
Federico Chingotto é uma estrela mundial. Mas quem visse o número 3 do ranking, divertido, a partilhar o campo com dezenas de fãs na inauguração do Major Padel Club, dificilmente acreditaria que aquele rapaz argentino tão simples era o mesmo que uma semana depois vencia o Major de Roma, frente aos ‘extraterrestres’ Coello e Tapia. Mas era mesmo ele, que também se sentou à conversa com A BOLA.
- Está há cerca de um ano a fazer dupla com Alejandro Galán. Que balanço faz da parceria?
- Estou super-contente deste ano que levo com o Ale. Foi um dos melhores da minha carreira, com resultados incríveis que nunca pensei atingir: cinco títulos, jogar 15 finais seguidas... Estamos felizes, mas não nos conformamos porque queremos chegar ao número 1 do ranking. Estamos a preparar-nos para isso.
- É preciso destronar Arturo Coello e Agustín Tapia...
- Sim, é uma batalha muito, muito dura. É uma dupla explosiva que está a fazer as coisas incrivelmente bem. Mas estamos em busca de soluções para os ultrapassar.
- O que é preciso para os tirar do topo?
- Regularidade não nos faltou no ano passado. Temos de dar um passo mais no nosso jogo, em todos os aspetos. Estamos em busca da solução para dar a volta à situação. Mas eles também treinam muito e estão preparados para todas as situações. São, sem dúvida, a dupla a bater. Eles já levam três anos juntos e nota-se na confiança que têm um no outro e na forma como conduzem o jogo.
- Diz que no padel, Tapia é como Messi e Galán como Cristiano Ronaldo. Porque faz essa comparação?
- A forma como Messi joga deixa-me louco. Tudo aquilo que alcançou durante a carreira é único. Mas com treino, muito trabalho e luta, o Cristiano conseguiu alcançar o mesmo nível. Ambos são lendas do desporto, destacando-se de formas distintas. E no padel é igual. O Agus [Tapia] tem um talento inato e parece que está sempre tranquilo em campo, enquanto faz magia constantemente. E quem conhece a história do Ale [Galán] sabe que há muito trabalho por trás. A besta que tenho agora ao meu lado, fisicamente, precisou de muito trabalho. Por isso os comparo, porque eles também vão ser lendas do nosso desporto. Para mim, são os melhores da história do padel.
- E com quem se pode comparar o Federico?
- [risos] Uff. Eu gosto mais de organizar o jogo, por isso seria um Iniesta. Ou um Vitinha! Alguém que está ali sempre a trabalhar e criar dificuldades aos adversários. Apesar de ficarmos mais na sombra, mostramos que também se conseguem grandes feitos.
- O padel está a tornar-se cada vez mais físico e potente, mas o Federico mostra que é possível estar no topo, apesar de ter 1,70m.
- Sem dúvida. A mensagem que penso que transmito com o meu padel é que lutando pelo sonho em campo, tudo é possível. Não é preciso ter 1,90, ou ter o remate mais potente para lutar com os mais fortes em campo. Com trabalho, esforço e cabeça podemos conseguir grandes feitos.
- Como encara essa evolução a que assistimos?
- Sem dúvida que a modalidade evoluiu e o campo parece que se torna pequeno, com jogadores cada vez maiores e mais agressivos. Além de Tapia/Coello, há uma nova dupla, Cardona/Augsburger, que são muito parecidos e estão a crescer. Fisicamente, são duas bestas e têm um padel ultra-agressivo. Mas o nosso padel, que é mais clássico, também evoluiu. Vemos um exemplo disso com a dupla Garrido/Libaak, que me parece uma versão 2.0 de nós, um pouco mais agressiva, que se adapta muito bem à forma como o padel está a evoluir.
- Mas vamos continuar a ver o pequeno Chingotto a brilhar junto dessas 'bestas' físicas?
- Trabalho para isso! Obviamente que é difícil, temos de ir melhorando muitas coisas, mas dia após dia tento polir cada vez mais os golpes para poder continuar em bom nível contra essas duplas, tornando-me também um pouco mais agressivo. Custa um pouco sair dessa zona de conforto, mas tenho atrás de mim uma equipa que me apoia para conseguir melhorar.
- O padel está a crescer em todo o mundo, mas olhando para o top-50, há apenas seis jogadores que não são espanhóis ou argentinos...
- O mais bonito é ver que o padel está a crescer e temos cada vez mais jogadores de outros países a competir num nível alto. Nos Mundiais já vemos outras seleções com grande crescimento. Isso é muito importante. O que falta é ser modalidade olímpica. Ainda vai demorar, porque apesar de estar a crescer muito depressa, nem sempre se lida bem com isso. Porque há muitas situações novas que é preciso gerir. Mas pouco a pouco, vejo que está cada vez mais organizado e acredito que dentro de alguns anos o padel irá ser olímpico.
- Acredita que ainda irá participar nuns Jogos Olímpicos?
- Oxalá que sim! Não sei se ainda conseguirei ir, porque o crescimento do padel é muito recente e não sei quanto tempo pode demorar um desporto a chegar a olímpico. Sei que esse objetivo já está na mira, mas ainda é preciso melhorar muitas coisas. Acredito que dentro de 10 anos poderemos estar perto disso. E se assim for, poderei estar lá. Mas o caminho ainda é longo.
- O circuito promove muitas viagens intercontinentais, viajando da Europa para a América do Sul e para o Médio Oriente várias vezes. Organizar melhor o circuito é obrigatório?
- Sem dúvida. É algo que podemos copiar de outros desportos para gerir melhor a forma como o circuito está organizado. Por vezes temos dois torneios na América do Sul, subimos aos EUA, e depois viajamos para a Europa para uma mini-digressão, e voltamos à América do Sul. Mas também entendo que é muito difícil para as duplas que estão mais abaixo no ranking sobreviver um mês noutro país. Se não forem aos quartos de final, ficam uma semana à espera pelo torneio seguinte e são muitos gastos. Por isso é que digo que é importante ajudarmo-nos todos para encontrar melhores soluções.
- Mas a realidade assim é dura para os atletas.
- Sim, é importante que o circuito esteja a crescer, mas este ano fomos para Miami e Chile. Voltámos à Europa, fomos ao Médio Oriente e acabámos de voltar à América do Sul [Paraguai e Argentina], para agora vir novamente para a Europa. E no final, o corpo ressente-se muito. O ano está muito carregado de torneios, por isso temos de os gerir melhor.