Parece ter sido ontem, mas completam-se 20 anos este sábado sobre a estreia de João Moutinho na equipa principal do Sporting. Geovany Quenda, Rodrigo Mora, Martim Fernandes e Dário Essugo, por exemplo, não eram nascidos a 4 de janeiro de 2005. Nem Roger Fernandes, atual companheiro de João Moutinho. E a máquina continuou sempre muito bem calibrada, de 2005 a 2025: Sporting, FC Porto, Mónaco, Wolverhampton, SC Braga e, claro, Seleção Nacional.
Os treinadores dos chamados três grandes, em janeiro de 2005, eram José Peseiro (Sporting), Victor Fernández (FC Porto) e Giovanni Trapattoni (Benfica). Jesualdo Ferreira estava no SC Braga e Jorge Jesus tinha o estatuto de desempregado depois de ter saído do V. Guimarães em maio de 2004. Ronaldo estava no Manchester United, Figo jogava no Real Madrid e Rui Costa no Milan, enquanto José Mourinho treinava o Chelsea e Luiz Felipe Scolari era o selecionador nacional. E quem fez a estreia de João Moutinho ao mais alto nível foi José Peseiro.
Foi, pois, há muito tempo. Ninguém que esteve nesse Sporting-Pampilhosa de janeiro de 2005, da Taça de Portugal, continua a jogar. Ricardo Pereira e Tiago Ferreira são agora treinadores, tal como Sá Pinto, Custódio e Rui Jorge. Hugo Viana é diretor desportivo do Sporting. João Moutinho é, pois, caso único. Em 2024/2025, por exemplo, só quatro jogadores são mais velhos na Liga: Nenê (Aves SAD), José Fonte (Casa Pia), Guillermo Ochoa (Aves SAD), Rúben Fernandes (Gil Vicente) e Luís Rocha (Santa Clara). E nenhum se estreara ainda no principal campeonato português.
Impressionante é João Moutinho continuar, ano após ano, jornada após jornada, a jogar com regularidade impressionante. Como se tivesse (aparentemente) ainda os 18 anos que tinha quando, há 20 anos exatos, se estreou na equipa principal do Sporting, frente ao Pampilhosa, depois de ter sido campeão nacional de juniores sob o comando de Paulo Bento. «Prometedora estreia. Desinibido, mostrou confiança. Falhou, de cabeça, excelente oportunidade», escrevia Hugo do Carmo, em A BOLA, na apreciação aos jogadores do Sporting. Moutinho jogaria os últimos 19 minutos no lugar de Hugo Viana, atual diretor-desportivo dos leões.
Os meses seguintes seriam de consecutivas estreias. A 23 de janeiro jogou na Liga, em Barcelos, frente ao Gil Vicente e logo como titular; a 16 de fevereiro esteve na Taça UEFA, em Roterdão, com o Feyenoord; a 14 de abril fez a assistência para Niculae marcar frente ao Newcastle; a 5 de maio esteve na final da Taça UEFA perdida para o CSKA Moscovo; a 17 de agosto teve direito à primeira internacionalização A, frente ao Egito, substituindo Petit ao intervalo; a 16 dezembro, com a Naval 1.º de Maio, marcava o primeiro golo pelo Sporting.
Entretanto, em declarações a A BOLA, Moutinho não se deslumbrava. «Não acho que o Sporting seja eu e mais dez. Estou aqui mas sou apenas mais um. O meu trabalho é ajudar o Sporting. Fui bem recebido no plantel principal, os meus companheiros sempre me puseram à vontade, a equipa está unida em torno dos objetivos a que se propôs.»
Renovou contrato até 2008 e ordenado de cerca de 1500 euros brutos. Os adeptos do Sporting olhavam para o jovem médio como quem olhava para Futre, Litos, Figo, Simão, Ricardo Quaresma ou Ronaldo, as mais brilhantes pérolas saídas de Alcochete. Pouco depois, renovaria até 2009. «Estou muito feliz porque estar no Sporting. É o concretizar de um sonho. Podia ter ganho algumas coisas, não ganhei mas tudo o que fiz foi dando o máximo em prol da equipa. Agora espero ajudar o clube. Era aquilo que queria e concretizou-se. As minhas expetativas são sempre elevadas, tal como as da Direção, dos treinadores, de todos. Vamos tentar fazer o nosso melhor e ganhar todas as provas em que estamos envolvidos».
Entre 2005 e 2010, João Moutinho ganha duas Taças de Portugal e duas Supertaças Cândido de Oliveira e, com as saídas de Sá Pinto, Pedro Barbosa, Beto, Ricardo, Hugo Viana por Rui Jorge, passa a capitão de equipa. O mais novo de sempre, após o histórico Francisco Stromp, no início do Século XX. Apesar das quatro taças conquistas, Moutinho começa a sentir-se estagnado em Alvalade e começa a procurar novos rumos. No Verão de 2008 esteve em cima da mesa a possibilidade de sair para o Everton por 15 milhões de euros, mas o Sporting não aceita a transferência por esse valor.
Dois anos depois, a 3 de julho de 2010, A BOLA, pela mão de Carlos Pereira Santos, avança com a notícia do interesse do FC Porto na contratação de João Moutinho. «O jogador está insatisfeito no Sporting, já disse de sua justiça a quem manda, e espera que o libertem para viver o futuro noutro clube, e o dragão é aquele que está melhor colocado. Há vontade do jogador e há vontade dos dragões. Só que o Sporting parece irredutível e não quer baixar o valor da cláusula de rescisão: 22,5 milhões de euros e com contrato até 2014», escreveu CPS.
No dia seguinte, 4 de julho de 2010, a notícia de A BOLA, obviamente, confirma-se: João Moutinho assinava pelo FC Porto até 2014, após reunião entre responsáveis do FC Porto e do Sporting. A transferência seria fechada por valores na ordem dos 10 milhões de euros (mais 50% do passe de Nuno André Coelho), com os leões a terem direito a 25 por cento sobre a mais valia de eventual venda de Moutinho para um clube estrangeiro.
José Eduardo Bettencourt, presidente do Sporting, em conferência de imprensa, foi duríssimo para com João Moutinho: «Teve um comportamento absolutamente deplorável. Se eu não tivesse presenciado os recentes acontecimentos que levaram à consumação do divórcio, não acreditava que fosse possível descer tão baixo. Reconhecemos que é um atleta de alto rendimento, mas enquanto homem estes últimos tempos não nos deixam saudades. A mim e a todos os que sentiram o profundo desrespeito pela sua atitude. Pode ser uma decisão difícil de aceitar por parte dos nossos adeptos, até eu tenho alguma dificuldade em aceitá-la, mas assumi claramente fazer este negócio de forma leal e transparente, sacrificando uma maçã podre mas privilegiando o reforço do grupo».
A verdade é que, nos três anos seguintes, com a camisola do FC Porto, João Moutinho venceria (quase) tudo ao longo de 140 jogos: três Ligas, uma Taça de Portugal, três Supertaças Cândido de Oliveira e uma Liga Europa. Internamente, faltou apenas a Taça da Liga. Que venceria em 2023/2024 pelo SC Braga.
Em 2013 sairia para o Mónaco, juntamente com James Rodríguez, em dupla transferência avaliada, oficialmente, em 70 milhões de euros: 25 por Moutinho e 45 pelo colombiano. Assim, o Sporting recebeu apenas 25 por cento da mais valia de 15 milhões de euros: pouco menos de quatro milhões de euros. Negócio contestado pelo Sporting, que achava estranho que Moutinho valesse apenas 25 milhões e não bem mais.
O jogador ficaria durante quatro temporadas no Mónaco e sagrar-se-ia campeão de França: 219 jogos. Em 2018 foi para o Wolverhampton e por lá ficou cinco épocas: 212 jogos. E em 2023 ingressou no SC Braga. Pelo meio, ao serviço da Seleção Nacional, foi campeão da Europa e ganhou a Liga das Nações, totalizando 146 internacionalizações.
De 5 de janeiro de 2005 a 5 de janeiro de 2025 realizou nada menos de 1058 jogos entre Sporting, FC Porto, Mónaco, Wolverhampton, SC Braga, Seleção A, Seleção B, Seleção sub-21 e Seleção sub-19: média de 53 jogos por ano! Esteve em campo durante 82 290 minutos: média de 77’ por cada jogo. E marcou 72 golos. Um a cada 14 jogos. Só um português jogou mais nos últimos 20 anos. Cristiano Ronaldo, com 1142 jogos. A estrela Moutinho nasceu há, precisamente, 20 anos e continua com sempre: a jogar, jogar, jogar, jogar, jogar…