«Mais do que números e sistemas. Acreditamos num futebol de vantagens, de ocupar posições. Podemos construir com 'três', mas se um líbero aparecer para construir já estamos com 'quatro'. Na parte ofensiva temos um sistema que se «compõe e descompõe» constantemente. Vai depender do rival. Para defender há um sistema, porque há uma ordem. Temos de saber o que fazer e em que momentos. Mas também flexível, gostamos de estudar o rival. Não decidimos como atacar o rival, o rival decide como vamos atacar.»
Foi com o mantra anteriormente escrito que Martín Anselmi se apresentou à nação portista, trazendo uma nova vaga de esperança ao reduto do Dragão.
A estreia do albiceleste pelo FC Porto foi em Belgrado, diante do Maccabi Tel Aviv, e culminou com uma vitória pálida, quase de serviços mínimos e que valeu a passagem do FC Porto ao playoff da Liga Europa, onde encontrará Viktoria Plzen ou Roma.
Ainda assim, a turma azul e branca mostrou uma nova cara, com uma mudança clara de sistema tático e várias nuances novas presentes no jogo dos dragões.
Centrais e alas saem valorizados: a cara do FC Porto com bola
Na teoria, e olhando para todo o plantel, o FC Porto tem jogadores com caraterísticas interessantes para esta defesa a três (ou a cinco). Centrais rápidos e bons de bola - em Otávio e Tiago Djaló - e mais posicionais e fortes a jogar de frente - em Zé Pedro e Nehuén Perez -, laterais ofensivos com pedigree neste sistema - Francisco Moura - e com formação como extremo - João Mário.
Em Belgrado, Anselmi foi fiel à sua ideia e, mesmo com baixas de peso, apostou no 3-4-3 (ou 3-4-2-1). Eustáquio foi a surpresa na defesa, aparecendo ao centro e acompanhado por Tiago Djaló e Otávio. Moura e João Mário - duas desilusões dos últimos desaires portistas - ficaram responsáveis pelos corredores.
Com bola, o FC Porto ganhou alguma segurança com Eustáquio a construir. O internacional pelo Canadá ocupou muitas vezes uma posição mais pela esquerda, empurrando Otávio e Francisco Moura para zonas mais avançadas e encostadas ao corredor canhoto, libertando Fábio Vieira - o médio ofensivo esquerdo numa primeira fase do jogo - a procurar bolas em zonas interiores.
Ora Alan Varela, ora Nico González foram recuando para alimentar a construção portista, mas o paupérrimo estado do relvado levou o jogo muitas vezes para uma vertente de segundas bolas e mais duelos do que aquilo que seria esperado, perante um Maccabi com uma ideia de jogo bem patente de saída curta desde trás.
Uma das novidades do FC Porto com bola foi a forma como os defesas centrais - direito e esquerdo - se foram integrando numa fase mais avançada do ataque da equipa portista. Tanto Otávio como Djaló foram-se juntando ao último terço com underlaps, oferecendo superioridade numérica nessa zona do campo. Com dois centrais e o médio defensivo na cobertura, há mais espaço para esses movimentos acontecerem sem exporem a equipa a surpresas na sua baliza.
Pressão alta e marcações individuais: a cara do FC Porto sem bola
Sem a posse de bola, os dragões mostraram mais dificuldades, sendo este também o momento do jogo mais difícil de alterar comportamentos e cimentar rotinas e dinâmicas de um dia para o outro.
Desde cedo o FC Porto optou pela postura pressionante, com muitos jogadores a condicionar a primeira fase de construção, mas alguma descoordenação na pressão e uma posse bem oleada dos israelitas deixou algumas debilidades portistas a nu.
Nico González saltou na pressão com Namaso, deixando o miolo algo desprotegido e sujeito apenas a marcações individuais, algo que parece que Martin Anselmi está disposto a sujeitar-se. Os alas portistas foram batendo sempre com os laterais do Maccabi, ficando Pepê e Fábio Vieira responsáveis por controlar o espaço nas meias, evitando a entrada de passes entrelinhas.
Na marcação homem a homem, Tiago Djaló e Otávio - à vez - foram acompanhando os extremos dos israelitas nos movimentos de apoio, ficando Eustáquio, que não é tão forte nos duelos individuais, como homem mais posicional, controlando a largura da equipa.
Numa fase mais adiantada da posse dos israelitas, os azuis e brancos mantiveram-se quase sempre num bloco muito curto, com pouca distância entre a linha defensiva e a ofensiva. Nessa zona do campo, o FC Porto apareceu organizado em 5-1-3-1, com muitos jogadores em zonas mais interiores.
Depois da vantagem no marcador, a gestão portista foi mais sem bola do que com a mesma, recuando linhas e tentando controlar os cruzamentos, que causaram alguns arrepios na espinha aos dragões, numa fase em que o empate significava o adeus à Europa.
Muito trabalho para Martin Anselmi lapidar. Conseguirá o FC Porto implementar o novo modelo com sucesso até ao final da temporada?