
Há quatro jogos que Portugal não marca golos - e sofreu 21
“É impossível ganhar jogos sem se marcar, é impossível competir nos jogos a sofrer tanto. Temos de ser mais equilibrados. É algo que temos procurado trabalhar com as nossas jogadoras e sem dúvida que temos de crescer nos dois momentos do jogo, na organização ofensiva e defensiva. Acho que a defensiva, neste momento, é mais preocupante, porque na ofensiva, apesar de não termos estado a marcar, temos criado ocasiões. Tivemos essa ambição e coragem contra as melhores seleções do mundo.
Mas, defensivamente, temos de ser mais sólidos, mais capazes de fechar espaços, não o temos sido, coletivamente. Temos trabalhado muito esse aspeto, esperamos que amanhã apareça a nossa melhor versão para voltarmos a ser o que sempre fomos: uma equipa muito sólida e difícil de bater.”
Vai alterar a estratégia ofensiva?
“A nossa preocupação é continuar a criar oportunidades de golo. Temos criado algumas, não tantas quanto gostaríamos. Queremos ter mais bola e assumir mais o jogo, tivemos dificuldades contra Espanha e Inglaterra, ao contrário de contra a Bélgica e a Nigéria. Fico sempre mais preocupado quando não conseguimos criar, do que quando não conseguimos marcar. Temos de trabalhar para criar mais oportunidades e colocar as nossas avançadas e médias em melhores condições para finalizarem. É sobre isso que temos conversado com as nossas jogadoras, por exemplo, na chegada de jogadoras à área. Nas vezes que chegámos, depois a definição não foi a melhor.”
Lidar com a tragédia de Diogo Jota e do irmão, André Silva
“Não é desculpa, nunca foi. Mas é inegável que não se ultrapassa uma tragédia daquelas num dia ou dois. É algo que nos entristece. Ainda continuam a sair notícias do Diogo e do André, perdurará nas nossas memórias, temos uma ferida aberta. Se a nós nos custa, custará muito mais para a família. Eles estarão nos nossos pensamentos nos próximos tempos. Vamos tentar usar isso como uma força extra, usar a resiliência, a forma de trabalhar, a paixão do Diogo como inspiração.”
Kika Nazareth vai jogar?
“Estão as 23 aptas para poderem jogar.”
E Ana Borges?
“A forma como nos ajudou na segunda parte contra a Espanha, o currículo fala por si, tem uma experiência enorme. É muito capaz, tem algo que muito poucas jogadoras do mundo conseguem fazer: joga numa linha de três, por fora numa linha de quatro, joga a extremo, a ala, já jogou connosco a avançada, a extremo. Qualquer treinador a gostaria de ter, ajuda-nos muito. Mas elas sabem, tanto se começam ou se entram, estamos todos com o mesmo espírito.”
A seleção italiana
“A Itália tem alternado muito a estrutura em que joga, apesar de ter muitas vezes os mesmos princípios, mas altera a estrutura em função das jogadoras. Privilegia muito o jogo interior num primeiro momento ao solicitar as avançadas que baixam, em espaço entre linhas, para tabelarem de frente com as médias e, depois, estimular o jogo exterior para haver cruzamentos no último terço. É uma equipa muito agressiva, com jogadoras muito evoluídas tecnicamente, colocam muita gente na área no momento da finalização.
Mas também sabemos que têm alguns espaços que podemos explorar. Não os quero dizer aqui. Mas terá de ser a melhor versão de Portugal, está no tempo dela aparecer, estamos com dificuldades em fazê-la chegar ao campo. Será a melhor versão das jogadoras para trazer a melhor versão do todo que é Portugal. O grupo quer muito contribuir e dar um passo em frente para, mais uma vez, fazer orgulhar os portugueses.”
Os ajustes na linha defensiva contra a Espanha
“Acima de tudo, percebemos que o jogo nos pedia para aumentarmos os níveis de agressividade, controlar um bocadinho melhor a profundidade e as diagonais que as médias, e as extremos, faziam. Também houve uma alteração da Espanha que nos facilitou um bocadinho, a entrada da Athenea [del Castillo], que não é uma jogadora de espaços interiores e garante sempre a largura, permitiu que a Catarina Amado tivesse sempre proximidade a controlar a jogadora, por exemplo. O jogo é de xadrez, não são só as substituições e os ajustes. Trouxe coisas diferentes e ficámos mais sólidos.
Contra a Itália será um padrão de jogo completamente diferente. É uma equipa que quando é pressionada alto não tem problemas numa bola mais longa, tem uma avançada com um primeiro toque muito forte para poder pentear a bola, entra nas entrelinhas, nas costas das nossas 6, para tentar servir outras jogadoras. A Espanha não tem este tipo de padrão. Será um padrão de problemas completamente diferente que vamos encontrar amanhã.
Há coisas para nós que têm de ser inegociáveis: o aumento da intensidade, do nosso nível de agressividade, a nossa capacidade de antecipar estes lances e os timings de chegada à bola têm de melhorar. Isso sim, independentemente de como a Itália se possa apresentar.”
Portugal só fez cinco faltas contra a Espanha
“Haverá algumas alterações, tem havido sempre e estrategicamente também é importante. Passámos muito tempo a defender contra a Espanha, o que significa fadiga acumulada. A agressividade e o timing de chegada na pressão, a velocidade com que chego… nós muitas vezes conseguimos igualar os números, mas não o timing. Se não consegues encurtar espaços, terá mais problemas. Temos de aumentar essa capacidade de chegar no momento certo, com os números certos, para retirar espaço e tempo às jogadoras italianas.”
Chegou aos 150 jogos na seleção
“Trocava os 150 por outra exibição. É um orgulho muito grande poder estar há 11 anos à frente desta seleção, chegar aos 150 jogos é sempre especial, mas, sinceramente, naquele dia era o menos… Trocava-os por termos o Diogo e o André connosco e por tantas outras coisas mais importantes. Esses jogos ficarão para mais tarde, quando me reformar e contar aos meus. É uma história que temos vivido com estas jogadoras que, por mais do que uma vez, têm feito de mim treinador.”