A pugilista argelina Imane Khelif, campeã olímpica nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, tenciona defender o seu título nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, apesar das recentes mudanças políticas no país. 

Numa entrevista ao canal de televisão britânico ITV, a pugilista argelina de 25 anos, medalha de ouro na categoria de -71 kg nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, apesar da polémica em relação aos que questionam o seu género, disse que tem o sonho de revalidar o título em Los Angeles. «Vou defender a minha medalha de ouro com tudo o que tenho. Vou continuar o meu sonho», refere. «Ganhei a medalha de ouro, o que foi a melhor resposta depois de todo o bullying de que fui alvo. A minha resposta durante os Jogos foi sempre no ringue. E responder ganhando a medalha de ouro foi ainda melhor. Foi uma vitória com significado a todos os níveis - ético, desportivo e até em termos de espírito desportivo», afirma. 

Querer ir a Los Angeles é também uma resposta a Donald Trump. Depois de o presidente dos EUA ter sugerido que Imane Khelif tinha nascido homem, assinou em fevereiro uma ordem executiva para proibir pessoas transgénero de competir em desportos femininos, algo que não visa diretamente a argelina, mas Trump não ficou sem resposta: «Vou dar uma resposta direta: o presidente americano tomou uma decisão relativamente às políticas de transgénero na América. Eu não sou transgénero. Isso não me diz respeito e não me intimida. É essa a minha resposta.» 

Nesta entrevista Khelif aborda consequências mentais do assédio de que foi alvo durante os Jogos Olímpicos de 2024, em que foi acusada de não ser mulher. Uma das adversárias desistiu até do combate em que estavam. «Quando vi que até chefes de Estado, celebridades e ex-atletas estavam a falar de mim sem verificar os factos, fiquei chocada. Estavam apenas a falar por falar, sem qualquer informação fiável ou documentada», diz acerca de opiniões da escritora JK Rowling ou do empresário Elon Musk, hoje dia um braço direito de Trump. 

«A minha mãe ficou profundamente afetada. Fiquei muito afetada mentalmente e desanimada, mas mantive-me atenta ao que se passava. Durante os Jogos Olímpicos de Paris, pude contar com uma equipa de médicos especialistas que me deram apoio e assistência. Sem eles, poderia ter caído numa espiral de depressão», conta. 

Em 2023, Khelif foi desqualificada nos Campeonatos do Mundo pela Associação Internacional de Boxe (IBA), organismo apoiado pela Rússia e agora desacreditado. A IBA afirmou que as análises ao sangue que ela tinha fornecido a tornavam inelegível para competir na categoria feminina, mas nunca forneceu qualquer prova documentada sobre o que estas mostravam. 

 O Comité Olímpico Internacional (COI), liderado por Thomas Bach, responsável pela competição de boxe dos Jogos de Paris, considerou que os testes não eram credíveis e, consequentemente, permitiu que Khelif lutasse.  Porém, Bach vai deixar em breve de ser presidente e um novo responsável poderá ter visão diferente.

«Espero que o próximo presidente do COI seja um verdadeiro desportista, que se mantenha empenhado nos princípios olímpicos e que defenda os valores do fair play», deseja Khelif.