Os últimos instantes do Manchester City-Everton captaram bem a energia que, neste momento, domina nos tetracampeões. Ou melhor, a falta de energia. A apatia, uma quase aceitação da dor e da crise, uma falta de revolta contra o sofrimento.
Com 1-1 no marcador, não houve um assalto em direção à baliza do clube de Liverpool. Antes pelo contrário, foram os visitantes a ameaçar em contra-ataques, conscientes de que, do outro lado, estava um gigante ferido, uma equipa histórica a operar em mínimos históricos. Para uns, os descontos eram uma oportunidade, para outros eram um suplício.
Sem tentativa final de obter a vitória, aceitando o empate como um mal menor, o Manchester City manteve-se letárgico, dormente. Em agonia, mas já uma agonia que se vive encolhendo os ombros, conformada.
Pela 12.ª vez nos últimos 13 jogos, os tetracampeões de Inglaterra não ganharam. O 1-1 contra o Everton coloca assim o registo dos homens de Guardiola desde 30 de outubro: 13 partidas, nove derrotas, três empates, uma vitória.
O Boxing Day arrancou com um embate entre clubes com o peso da história em cima. Por um lado, o Manchester City, única equipa a ganhar a liga inglesa quatro vezes seguidas nas 126 edições do campeonato. Por outro, o Everton, a segunda equipa há mais tempo no principal escalão, com participações ininterruptas desde 1954/55, registo só batido pelo Arsenal, que está no topo da pirâmide desde 1919/20.
A tarde começou a dar ares de suavizar da crise. Logo aos 14', Bernardo Silva, assistido por Doku, fez o 1-0.
No entanto, o futebol do City foi sempre um jogar em estado de dúvida, uma máquina pouco oleada. Os processos do passado recente não saem, aquele estilo padronizado não flui. O Etihad olha para o relvado abraçando o espírito da equipa, sofrendo, mas sofrendo conformado.
Aos 36', e pouco depois de Bernardo falhar uma grande oportunidade para o 2-0, o Everton empatou. Ndiaye, aproveitando a empatia defensiva do adversário, bateu Ortega.
Depois do intervalo, o jogo recomeçou com a melhor oportunidade de que o City dispôs para chegar ao 2-1. No entanto, Haaland, de penálti, não conseguiu superar Pickford. Nesta série trágica de 13 partidas, o norueguês só marcou quatro vezes.
Até final, os tetracampeões foram atacando sem convicção, sem crença, sem esperança. De Bruyne e Gündoğan saíram do banco para personificar a quebra de rendimento, sombras do que até há pouco tempo eram, campeões em série sem aquela fibra no olhar e magia nos pés.
O City acabou a aceitar o empate sem rebeldia, sem revolta. É sexto na tabela, mas, consoante os resultados do resto do Boxing Day, até pode cair mais para baixo.