
É a subida que João Almeida mais utiliza para treinar quando está em Portugal, e não em Andorra, sua residência habitual. É a montanha mais conhecida da região Oeste, berço de lendas do ciclismo como poucos.
É, não só, a casa de Almeida, mas foi, antes do caldense, a zona de Joaquim Agostinho, a lenda das bicicletas, o grande voltista nacional antes de aparecer um João que, dentro de poucos dias, irá à Vuelta continuar a sonhar. Esteve 42 anos afastada da Volta a Portugal, mas regressou na 86.ª edição.
A corrida chegou ao penúltimo dia praticamente decidida. A Torre deixou a segunda vitória seguida de Artem Nych no território "se nada de estranho acontecer", tornou a consagração em Lisboa mera formalidade. Sendo assim, nesta Volta a Portugal de protagonistas estrangeiros, o motivo de interesse na derradeira tirada em linha estava em saber quem ergueria os braços em festejo lá no alto.
Partindo de Alcobaça, a jornada não apresentava dificuldades até ao início dos cinco quilómetros a 8,3% de pendente média do Montejunto. Ao arranque da montanha chegaram, com quatro minutos de avanço, Tomas Conte e Nicolás Tivani, a parelha de argentinos protagonistas da Aviludo-Louletano-Loulé, e Pau Martí, da Israel Premier Tech Academy, jovem que já venceu ao serviço do conjunto que muito deu nas vistas na Grandíssima.
Pau Martí, querendo desfazer a superioridade numérica dos algarvios, atacou a 3,6 quilómetros do alto. Tivani, naturalmente, respondeu, subindo o espanhol e o argentino em conjunto. Não houve colaboração, para protesto de Martí, mas a margem para o grupo principal, onde a APHotels & Resorts / Tavira / SC Farense trabalhou para um Jesús David Peña que deixa um sabor a desilusão, permitia o jogo do gato e do rato.
A 500 metros do risco que dita vencedores e vencidos, a máquina ditou o desfecho do duelo. Uma avaria mecânica deixou o jovem Martí fora da discussão, estendendo a passadeira do festejo para Tivani. Conquistador no Sameiro, com mais um quarto e um segundo lugar em etapas, o argentino, portador da camisola dos pontos, confirma-se como um dos protagonistas da competição.
Na geral, Alexis Guerin ganhou alguns segundos a Artem Nych, na questão particular entre os homens da Anicolor/Tien 21. O russo tem 39 segundos de vantagem para o francês, quando só faltam os 16,7 quilómetros do contrarrelógio de Lisboa.
Só houve dois portugueses capazes de vencer etapas nesta Volta. Rafael Reis, no prólogo, e Hugo Nunes, em Bragança. Recairão sobre Rafel Reis, especialista na luta contra o tempo, as esperanças de haver um êxito nacional em Lisboa. De resto, cabe olhar para o Montejunto e pensar em Agostinho, glória de sempre, e Almeida, símbolo massivo do talento que, hoje, se exporta.