Joana Martins, jogadora do Sporting e da Seleção Nacional, fala, em entrevista a A BOLA, sobre a evolução do futebol feminino em Portugal, que «cresceu imenso», algo que se nota a nível de clubes e seleções e que faz com que a média afirme que as jogadoras portuguesas têm de «olhar nos olhos» qualquer adversário.

— Tem notado evoluções, sobretudo dentro do Sporting, ao longo destes anos? Notam-se mudanças na forma como se trabalha na academia, na forma como as jogadoras são recebidas e naquilo que têm à disposição?  

— Sim, muito mesmo. Eu acho que o futebol feminino, mesmo a nível nacional, cresceu imenso. Falando sobre o que acontece no Sporting, e já lá estou há muito tempo para poder falar disso, eu sinto mesmo muita diferença a nível de condições. Mesmo a maneira como olham para o futebol feminino evoluiu muito. Treinar em relva natural, por exemplo. Crioterapia, ginásio, alimentação — disponibilizam-nos sempre o almoço. São coisas pequenas, mas que fazem mesmo a diferença e acho que isso é mesmo muito importante. E acho que o futebol feminino está a crescer muito bem nesse sentido. Também no plano desportivo. Acho que a preparação física é muito importante e isso nota-se nos jogos, principalmente a partir dos 60, 70 minutos. Isso faz muita diferença e, se calhar, o que define muitas vezes os jogos entre os clubes ditos ‘grandes’ e os mais ‘pequenos’ não é tanto a qualidade de cada equipa, mas sim a forma como nós estamos melhor preparadas e acho que isso também é importante.  

— Sabemos que em Portugal há um fosso grande entre as ditas equipas grandes e o resto do campeonato. No futebol feminino esse fosso ainda está muito acentuado?  

— Acho que ainda existe uma grande diferença, sim, mas penso que, ao longo dos anos, essa diferença tem vindo a ser cada vez menor. E acho que é para isso que estamos a trabalhar. Acredito que o futebol feminino está a caminhar no bom sentido. 

— Este ano, o Sporting foi à Liga dos Campeões, jogou com o Real Madrid. Como é que foi para a equipa enfrentar uma equipa de topo mundial? Vê-se ainda muita diferença competitiva?  

— Eu, infelizmente, não pude jogar porque me lesionei, mas vi o jogo e, sinceramente, não senti muita diferença. Acho que nos batemos de igual para igual para uma equipa que está em grandes palcos. Por isso, acho que, mesmo em Portugal, devemos olhar para nós e ver que conseguimos estar ao nível das outras equipas e das outras seleções. Na seleção também temos provado isso, que estamos ao nível das melhores. Por isso, penso que não precisamos de olhar mais para baixo. Acho que, hoje em dia temos que olhar olhos nos olhos porque temos a mesma ou até mais qualidade que outros países.  

— A Seleção Nacional tem vindo a bater recordes de assistência, tem vindo a fazer prestações cada vez melhores. Já podemos começar a sonhar com o título de Portugal?  

— Sim, penso que sonhar é sempre bom. Acho que temos de ser realistas e acredito que ainda temos muitos passos para dar, estamos no bom caminho. Mas, como disse, hoje em dia temos de olhar olhos nos olhos para todas as seleções, não só para as que estão ao nosso nível de ranking, mas também as que estão acima de nós. Acho que temos possibilidades para ganhar e, portanto, que sonhar é bom e é o que nos faz chegar lá acima também.