
O português Daniel Ascenso é um de apenas 11 homens nos Europeus de natação artística, no Funchal, entre 125 mulheres, e assume-se "incluído" numa disciplina que vê o contributo masculino como "diferença benéfica".
"Acabo por ser visto de forma diferente. É um desporto que foi, durante muitos anos, mais visado pelo género feminino. A entrada dos homens é vista de forma diferente. Mas não é uma diferença que seja prejudicial, é benéfica", conta, em entrevista à Lusa, o jovem do GesLoures, de 21 anos.
Ascenso fez a transição da natação pura para a artística há três anos e hoje cumpre "o sonho, que sempre foi poder representar a seleção", ao lado de Filipa Faria, com quem foi quinto nos Europeus de Belgrado, no dueto livre que voltam a enfrentar na quinta-feira, mas também com Maria Beatriz Gonçalves.
Na segunda-feira, juntou-se ao regresso de lesão da colega de equipa, que voltou sete meses após uma cirurgia para o seu sexto Europeu, já não com Cheila Vieira, mas no misto, e conseguiram outro quinto posto, no técnico.
"Jogar em casa dá um calorzinho extra, mas também aquela pressão. Nada do que sentimos é excessivo, no sentido de nos limitar. Comparando ao ano passado, o objetivo é a superação, a autossuperação. No ano passado, foi histórico, o primeiro dueto misto português internacional", reflete o jovem nadador.
Sentindo que, com Faria, conseguiram "evoluir como dueto", as "boas expectativas" que sobre eles recaem ajudam a evoluir para o futuro, até pela incorporação de "métodos de trabalho diferentes", com a chegada de Beatriz Gonçalves, uma de "duas irmãs mais velhas", como chama às companheiras de dupla.
"O facto de a Beatriz entrar dita uma nova pedalada. Já chegou tão longe, habituada a um ritmo de trabalho mais acelerado. Eu, sendo rapaz, estou numa perspetiva mais tranquila", reconhece.
Essa é uma diferença que nota entre os homens na modalidade e as mulheres, tendendo a serem "mais relaxados, tranquilos", e elas "mais de acelerar, de trabalhar".
"Olham para nós, não só para mim, mas com outros colegas da modalidade, com quem vou falando e debatendo em torno deste tema, com uma alegria por estarmos a ser incluídos. Sentimo-nos incluídos, não há o olhar de lado por sermos rapazes", revela.
De resto, as diferenças físicas também permitem "complementar" outros lados, "nem que seja pelo extra de força" que podem trazer, não só no dueto como no combinado e provas por equipas.
Os homens passaram a ser elegíveis na modalidade, que evoluiu da natação sincronizada em 2017, desde 2015, mas, em Paris 2024, os primeiros Jogos Olímpicos que permitiram a inclusão do género masculino nas convocatórias, apenas na competição de equipas mistas, e, sem nenhuma prova exclusiva deste género, nenhum país participante os convocou.
Sem arrependimentos, tem aprendido com colegas, seja qual for o género, e só não quer voltar a aplicar gelatina no cabelo, por isso hoje "é só rapar", para evitar essa "sensação muito estranha".
Como exemplos tem o espanhol Dennis González, pioneiro da natação artística do lado de lá da fronteira, e a jovem 'estrela' britânica Ranjuo Tomblin, este mais novo do que o português.
"Muitos dos treinos que fazemos têm por base alguns esquemas que vão fazendo [os mais velhos], para retirar inspiração ou mesmo métodos de treino. O Ranjuo e o Dennis, como outros miúdos, estão a crescer mais e mais. São miúdos que vão chegar longe. Eu olho para eles e quero estar ao lado deles, continuar a lutar para estar ali, ou próximo do seu nível", afirma.
A ambição de Daniel Ascenso leva-o a almejar "um pódio internacional", um dia, mas em termos mais concretos, define "objetivos com os pés mais assentes na terra".
"Dizem-me para não parar de sonhar, e continuo a ter esse sonho de chegar aos lugares mais altos da Europa. Mas para isso, não descartando, é preciso muito trabalho. E ainda falta um bocadinho para lá conseguirmos chegar. Mas estamos próximos e, com trabalho, conseguiremos atingir esses objetivos", comenta.