uma grande resiliência e força mental.

Apesar de ter ganho os dois primeiros sets, Tien sabia que necessitava de ganhar o jogo em três sets, sob pena de não aguentar o embate do ponto de vista físico. Medvedev é um dos melhores jogadores do mundo e além disso é todo um estratega dentro de uma pista de ténis. Apesar de não ter nenhuma pancada definitiva, faz uso da sua superior inteligência tenística para desgastar os seus adversários em extenuantes trocas de bola.

No tie-break do terceiro set, Tien desperdiçou um match point e Medvedev conseguiu evitar a derrota em três parciais, sendo que o jovem americano já demonstrava evidentes sinais de fadiga e as caîbras começavam a aparecer.

Com um quarto set resolvido facilmente pelo tenista russo, as bancadas da Rod Laver Arena (já parcialmente despidas porque o encontro só terminou perto das três da manhã), estavam entusiasmadas com o nível de ténis apresentado, mas temiam por uma autêntica demolição de Medvedev sobre Tien.

No quinto set, Tien foi o primeiro a quebrar o serviço, Medvedev devolveu a quebra de serviço em seguida e a partir daí foi um autêntico festival de ténis. Os dois jogadores a jogarem ao seu melhor nível no limite das suas forças. Medvedev serviu para fechar o encontro com 6-5 no marcador, mas Tien renasceu das cinzas, conseguiu quebrar o serviço do tenista russo, recuperar de uma desvantagem de 6-4 no super tie-break, e obter uma vitória absolutamente épica.

Parciais de 6-3, 7-6 (4), 6-7 (8), 1-6 e 7-6 (7) ao fim de quase cinco horas (!) de jogo. Learner (que em inglês significa aprendiz) foi quem ensinou aqueles que muitos chamam de professor do ténis.

As segundas rondas foram igualmente marcadas pela eliminação prematura de mais um jogador do top 10 mundial: o norueguês Casper Ruud. Apesar de ser um especialista de terra batida, Ruud já jogou uma final do Open dos Estados Unidos e já disputou uma final das ATP Finals, ambos jogados em piso rápido.

Ruud sucumbiu perante outra das grandes estrelas da Next Gen: o checo Jakub Mensik, tenista de grande futuro e que certamente será um dos nomes a ter em conta no ano de 2025 e na próxima década. Os parciais finais foram de 6-2, 3-6, 6-1 e 6-4 a favor de Mensik.

O italiano Jannik Sinner, número 1 mundial e atual vencedor do torneio, não apresentou um grande ténis nas rondas iniciais. Há que reconhecer que teve um dos adversários mais difíceis na primeira ronda (como o caso do sempre perigoso chileno Nicolas Jarry).

O tenista transalpino venceu esse encontro com os parciais de 7-6 (2), 7-6 (5) e 6-1, mas perdeu o primeiro set no encontro da segunda ronda contra o tenista australiano Tristan Schoolkate (fora do top 150 mundial), e os sinais apresentados não são os melhores.

Sinner vai a tempo de encontrar a sua melhor forma e voltar a ganhar o torneio, mas terá que aumentar o seu nível exibicional quando defrontar tenistas de outra dimensão. Venceu esse encontro contra Schoolkate depois de um primeiro set bastante fraco de sua parte, pelos parciais de 4-6, 6-4, 6-1 e 6-3.

Dois dos outros tenistas que prometem entrar na discussão do título do Open da Austrália, têm-se exibido a grande nível. São eles o norte-americano Taylor Fritz (que não cedeu o seu serviço nas duas primeiras rondas) e o alemão Alexander Zverev. Ambos perseguem o seu primeiro título do Grand Slam.

Venceram facilmente as suas rondas iniciais e podem beneficiar de ter ficado num lado acessível dos respectivos quadros. Será que teremos um novo vencedor de um Grand Slam em Melbourne?