Nuno Pinto da Costa, neto de Pinto da Costa, teceu duras críticas à gestão levada a cabo por André Villas-Boas, contestando as saídas de Sérgio Conceição, Pepe e Francisco Conceição do plantel e garantindo que a vertente desportiva está a ser colocada em segundo plano em detrimento do aspeto financeiro. Em declarações ao podcast 'O Último Bastião', não poupou o atual timoneiro dos dragões, desferindo fortes ataques em várias áreas.

E começou a falar do projeto desportivo: «Tudo vai passar pelo projeto desportivo porque ao longo dos últimos dois anos a única coisa que se fala é de contas, ativos, passivos, é de lucros, prejuízos, é de milhões, de empréstimos obrigacionistas e ninguém falou naquilo que seria o projeto desportivo de André Villas-Boas. Ninguém sabia, porquê? Porque interessava entrar pelo campo financeiro porque era o único campo em que poderiam atacar a Direção que ganhou tudo, que conquistou a Europa e o Mundo. E, portanto, só se falou de contas».

Momento atual

«Agora só se fala dos jogadores, querem meter a culpa toda nos jogadores e a culpa não é só dos jogadores, foram cometidos erros graves do projeto desportivo ao longo do ano, a começar pela escolha do próprio treinador, passaram a mensagem que o salário do Sérgio (Conceição) era demasiado alto e ainda hoje não sabemos ao certo quanto se gastou no despedimento do Vítor Bruno, a contratação do Anselmi, o salário do Anselmi. Se calhar, gastou-se mais do que era o salário do Sérgio Conceição. Temos também o caso do Pepe, alegavam que o seu salário também era demasiado alto, mas depois a coerência não existe, há algo aqui que não bate certo. Porque se vai gastar 17 milhões de euros a contratar Nehuén Pérez, mas para mim o Pepe é um dos melhores capitães e jogador não só do FC Porto, mas também do futebol mundial. Mesmo apesar da idade que tinha, penso que seria uma mais-valia, uma liderança em campo, que falta atualmente. Seria uma mais-valia não só para o balneário, mas também para a defesa do FC Porto. Estou convicto que com o Pepe em campo não aconteceriam estes resultados com o Benfica e outros.» 

Legado do avô

«Tínhamos um presidente a dizer que ia conquistar a Liga Europa e ao mesmo tempo o treinador Vítor Bruno a dizer que tínhamos uma equipa muito jovem, que era preciso ir com calma. A comunicação entre presidente e treinador não era a mesma. Depois já se ia fazer vitrines para o campeonato do Mundo de clubes. Segundo palavras de André Villas-Boas era obrigação desta Direção ser campeã no primeiro ano. Tudo bem, mas com que projeto, com que equipa, com que treinador? Nunca nos foi apresentado verdadeiramente o plano, a ideia. Depois, despediu-se o Vítor Bruno por causa dos resultados, tinha perdido a equipa, a questão do Pepê. Tudo bem, contratou o Anselmi, é uma decisão do presidente, sabíamos o modelo em que ele jogava, o mercado ainda estava aberto. Toda a gente sabe que o atual plantel é curto para o sistema de jogo que Anselmi utiliza. Que soluções arranjámos para ajudar Martín Anselmi a ter o sistema de jogo que aposta? Nada! Perdemos o Nico González, que era uma venda mais do que anunciada, e não se arranjou uma solução. Perdemos o Galeno, que seis meses antes já sabíamos que o íamos perder. E não se arranjou solução nenhuma.»

Ordenado de Pinto da Costa

«Era público o ordenado que ele recebia, que o engenheiro Luís Gonçalves recebia, que o Vítor Baía recebia, que os responsáveis do futebol recebiam. Todos sabiam porque eram informações públicas e agora que tanto alegam que existe uma transparência nós não sabemos quanto ganha o Zubizarreta, não sabemos quanto é que ganha o Jorge Costa e ainda não sabemos quanto é que custou o próprio Anselmi. Portanto, a transparência é muito seletiva. Esta Direção está muito focado em atacar sócios, perdeu-se um bocadinho o Norte, não só na questão financeira. Ter dinheiro é importante, porque com dinheiro podemos contratar melhores jogadores, melhores treinadores, ter melhores instalações e estar mais perto daquilo que é o objetivo, que é ganhar. Agora o dinheiro é um meio para atingir esse fim. O FC Porto nunca foi um clube rico e conquistou a Europa e o Mundo.»

Desunião e falta de mística

«O meu avô sempre foi alguém que conseguiu unir, conseguiu agregar os portistas contra aqueles continuam a ser os principais rivais e as lutas que o FC Porto tem. Os inimigos não estão cá dentro, não são os associados, a prioridade não pode ser suspender e expulsar sócios, a prioridade é a luta contra o centralismo, contra o Benfica e o Sporting, esses sim são os nossos rivais. O presidente Pinto da Costa lutou até ao fim, foi fiel aos seus princípios e naquilo em que acreditava até aos seus últimos dias. Batalhou até ao fim por aquela que era a sua grande paixão, o FC Porto. Cabe-nos a cada um de nós respeitar e honrar e partilhar também este legado que é enorme de alguém que pegou num clube que tinha todas as dificuldades e tem e fez dele campeão europeu e mundial e elevou-o a um patamar europeu e mundial. Ele nunca fez questão de usar a sua doença como bandeira, nunca se quis fazer de coitadinho, aliás não era pública a sua doença. Os próprios familiares, nos quais me incluo, também não sabiam. Até nessa questão ele sofreu sozinho para nos libertar um bocadinho dessa dor e foi um campeão. Ele a única coisa que queria era acabar os sonhos e projetos que ele ainda tinha para o FC Porto. Estou plenamente convencido de que se ele tivesse ganho as eleições esta época teria sido muito melhor. A prioridade do meu avô sempre foi a vertente desportiva. Evidentemente que é melhor ter dinheiro do que não ter. Agora, algum adepto portista se sente verdadeiramente representado e identificado e liga a televisão agora para ver o FC Porto e diz: ‘este é o meu Porto, sinto-me identificado e representado, isto é que é ser Porto, eu nasci a ver o FC Porto a ser assim’? Não adianta se temos 20 milhões de lucro ou prejuízo. O FC Porto e os adeptos não querem festejar contas bancárias, querem festejar títulos, querem ir para os Aliados, querem uma boa representação dos jogadores do FC Porto em campo. E isso não tem sido feito! Faz parte e é futebol, a bola bate no poste e entra ou bate no poste e sai, agora o que não pode faltar é a raça, a mística, que é o que falta atualmente no FC Porto. E o exemplo tem de vir de cima, não se pode culpar única e exclusivamente os jogadores porque quando se fala de identidade e mística, o exemplo tem de vir de cima»

Contratação de Anselmi

«Não se pode apostar as fichas todas num treinador que não tem provas dadas, que, na minha opinião, não é treinador para o FC Porto. Ninguém conhecia o Anselmi, nunca veio à Europa, algum de nós conhecia o Anselmi, muito honestamente? Supondo que o FC Porto vai pagar a cláusula mais baixa dele, que é creio 3 milhões ou 3 milhões e meio, alguém se recorda de um treinador que tenha custado isso ao FC Porto? Fora o salário que pode custar e tudo o mais... Estamos a falar seguramente de um dos treinadores mais caros da história do clube. Será que a qualidade é equiparável àquilo que se pagou? Como se pode dizer a um treinador que não tem o lugar em causa e que para o ano será o treinador, independentemente do que ele possa fazer em jogos com o Benfica, que é sempre importantíssimo, com toda o resto da época, em que pode terminar num terceiro ou quarto lugares, ou até um segunda, pois matematicamente é ainda possível, mas difícil? Ainda há um Mundial de Clubes pela primeira vez e vai-se dizer ao treinador que o lugar dele não está em causa e o lugar dele está seguro para o ano? Isto liberta-o de qualquer pressão, é verdade, mas assim ele pode fazer o que quiser. E foi o que aconteceu, levámos quatro do Benfica, mas para o ano ele é o treinador. E é esta a mensagem que se passa»

Francisco Conceição

«A forma como foi conduzido o processo levou a que tivéssemos de emprestar o Francisco Conceição. Quem gosta de futebol basta ver um jogo para perceber que ele é um fora de série. Que condições pode ter Francisco Conceição para jogar no FC Porto com uma Direção que tratou mal o próprio pai com o treinador que o substituiu da forma como substituiu. Não tem condições, foi tudo mal gerido»