Para que dois jogadores com 21 anos de diferença estejam em campo em simultâneo, é obrigatório o mais velho assegurar uma cuidada manutenção dos sistemas. No entanto, também é requerida alguma precocidade ao mais novo. Ambas as condições estavam cumpridas no Goodison Park, mas fatores alheios à vontade de ambos interferiram na concretização de um feito inesperado.
A FA Cup dissolveu a clivagem entre o Everton e o Peterborough, colocando, num mesmo encontro, um clube da Premier League e outro da League One, o terceiro escalão do futebol inglês. À responsabilidade da aleatoriedade do sorteio, uma dupla de membros da família Young conseguiu algo melhor do que como um prémio da lotaria de Ano Novo. Pela primeira vez em 154 anos de história da competição, um pai, Ashley Young, teria a oportunidade de defrontar um filho, Tyler Young.
O deslumbramento perde-se com o passar do tempo, mas, aos 39 anos, o progenitor continua a guardar resquícios de tal sentimento. “Os sonhos podem tornar-se realidade”, manifestou quando soube que ia encontrar o Peterborough na terceira ronda da Taça de Inglaterra. Normalmente, o caminho para alcançar os desejos oníricos é tão longo que a um passo de lhes tocar antecipa-se o festejo. Foi o que Ashley Young fez, com todo o prejuízo que isso acarretou.
Não são dias de grande inspiração futebolística para o Everton. Seamus Coleman, o capitão da equipa que ainda a 26 de dezembro defrontou o Manhester City, e Leighton Baines, antigo jogadores do clube, repartem entre si a liderança técnica interina após a saída de Sean Dyche (deve ser substituído por David Moyes). Além disso, vão-se sucedendo épocas em que os toffees andam de rojo na classificação da Premier League.
A fase de desinspiração, que tende a tornar-se crónica, fez do Everton-Peterborough um jogo relativamente equilibrado em termos de marcador. Só o golo do avançado luso-guineense Beto é que desequilibrava a eliminatória aos 73 minutos, momento em que Ashley saltou do banco, indiciando que, do outro lado, Tyler pudesse fazer o mesmo.
Darren Ferguson, filho de Alex Ferguson e treinador do Peterborough, tinha a impressão de que ainda podia empatar ou ganhar e que Tyler, médio de posição, era um anticorpo para esse desiderato. Posto isto, o jovem de 18 anos ficou a ver o pai jogar a partir do albergue dos suplentes e não se cruzou com ele dentro do campo.
“Não fazemos caridade”, argumentou Darren Ferguson com dotes de treinador mais discretos que os do pai, lenda do Manchester United. Mesmo considerando que foi “muito difícil” não dar minutos a Tyler, acha “que foi o melhor para a equipa”.
“Destruído”, eis a palavra com que Ashley Young reagiu à opção do treinador adversário. Darren Ferguson contrapôs: “Se o jogo estivesse 2-0, eu tê-lo-ia colocado. Com 1-0, tive que lançar um avançado. Tentei retirar algo do jogo e fazer o que era melhor para a equipa.”
Iliman Ndiaye, já bem para lá dos 90’, fez o 2-0, numa fase em que não restavam substituições ao Peterborough. Os Young terão que esperar por outra hipótese – se é que vai existir – para viverem os melhores minutos das suas carreiras.