
Francisco J. Marques, antigo diretor de comunicação do FC Porto, foi ouvido, na manhã desta terça-feira, na qualidade de testemunha arrolada pela defesa de um dos arguidos da Operação Pretoriano, cuja 15.ª sessão do julgamento decorre no Tribunal de São João Novo, no Porto.
O antigo responsável portista esteve na polémica Assembleia Geral (AG) do dia 13 de novembro de 2023 e, para além de lamentar os incidentes verificados, mostrou-se surpreendido pelo facto de não ter havido uma intervenção das forças policiais quando começaram as altercações entre alguns dos presentes na reunião magna, no Dragão Arena.
"Não me lembro se falei com o Tiago Gouveia [diretor de marketing do FC Porto], mas ele também não tinha qualquer responsabilidade na segurança. A única coisa que estranhei foi porque é que a polícia não entrou", referiu Francisco J. Marques, revelando uma conversa que manteve com Tiago Gouveia e Carlos Carvalho [diretor de segurança do FC Porto] no percurso entre o auditório, onde teve início a AG, e o Dragão Arena.
"Lembro-me que essas pessoas criticaram o presidente da AG [Lourenço Pinto] pela forma como aquilo tinha sido organizado, porque eles são as pessoas do FC Porto que tratam da operação, mas numa AG quem tem a palavra final é sempre o presidente da AG. Mas se alguém tivesse que chamar a polícia seria o Carlos Carvalho, que era o diretor de segurança, a tomar essa decisão", recordou o antigo diretor de comunicação do FC Porto.
De resto, Francisco J. Marques nunca teve dúvidas de que a AG não tinha condições para se realizar no auditório onde chegou a ter início.
"Todos nós sabíamos que aquela Assembleia Geral iria ter uma afluência anormal em relação ao que era costume. Não falho uma Assembleia Geral desde 2012 e todas decorreram nesse auditório, que nunca estava cheio... As Assembleias nunca têm comunicação social lá dentro, a minha única intervenção cingia-se a ver os anúncios que se publicavam depois das Assembleias. Na na semana anterior, em conversa com o diretor de marketing, soube que estavam previstas duas alternativas para a Assembleia Geral, e soube que estava a Tribuna VIP como solução de recurso se o número de pessoas se justificasse. Se o número fosse maior, então mudaria para o Dragão Arena. Nunca houve pulseiras, só nessa é que houve e não faço ideia de quem tomou essa decisão. Imagino que tenha sido só para controlar por causa da mudança do local", acrescentou.
A propósito do alegado clima de intimidação na AG, Francisco J. Marques garante que nunca sentiu isso e que o ambiente só ficou verdadeiramente agitado após a intervenção do associado Henrique Ramos, assistente no processo.
"Não, não senti isso... Depois, quando se gera a grande confusão, a dada altura, especialmente, na bancada norte à direita, onde eu estava, as pessoas começam a desviar-se e fica ali um clareira... Não consigo identificar bem o que aconteceu, senti que muitas pessoas estavam indignadas... a única pessoa que identifiquei foi o Fernando Madureira. Depois viu-o a berrar e a gesticular, mas não sabendo o que estava a dizer. A ideia com que fiquei era de que ele estava a tentar controlar, era impossível ouvir o que ele dizia, só o via gesticular...", referiu Francisco J. Marques, acrescentando que não esteve com o arguido Fernando Saul nessa AG.
"As coisas serenaram, mas depois, passada cerca de meia hora, houve a confusão com o Henrique Ramos. Que eu me lembre, pouca gente quis falar. O doutor Miguel Brás da Cunha falou e nem se percebia o que ele estava a dizer, fazia parte da comissão da revisão dos estatutos. O barulho era das pessoas a conversarem sobre o que tinha acontecido antes", recordou.
Questionado sobre a sua reação aos factos aquando da intervenção que fez no Porto Canal, Francisco J. Marques foi taxativo: "Condenei o que tinha acontecido. Disse que aquilo era uma espécie de benfiquização do FC Porto, porque aquilo nunca tinha acontecido numa AG do FC Porto e no Benfica até já aconteceu o presidente apertar o pescoço a um sócio."