Custódio Castro, treinador SC Braga B, recordou os seus tempos de jogador, numa viagem pela sua carreira que contemplou títulos nacionais e na qual conseguiu brilhar ao mais alto nível pela Seleção Nacional, nomeadamente, no Europeu 2012 da Polónia e da Ucrânia. Também mencionou que a ida para a Rússia (Dínamo Moscovo) pode ter sido algo precipitada, mas que apreciou bastante o facto de ter tido a oportunidade de terminar a sua carreira na Turquia.

- Quatro épocas e meia como jogador do SC Braga. Qual foi o melhor momento?

- Tenho muitos momentos ótimos, como a conquista da primeira Taça da Liga, em 2013. Também a época em que chego, em que participaram na Liga dos Campeões, sendo que chego no final do mercado e aí a equipa transita para a Liga Europa em que alcançámos a final. Claro que o golo ao Benfica, nas meias finais, é um momento marcante. Também a representar o SC Braga ter participado no Europeu 2012 foi outro dos grandes momentos. Ainda ter sido companheiro de jogadores de enorme qualidade, ter sido um dos capitães, ter jogado para os treinadores que foram fantásticos e para o presidente António Salvador que é um dos dirigentes que vai marcar uma era no futebol português. Foram quatro anos e meio fantásticos.

- Recuando aos tempos do Sporting lanço-lhe o mesmo repto, qual foi o melhor e o pior momento?

- Ainda muito jovem acabei por fazer parte da equipa campeã em 2001/02, com o Lazlo Boloni, que ainda ganha a Taça de Portugal e a Supertaça. A conquista da Taça, em 2007, com o Paulo Bento, a final da Taça UEFA, em 2005, que perdemos em casa com o CSKA Moscovo. Tudo momentos fantásticos, num clube que estava numa fase diferente que também me ajudou naquilo que era a minha formação enquanto jogador, sendo que é um clube que respeito muito. Pelo lado menos positivo, tive ali umas lesões que atrasam sempre o desenvolvimento.

- Como é que se vive com as lesões, nomeadamente, a nível mental?

- É terrível! Um jogador lesionado é completamente diferente, ou seja, muda toda a rotina, aumenta o volume de trabalho, mas não pode jogar futebol e todos os jogadores querem é jogar. É muito difícil ficar afastado do campo e eram momentos que custavam mesmo muito. O tempo custava a passar, parecia quase uma temporada, às vezes apenas num espaço de um mês. São coisas que não controlas, mas pelas quais não queres passar.

Vive ali um período com Dias da Cunha como presidente, depois a mudança para Soares Franco, sendo o início de várias alterações diretivas. Imaginava que o Sporting iria demorar tanto tempo para voltar a ser campeão?

- A competição é sempre grande. Olhando para trás, agora é mais fácil pensar sobre isso, mas na altura apenas se quer ser campeão e acredita-se sempre que vai ser no próximo ano. Não imaginaria que iria passar tanto tempo, também não pensava que essa troca de presidentes poderia trazer algum desequilíbrio em relação aquilo que era a estrutura.

- Internacional português em dez ocasiões. Sente que merecia mais? Foram dos melhores momentos da sua carreira como jogador?

- Foi o que tinha de ser. Tenho um histórico de Seleção Nacional, desde os sub-15 até aos sub-21, sendo que fomos campeões da Europa em sub-16, ganhámos Toulon, participações em Europeus sub-21. Depois há uma passagem para a equipa principal, sendo que tinha sido convocado, ainda pelo Scolari, na época 2004/05 para dois amigáveis, mas depois por um ou outro motivo acabou por não acontecer e apareci mais à frente no Euro’2012. Era um sonho jogar na seleção principal. Em termos de gerações, Portugal sempre teve grandes jogadores para o meio-campo e, por isso, seria sempre difícil jogar. Ainda bem que o fiz, não importa se foram dez ou trinta.

- Marcar presença numa grande competição, como fez no Euro’2012 da Ucrânia e da Polónia, foi algo importante para si?

- Era um sonho jogar por Portugal numa grande competição e ao lado de grandes jogadores como Cristiano Ronaldo, Quaresma, Nani ou João Moutinho. Pena que tenhamos caído nas meias finais, com a Espanha, em penáltis, mas foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira sem dúvida alguma. Representar o país é sempre motivo de orgulho.

- Saída para o Dínamo Moscovo foi uma decisão fácil? Como foi essa experiência? Algum episódio mais caricato?

- Foi um negócio que se fez entre clubes, na altura foi interessante em termos financeiros para o clube e para mim, sendo que foi uma decisão que se veio a revelar um bocadinho errada em termos desportivos. Se fosse hoje, se calhar não tinha optado por esse caminho, mas no momento é muito mais difícil tomar decisões e é assim a vida. É um país frio, se bem que até evoluiu muito o campeonato russo até há três ou quatro anos. Mas, quando lá cheguei senti que o futebol também era frio, tal como as pessoas, era difícil lidar e um jogo físico que nem era agradável de se ver.

- Decide terminar a carreira na Turquia, no Akhisar, por algum motivo em particular? Também passou por alguma peripécia?

- Aí foi fácil, pois já surge num contexto de final de carreira e é um país muito agradável. Venho dizendo que os jogadores portugueses ou que joguem em Portugal se se puderem transferir para a Turquia podem tirar grande proveito. É um país lindíssimo que adora futebol e onde é fácil viver. Gostei muito e finalizar a carreira na Turquia foi bom para mim.

Todas as rivalidades são boas, as que sejam saudáveis e com equilíbrio

- É natural de Guimarães, passou pela formação do Vitória, vem de lá para o SC Braga. Foi complicado para si, para a sua família e amigos?

- Nunca foi complicado. Sempre existiu respeito, pois fui alguém do futebol que lutou e respeitou as pessoas que me fizeram bem, acreditaram em mim e nunca tive nenhum momento complicado, em relação a essa mudança.

- Tendo estado por dentro, como experiencia esta rivalidade minhota?

- Todas as rivalidades são boas, as que sejam saudáveis e com equilíbrio. Um Vitória-SC Braga é fundamental, tal como um Sporting-Benfica, um Sporting-FC Porto e um FC Porto-Benfica. Pudéssemos ter aqui em Portugal mais deste tipo de rivalidades, pois olhando para o que se passa em Inglaterra com os dérbis de Londres ou de Manchester, com várias equipas que fazem do futebol cada vez mais competitivo e agradável para os adeptos e é um bocadinho isso que poderíamos ter cá. Se pudesse mudar alguma coisa no futebol português, era trazer um pouco dessa cultura que se vive em Inglaterra para cá. Só isso!