O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Ainda que tenha duas subidas de divisão em Chipre, nem tudo foi um mar de rosas na passagem de Fábio Martins pela ilha do Mediterrâneo. Na sua primeira experiência no país, ao serviço do Olympias Limpion, o médio-ofensivo sentiu dificuldades a partir do momento em que aterrou no país.

«A primeira metade da época foi um desastre. Eu e o o meu colega chegámos e deixaram-nos logo uma hora à espera no aeroporto com um calor terrível. Entretanto vieram buscar-nos, assinámos o contrato e meteram-nos num contentor com um beliche. O tempo foi passando, até que ligámos ao empresário a perguntar pela casa onde era suposto ficarmos. Diz-nos ele "Casa? Mas é essa...". O meu colega já queria voltar para Portugal, mas eu liguei ao empresário, disse-lhe que íamos para um hotel e assim fizemos. O tempo foi passando e estávamos lá, mas chegou um dia em que o dono do hotel estava à nossa espera à porta e disse-nos "Onde é que vão? O presidente ainda não pagou, portanto têm de sair"», começou por contar, explicando depois o próximo passo que deu:

Fábio Martins
1 títulos oficiais

«Depois meteram-nos numa casa terrível que era de um diretor do clube, sendo que, pouco depois, o meu colega não aguenta e vai embora. Eu já tinha passado por algumas situações, então tinha na cabeça que tinha de ser forte. Fiquei nessa casa duas semanas e depois fui viver com um colega português que jogava na mesma divisão e que tinha uma casa com dois quartos. Nessa altura já estávamos com salários em atraso, mas a verdade é que as coisas estavam a correr muito bem à equipa e ninguém sabia como. Havia jogadores a viver nos contentores, onde chovia e fazia muito calor, tínhamos salários em atraso e, mesmo assim, chegámos a estar em primeiro lugar.»

A mudança para o Karmiotissa Polemidion, que viria a sagrar-se campeão, aconteceu a meio da época, mas não sem antes haver mais uma dose de drama adicionada à equação.

«Eu fui-me destacando e alguns clubes demostraram interesse em mim, mas o meu presidente ligava a esses clubes e dizia "É só para vos avisar que meto o vosso clube na FIFA se tentarem alguma coisa com o Fábio". O clube onde o meu colega de casa jogava também foi ameaçado e eu tive de sair de casa dele. Ou seja, tive de ir para os contentores e fiquei lá um mês a viver. Aquilo era insuportável, ninguém imagina: havia malta a dormir no chão. No entanto, até certo ponto, estávamos sempre a rebentar com eles. A minha situação ficou resolvida quando o Karmiotissa Polemidion me contratou: depois fui campeão, conheci a minha esposa e foi tudo uma maravilha», rematou Fábio Martins.

Siga o '4 Cantos do Mundo':