Pep Guardiola é um nome que toda a gente conhece. Adorado por muitos, anunciou que a época que se inicia será a última antes de fazer uma pausa por tempo indeterminado, fruto das dificuldades sentidas nas épocas mais recentes do Manchester City, onde o seu talento foi questionado não só por adeptos do City, mas também por muitos na comunidade futebolística.


A verdade é que a superioridade tática e inteligência de jogo deste grande treinador, nunca deveria ter sido posta em causa. Os maus resultados deram pena a quem sempre seguiu o caminho do City, mas ainda têm esta época para tentar limpar a mancha que os assombrou. Guardiola já encantou três dos grandes campeonatos europeus: La Liga, Bundesliga e Premier League.

Foi em Espanha que começou o seu percurso, e, após uma época lendária no Barcelona, dominou também a Bundesliga, com o Bayern de Munique, antes de assumir o comando do Manchester City em 2016.


Desde então, transformou os cityzens num modelo de futebol ofensivo e dominante, impulsionado por um sistema tático brilhante que elevou o clube a novos patamares europeus. Guardiola foi contratado pelo City numa ambição clara: instalar uma filosofia de posse de bola, precisão e controlo, algo que implementou com mestria em toda a sua era.

A grande assinatura de Guardiola é o chamado “jogo posicional” ou positional play. A equipa procura controlar o tempo do jogo, ocupando espaços, criando triangulações enquanto “cozinha” a jogada, e confundindo o adversário até ter uma oportunidade de passar, seja pelas laterais ou pelo centro.

O estilo é construído em posse de bola, pressão imediata após perda de bola (counter-press), e materialização rápida da vantagem no terreno de jogo. Este estilo foi um marco no futebol inglês, diferenciando-o dos treinadores e equipas rivais, que dependiam de respostas mais reativas, do que de um plano estruturado desde a defesa.

Apesar da estética e eficácia do seu estilo, Guardiola enfrentou uma série de contratempos e desafios que levaram à pior prestação dos últimos anos: teve de lidar com lesões cruciais, sobretudo de Rodri, aquele que era o maestro que equilibrava o guarda-redes e o ataque. Esta baixa significativa deixou o meio-campo sem uma base estável.

Também o desgaste emocional e físico de uma agenda incrivelmente intensa, que Guardiola chegou, inclusive, a comparar à de uma época de NBA. Isso levou a lesões de figuras-chave como De Bruyne e Rodri.

Ao longo da época, a equipa pareceu perder o controlo que tanto a caracterizou. Pressionar deixou de ser estratégia, o meio-campo cedeu espaço, e o City não conseguiu responder em jogos decisivos.

Consequentemente, houve ainda o declínio na liga milionária e ausência de troféus: eliminação precoce na Liga dos Campeões (pela primeira vez antes dos oitavos) e a falha na conquista de qualquer troféu importante, o que se traduziu num golpe histórico após anos de domínio.

Em termos pessoais, Pep Guardiola admitiu sentir “exaustão” após 17 anos ao mais alto nível e considerou necessário parar e cuidar da sua saúde mental e física.

Mas para animar os fãs de bom futebol, apesar das dificuldades, Guardiola renovou o contrato até 2026. Contudo, confessou que a próxima época será a última antes de uma pausa indefinida. O treinador revelou que não sabe quanto tempo estará longe, mas deixou claro que precisa cuidar de si mesmo.

A sua fadiga é palpável, uma vez que não é qualquer um que aguenta 17 anos de pressão contínua. Aprendemos, ao longo das décadas, que até os maiores treinadores enfrentam um momento de transição (Ferguson foi uma rara exceção).

No entanto, teremos ainda a época 2025/26, para aproveitar a magia que Guardiola ainda guarda, seguramente, na manga. Por muito que os resultados não estejam a acompanhar a carreira de sucesso que sempre teve, não há ninguém que questione que Pep Guardiola foi e será um dos melhores treinadores das últimas décadas.

Se esta é, de facto, a última temporada antes de parar, o legado permanece intacto: revolucionou o futebol inglês e europeu, colocou o City num patamar global, e mostrou que uma equipa pode, ao mesmo tempo, ser eficaz e artística. Mas até os visionários precisam de respirar, e, talvez, esteja na hora de Guardiola fazer o mesmo.