
O leilão em curso dos terrenos onde se localizam os campos de treino do Boavista justifica-se com dívidas antigas a entidades incluídas na construção do Estádio do Bessa, contextualiza o presidente do clube portuense da Segunda Liga.
"Estamos em conversações há muito tempo com alguns credores. Há dívida originária do clube que é avalizada pela SAD por um motivo: o clube tem a garantia patrimonial, mas a SAD tem o aviamento financeiro. É o caso da BTL, que exigiu que fosse aberto um leilão dos terrenos do Bessa para dar margem negocial. Estamos a acompanhar e a intervir na negociação", disse Rui Garrido Pereira, em entrevista à agência Lusa, três dias depois da reabertura das licitações, que não lograram ofertas mínimas entre março e maio de 2024.
Envolvendo um parque de estacionamento público subterrâneo e diversos equipamentos desportivos, num total de 22,5 mil metros quadrados de área, os terrenos poderão ser licitados em hasta pública através do portal e-leilões na Internet até 08 de julho, às 10:00.
Com um valor de abertura de 2,9 milhões de euros (ME) e uma verba base de 5,7 ME, a fasquia mínima aceite para a aquisição do imóvel completo é de 4,9 ME, tendo o líder do Boavista ficado surpreendido ao ser questionado sobre a abertura do leilão dos terrenos.
"Temos quatro meses de trabalho profundo. Fomos confrontados com situações incríveis, difíceis e desafiadoras. Encontrámos uma dívida monstruosa e um clube muito diminuído nas contas e completamente destruído e descredibilizado, que, desde a criação da SAD, se sacrificou em prol do futebol profissional, sem nunca ter o retorno necessário", referiu.
Empossado em 24 de janeiro como sucessor de Vítor Murta, seis dias depois de derrotar Filipe Miranda nas eleições do clube, Garrido Pereira diz que a direção está dedicada à recuperação institucional do Boavista e na disponibilização de espaços para o futebol de formação e outras modalidades, cujos treinos e jogos se disseminam pelo Grande Porto.
"Perdemos muito valor institucional e isso afeta a imagem do Boavista e as negociações que estamos a fazer. Há muitas modalidades à espera desse feedback", transmitiu, sem querer elencar que entidades estão envolvidas nas conversações com os axadrezados.
Detentor de 10% da SAD, gestora da equipa recém-despromovida à Segunda Liga pela primeira vez em 17 anos, o clube tem dívidas de quase 90 ME e mostra-se grato aos respetivos funcionários com salários em atraso, "que sentem dificuldades diárias há muitos meses".
No final de fevereiro, as secções de ginástica, andebol, voleibol, futsal e futebol feminino exigiram a regularização de dois meses e acusaram Rui Garrido Pereira de não cumprir promessas, criticando uma "situação alarmante, que coloca em risco a própria existência das modalidades e até compromete gravemente o funcionamento estrutural" do Boavista.
"A maioria das modalidades tem de ser sustentável, dignificar e honrar o clube, que paga milhares de euros por mês. Os diretores de cada secção fazem sacrifícios para alcançar objetivos sem nos pedirem nada, pois sabem da nossa situação. O tema do comunicado foi tratado com dificuldade, mas houve compreensão de todos os envolvidos. Este fim de época tem sido muito duro, já que, quando fomos eleitos, chegámos a meio, não tivemos controlo sobre orçamentos negociados em 2024 e estamos a sentir o efeito disso", frisou.
Há uma semana, a direção do futsal cessou funções de imediato e falou num "cenário de abandono" por parte do Boavista, criticando-o pela "falta de envolvimento, conhecimento, interesse e respeito" por um projeto com mais de 30 anos, que se manteve na Segunda Divisão.
"Fizeram uma época excelente e temos o máximo respeito pela direção, equipa técnica e atletas. O que está aqui em causa é um orçamento desproporcional para o que podemos pagar. Esta direção tem dado abertura a cada modalidade para negociar individualmente fontes de receita, mas também está a garantir vários patrocínios para 2025/26", explicou.
Garrido Pereira já escolheu um novo diretor para o futsal, cujo nome não foi desvendado, sendo que, no futebol de formação, estão a ser ultimadas a criação de uma equipa B e uma parceria com o Leça do Balio para elevar a disponibilidade de espaços do Boavista.
"Estamos a criar um conselho científico com pessoas ligadas à formação para podermos ser aconselhados e direcionados na rota certa. Existem dois impedimentos de registo de jogadores [na FIFA], mas a informação que tenho do presidente da SAD é que isso será sanado", traçou, equacionando a entrada em funções de Litos, capitão da equipa campeã em 2000/01 e mandatário da candidatura que o tinha proposto como diretor da formação.
"Esta direção não vai endividar mais o Boavista. Risco de insolvência? Já havia antes de tomarmos posse e temos trabalhado para evitá-lo", sinalizou, apontando para breve uma Assembleia Geral de votação das contas de 2022, 2023 e 2024, já depois de anunciar na sexta-feira uma campanha de recuperação de sócios, solidários com a situação do clube.